A realização de um exame de imagem dos órgãos reprodutores femininos internos (incluindo o útero, ovários e trompas de Falópio) está indicada no diagnóstico de queixas ginecológicas comuns, mais frequentemente em casos de hemorragia anormal, dor pélvica e para avaliação de massas, anomalias congénitas e infertilidade. Quase sempre a modalidade imagiológica de 1ª linha é a ecografia, enquanto a RMN está normalmente reservada para casos complicados ou inconclusivos como forma de follow-up. A tomografia computadorizada quase nunca é usada na avaliação ginecológica primária. No caso de serem normais, as trompas de Falópio não são visíveis nem na ecografia, nem na RMN. A melhor forma de avaliar a permeabilidade tubária é através de uma histerossalpingografia, exame fluoroscópico no qual é injetado contraste na cavidade uterina, seguindo-se do estudo de como este flui através das trompas de falópio.
Órgãos ginecológicos internos frequentemente avaliados por imagiologia
Útero
Ovários
Trompas de Falópio
Métodos imagiológicos de escolha em ginecologia
Ecografia: quase sempre o estudo inicial de escolha
Ressonância magnética pélvica: normalmente reservada para casos inconclusivos com a ecografia
Histerossalpingografia (HSG): um exame fluoroscópico utilizado para avaliar a permeabilidade tubária
Nota sobre a TC:
Geralmente não é utilizada como método de imagem para os órgãos reprodutores femininos (pior resolução que a ecografia)
Pode estar indicada como parte de uma investigação oncológica, na procura de evidência de metastização para os gânglios ou outros órgãos abdominais
A patologia ginecológica pode ser identificada na tomografia computadorizada (por exemplo, durante uma investigação no SU por dor abdominal inferior) → em seguida, tipicamente realiza-se uma ecografia para melhor avaliação
Preparação
Antes da interpretação de qualquer exame de imagem, o médico deve realizar alguns passos preparatórios. Deve seguir-se sempre a mesma abordagem sistemática:
Confirmar o nome, data e hora em todas as imagens.
Obter a história clínica e realizar o exame objetivo.
Confirmar qual o exame e a técnica adequados para a patologia desejada.
Comparar com quaisquer imagens disponíveis da mesma região e na mesma modalidade imagiológica.
Determinar a orientação da imagem:
Marcador direito ou esquerdo no raio-X
Na ecografia, o modo padrão de visualização coloca um marcador (ponto) à direita.
Na TC/RMN: na incidência axial, a imagem é cortada e vista de baixo para cima (como se estivéssemos a olhar para cima através dos pés).
Ecografia
Indicações
A ecografia (ou sonografia) é quase sempre a modalidade imagiológica de escolha na avaliação dos órgãos reprodutores femininos internos. As indicações incluem:
Suspeita de massas ováricas ou das trompas de Falópio:
Quistos
Neoplasias malignas
Gravidez ectópica
Hemorragia uterina anormal:
Alterações menstruais, incluindo irregularidades na frequência, duração e volume
Na gravidez
Hemorragia pós-menopausa
Dor pélvica (para procurar causas estruturais)
Avaliação da presença e localização de dispositivos intrauterinos (DIUs)
Avaliação de alterações congénitas
Infertilidade
Avaliações de rotina na gravidez:
Datação
Comprimento do colo do útero
Avaliação anatómica, do fluido, do crescimento e da posição fetais
Auxílio visual para outros procedimentos invasivos, incluindo:
Aspiração de óvulos para fertilização in vitro
Aspiração de líquido pélvico
As indicações obstétricas incluem:
Amniocentese
Amostra das vilosidades coriónicas
Vantagens
Baixo custo
Ausência de radiação
Facilmente disponível
Rápido
Muito boa visualização do útero e ovários
Desvantagens
Menor resolução do que a ressonância magnética
Operador dependente
Tipos de estudos e técnicas de rotina
Ecografia transvaginal (TVUS, pela sigla em inglês):
Permite a melhor visualização das estruturas reprodutoras femininas localizadas na pelve
Posição: litotomia dorsal
O transdutor é colocado dentroda vagina.
O transdutor está normalmente:
No ou abaixo do colo do útero
Inclinado ligeiramente para cima para visualizar os órgãos reprodutores
Ecografia transabdominal (TAUS, pela sigla em inglês):
Posição: supino
Realizada com a bexiga cheia (afasta as ansas intestinais e permite uma melhor visualização do útero)
O transdutor é colocado na parte inferior do abdómen.
Melhor para visualizar estruturas acima da pelve verdadeira, como:
Um útero aumentado (por exemplo, durante a gravidez)
Grandes quistos ou miomas que se estendem para fora da pelve
Útil em pessoas que não toleram exames transvaginais
Profundidade e ganho:
Determina o campo de visão e as características ecogénicas do tecido
O ganho deve ser colocado de forma a que o parênquima seja visualizado sem saturar (“branquear”) muito sinal.
Ecografia transvaginal em incidência sagital do útero: A maior parte da estrutura é composta de miométrio normal e homogéneo. O endométrio é a faixa mais hiperecoica (mais clara) no meio. A espessura endometrial é medida perto do fundo uterino e obteve-se o resultado de 7,1 mm, o que é normal em mulheres em idade reprodutiva.
Imagem : “Transvaginal ultrasonography after an episode of heavy bleeding in a 24 year old woman” pelo Mikael Häggström. Licença: CC0 1.0
Modalidades e técnicas avançadas
Ecografia com Doppler:
Utilizada para avaliar o fluxo sanguíneo:
Nos ovários durante a avaliação da torção ovárica
Numa massa anexial, ao avaliar uma gravidez ectópica e/ou neoplasias
No sistema cardiovascular fetal e na uteroplacenta
O fluxo é frequentemente demonstrado como:
Uma onda contínua
Aparece um mapa de cores, sobreposto às imagens padrão da ecografia
Ecografia cominfusão salina (SIS) (também apelidada de histerossonografia):
Posição: litotomia dorsal
Colocação de um cateter na cavidade endometrial.
Uma sonda de TVUS é inserida na vagina.
Enquanto se realiza uma TVUS, a solução salina estéril é injetada na cavidade endometrial em tempo real:
A solução salina distende a cavidade, permitindo a avaliação de lesões intracavitárias.
Embora o fluido extravase através das trompas de Falópio, estas são demasiado finas para permitir que seja visualizado o fluxo na TVUS.
Ecografia tridimensional (3D):
Geração de uma imagem 3D através do computador
Especialmente útil durante:
SIS
Avaliação de alterações uterinas fetais e/ou congénitas (CUAs, pela sigla em inglês)
Ecografia com infusão salina (SIS, pela sigla em inglês): A solução salina estéril instilada na cavidade uterina é anecoica (corresponde à porção central escura da imagem); delineia a cavidade endometrial. Nesta imagem observa-se um endométrio normal (faixa hiperecoica/mais brilhante em redor da cavidade) sem alterações focais. O endométrio é circundado pelo miométrio que se estende quase até a borda direita da imagem.
Imagem : “Normal hysterosonography” pelo Mikael Häggström. Licença: CC0 1.0
Interpretação e avaliação
As estruturas são avaliadas nos planos sagital e transversal.
Devem ser medidos os seguintes tamanhos:
Tamanho uterino nos 3 planos (longitudinal, transversal, anterior/posterior)
Espessura do endométrio (varia consoante o estadio do cliclo menstrual)
Comprimento do colo do útero
Tamanho do ovário nos 3 planos e calcular o volume total
Observar a posição uterina: por exemplo, antefletida, antevertida, posição média, retrovertida ou retrofletida
Observar a presença de qualquer líquido livre na pelve (pequeno, moderado, significativo).
Ter em atenção que:
Se forem normais, as trompas de Falópio não são visíveis na ecografia (embora massas nestas o sejam).
Numa mulher na pós-menopausa, se forem normais, os ovários geralmente não são visíveis na ecografia (demasiado pequenos para serem inequivocamente encontrados).
Observar quaisquer lesões ou anomalias, incluindo:
Massas
Coleções de fluido
Alterações da ecogenicidade
Alterações estruturais
Ecografia normal do útero no plano sagital: Observar a fina faixa endometrial, medindo 0,34 cm, o que seria normal tanto em mulheres na pré-menopausa quanto na pós-menopausa. Imagem de Hetal Verma, MD.
Ecografia normal do ovário: Os limites do ovário estão delimitados pelos marcadores brancos. Este ovário mede 3,67 x 2,22 cm, o que é normal numa mulher na pré-menopausa.
Imagem de Hetal Verma, MD.
Ressonância Magnética
Indicações
Embora a RNM pélvica raramente seja um exame de 1ª linha, é geralmente solicitada para melhor visualização das alterações identificadas na ecografia. Algumas razões para solicitar uma ressonância magnética pélvica incluem:
Diferenciação entre lesões benignas e malignas, por exemplo:
Leiomioma (miomas benignos) versus leiomiossarcoma
Cistoadenomas ováricos versus cistoadenocarcinomas
Melhor caracterização das CUAs
Outras lesões inconclusivas descobertas incidentalmente na ecografia e TC
Auxiliar o planeamento pré-operatório (por exemplo, na histerectomia)
Vantagens
Fornece imagens com maior detalhe, particularmente, dos tecidos moles (por exemplo, pode identificar gordura numa massa anexial, o que sugere que seja um quisto dermoide)
Ausência de radiação
Pode ser utilizada na avaliação de patologias em mulheres grávidas
Desvantagens
↑ Custo
Demora muito mais tempo a ser realizada do que a ecografia (ou TC)
Menor disponibilidade
Não é adequada em todos os casos:
Os implantes (principalmente de metal) distorcem a imagem.
Requer que a doente esteja num espaço fechado e barulhento
A doente deve permanecer parada para a aquisição de imagem ser adequada.
Posicionamento
Supinação sobre a mesa
A mesa move-se em direção ao aparelho.
A doente é instruída a permanecer imóvel durante a realização do exame.
Tipos de imagens
Ponderada em T1 (T1):
A gordura (por exemplo, um lipoma) é clara/branca.
A água (por exemplo, um quisto simples) é escura/preta.
Ponderada em T2 (T2):
A gordura ainda aparece como clara.
A água também aparece clara/branca.
Imagens orientadas em “fatias” 3D:
Coronal
Sagital
Axial
Tabela: Características dos tecidos na RMN ponderada em T1 versus T2
Tecido
Imagens ponderadas em T1
Imagens ponderadas em T2
Fluido
Escuro
Claro
Gordura
Claro
Claro
Inflamação
Escuro
Claro
Interpretação e avaliação
A interpretação deve seguir um padrão sistemático e reprodutível:
Observar a “continuidade” das estruturas ao percorrer as “fatias” da imagem.
Idêntica à avaliação ecográfica:
Medições padrão
Orientação uterina
Comentar acerca da presença de fluido livre na pelve.
Ter em atenção a presença de quaisquer lesões ou anormalidades.
Achados Normais na Ecografia e RMN
Tamanho (um útero normal não tem valores de corte definidos):
Tamanho uterino aproximado numa mulher em idade reprodutiva: 8 cm x 4 cm x 4 cm + 1 cm em qualquer direção
Menor em mulheres na pós-menopausa
Formato: contorno normal (forma em pêra invertida com uma curvatura suave do fundo uterino)
Miométrio: homogéneo
Espessura endometrial:
Aparência:
Na ecografia: uma fina linha hiperecoica dentro do miométrio
Na RMN: semelhante ao fluido → mais escuro em T1, mais claro em T2
Durante a menstruação: 2‒20 mm consoante o momento do ciclo menstrual
Mulheres na pós-menopausa: ≤ 4 mm
Ausência de hemorragia
Um endométrio ligeiramente mais espessado pode ainda ser normal.
Se ≥ 5 mm com hemorragia na pós-menopausa → é necessária uma biópsia endometrial para descartar neoplasia
Ovários:
Aproximadamente 4 cm x 2 cm x 1 cm durante a idade reprodutiva
Volume < 10 mL
Normalmente estão presentes folículos (pequenos quistos) durante os anos reprodutivos
Na ecografia: fluxo no Doppler normal, simétrico e bilateral
Trompas de Falópio: se normais não são visualizadas
Líquido livre: pequena quantidade de líquido hipoecoico simples na pelve (difícil de medir inequivocamente)
Achados Anormais e Outros Achados Incidentais na Ecografia e RMN
Quistos simples e/ou foliculares
Um quisto simples refere-se a qualquer coleção de fluido com:
Ausência de septo
Ausência de componentes sólidos
Paredes finas
Pode ser grande
Os quistos foliculares representam folículos normais em desenvolvimento:
Um tipo de quisto simples
Normalmente, um folículo dominante emerge vários dias antes da ovulação, com 2 a 3 cm de tamanho.
Tabela: Achados imagiológicos adicionais sugestivos de quistos simples/foliculares
Características ecográficas
Características na RMN
Anecoico
Ausência de aumento do fluxo vascular no Doppler
Rodeado por tecido ovárico normal
Homogéneo
T1: sinal de baixa intensidade (escuro)
T2: sinal de muito alta intensidade (claro)
Pós-contraste: realce de parede fino e inexpressivo
Ecografia de uma mulher com síndrome de hiperestimulação ovárica (OHSS, pela sigla em inglês), onde se observa um ovário poliquístico aumentado de tamanho. Esta doente estava a ser submetida a estimulação ovárica, como parte de tratamentos de fertilidade. Todos os quistos aqui visualizados são quistos simples.
Imagem : “Ultrasonographic examination revealed bilaterally enlarged multicystic ovaries” pelo Yildizhan R. et al. Licença: CC BY 2.0Quisto simples isolado:
É de notar o realce hiperecoico da parede posterior. As medidas nos 3 planos estão anotadas no canto inferior direito, indicando que o quisto tem aproximadamente 4,7 cm x 3,3 cm x 4,8 cm.
Imagem : “Follicular ‘physiological’ cyst” pelo Sayasneh A. et al. Licença: CC BY 3.0
Quisto de corpo lúteo
O corpo lúteo corresponde ao “folículo vazio” após a ovulação.
Produz a progesterona necessária para manter a fase inicial da gravidez
Corresponde a um achado normal durante a 2ª metade do ciclo menstrual em mulheres que ovulam
Tabela: Achados imagiológicos sugestivos de quistos de corpo lúteo
Características ecográficas
Características na RMN
Realce espesso
Geralmente mede até 3 cm (embora possa atingir tamanhos de até 15 cm)
Presença de fluxo periférico no Doppler (“anel de fogo”)
Pequena região radiolucente central com ecos internos
Realce intenso da parede após administração de contraste
Ecografia de um quisto de corpo lúteo com paredes espessas e coloração do fluxo periférico com Doppler
Imagem de Hetal Verma, MD.
Quisto hemorrágico
Hemorragia dentro de quistos foliculares ou de corpo lúteo
Resolve espontaneamente em 1‒2 ciclos menstruais
Tabela: Achados imagiológicos sugestivos de quistos hemorrágicos
Características ecográficas
Características na RMN
Quisto complexo de parede fina
Múltiplos ecos internos curvilíneos, finos e de baixo nível dispostos num padrão reticular ou rendilhado
T1: iso a hiperintenso (médio a claro)
T2: hiperintenso (claro)
Realce fraco ou ausente com a administração de contraste
Altamente variáveis consoante o tempo decorrido desde o evento hemorrágico
Imagens ecogáficas de um quisto hemorrágico: À esquerda, observa-se o padrão reticular ou rendilhado de ecos, que representam fios de fibrina de um coágulo recém-formado dentro de um quisto hemorrágico (A). À direita, há uma área hipoecoica onde o coágulo iniciou o processo de reabsorção (B).
Imagem : “The cob-web sign” pelo Sayasneh A. et al. et al. Licença: CC BY 3.0
Imagem ecográfica de um quisto ovárico hemorrágico, provavelmente com origem num quisto de corpo lúteo: É possível distinguir o local hemorrágico através da textura granulosa e da maior ecogenicidade que apresenta, em relação ao fluido na periferia do mesmo, o que se assemelha a crescentes escuros.
Imagem : “Hemorrhagic ovarian cyst postpartum” pelo Mikael Häggström. Licença: CC0 1.0
Mulher de 60 anos com um quisto ovárico hemorrágico comprovado pela histologia: (a) Imagem axial ponderada em T1, onde se observa uma massa quística não homogénea com sinais predominantemente isointensos na região anexial direita. (b) Na imagem sagital ponderada em T2, o componente quístico do tumor é homogeneamente hiperintenso, enquanto os restos dos componentes hemorrágicos são predominantemente isointensos, mimetizando a morfologia de vegetações na parede. (c) Nas imagens ponderadas em T2 com supressão da gordura, o sinal exibido pela massa é semelhante ao observado em (b), sugerindo que o tecido é líquido e não gordura. (d) A lesão apresenta um realce fraco e marginal no exame de imagem ponderado em T1 com supressão de gordura e administração de contraste.
Imagem : “A 60-year-old female patient with histological proven hemorrhagic ovarian cyst” pelo Zhang H. et al. Licença: CC BY 2.0
Endometrioma
Um endometrioma corresponde à presença de tecido endometrial no ovário.
É um tipo de endometriose
Ao contrário dos quistos hemorrágicos, os endometriomas não se resolvem espontaneamente em 1 a 2 ciclos menstruais.
Tabela: Achados imagiológicos sugestivos de endometriomas
Características ecográficas
Características na RMN
Ecos internos de baixa intensidade, geralmente com aparência de vidro fosco
Com/sem septações
Mal vascularizado
Aparência muito semelhante a um quisto hemorrágico recém-formado
T1: hiperintenso (mais claro)
Permanece claro em imagens ponderadas em T1 saturadas em gordura
T2: hipointenso (mais escuro)
Tabela: Achados na RMN que diferenciam um endometrioma de um quisto hemorrágico
Quisto hemorrágico
Endometrioma
T1
Claro
Claro
T2
Claro
Escuro
Resolução
Dentro de 1 a 2 ciclos menstruais → desaparece no exame de follow-up
Não resolve espontaneamente → persiste no exame de follow-up
Aparência ecográfica de um endometrioma típico: Quisto unilocular com conteúdo em “vidro fosco” (A), pouco vascularizado ou avascular no exame com Doppler (B)
Imagem : “The sonographic appearances of typical endometrioma” pelo Pateman K. et al. Licença: CC BY 4.0
Imagens no plano sagital, ponderadas em T2 (a) e em T1 com supressão da gordura (b), onde se observa um endometrioma grande e típico do ovário esquerdo (seta grande), com um foco hemorrágico satélite na parede anterior da lesão (seta pequena)
Imagem : “Sagittal (a) T2-weighted fast SE image (repetition time msec/echo time msec = 2940/66) and T1-weighted sagittal fast SE image (b)” pelo Bianek-Bodzak A. et al. Licença: CC BY 3.0
Quistos dermoides (teratomas quísticos maduros)
Um tipo de tumor benigno das células germinativas, composto por tecido das 3 camadas germinativas
Frequentemente contém gordura, o que é incomum noutros tipos de massas (facilita a identificação na RMN)
Imagem heterogénea
Com/sem calcificações (dentes)
Pode ser assimétrico por natureza → ↑ risco de torção ovárica
Tabela: Achados imagiológicos sugestivos de quistos dermoides
Características ecográficas
Características na RMN
Massa hiperecoica
Sombra acústica distal
Com/sem linhas e nódulos hiperecoicos
Níveis de fluidos não dependentes
T1: contém vários graus de gordura → a gordura é hiperintensa (clara) em T1
T1 com supressão de gordura: perda de sinal
T2: hiperintenso (claro)
Ecografia de uma massa ovárica heterogénea, que representa um quisto dermóide
Imagem por Lecturio.
RMN pélvica com um quisto dermoide do ovário esquerdo
Imagem : “Pelvic MRI confirming dermoid cyst of the left ovary” pelo The Pan African Medical Journal. Licença: CC BY 2.0
TC pélvica com um quisto dermoide do ovário direito medindo 36 mm x 37 mm
Imagem : “Pelvic CT showing dermoid cyst” pelo The Pan African Medical Journal. Licença: CC BY 2.0
Outras neoplasias ováricas
Neoplasias do ovário: crescimento a partir de uma única célula, que pode ser benigno (não invasivo) ou maligno (invasivo). As neoplasias do ovário são classificadas de acordo com a célula que lhes dá origem em tumores epiteliais, de células germinativas ou estromais (cada classe contendo múltiplos subtipos diferentes). Em relação aos achados imagiológicos, inclui-se:
Tumores heterogéneos multinodulares
Presença de projeções papilares num quisto
Componente(s) sólido(s)
Paredes espessas e irregulares
Septos
Fluxo vascular dentro das septações
Presença de ascite
Em casos de metastização pode-se visualizar:
Adenopatia
Nodularidade peritoneal e/ou omental
Cancro primário do ovário em estadio avançado: (A) Adenocarcinoma seroso do ovário multilocular com aumento da vascularização (B) Presença de depósitos peritoneais na bolsa reto-uterina visíveis, no decorrer de uma ascite significativa por cancro primário do ovário em estadio avançado
Imagem : “Advanced primary ovarian cancers” pelo Sayasneh A. et al. Licença: CC BY 3.0
Cistoadenoma mucinoso com variação da ecogenicidade entre os lóculos do quisto: É de notar a presença de múltiplas septações e componentes sólidos. Um cistoadenoma mucinoso é um tumor ovárico epitelial benigno que se pode tornar bastante grande.
Imagem : “A mucinous cystadenoma with variable echogenicity among the cyst locules” pelo Sayasneh A. et al. Licença: CC BY 3.0
RMN ponderada em T2 e aprimorada com uma massa anexial direita irregular e ascite A: plano sagital B: plano axial
Imagem : “Enhanced magnetic resonance imaging” pelo Rahman M. et al. Licença: CC BY 3.0
Torção ovárica
A torção do ovário refere-se à rotação aguda do ovário em torno do seu suprimento sanguíneo. Esta patologia apresenta-se com dor aguda e é considerada uma emergência cirúrgica (para “distorcer”/salvar o ovário). A avaliação passa geralmente apenas pela ecografia.
Associa-se geralmente a uma massa ovárica (frequentemente dermoide devido à sua natureza assimétrica)
Ovário heterogéneo e aumentado (geralmente > 4 cm)
Líquido livre na pelve
Com/sem avaliação do fluxo com Doppler (já que a torção pode ser transitória), mas a ausência de fluxo confirma a torção/indica isquemia
Frequentemente aparece como normal
Gravidez ectópica
Uma gravidez ectópica corresponde a uma gravidez fora do útero. Uma rutura desta pode resultar numa hemorragia ameaçadora de vida. Uma gravidez ectópica é quase sempre avaliada apenas com a ecografia.
Massa extra-ovárica heterogénea complexa com/sem fluxo no Doppler (achado mais comum na ecografia)
Presença do saco gestacional com/sem saco vitelino e/ou embrião fora do útero (menos comum)
Teste de gravidez positivo na ausência de gravidez uterina
Ecografia transvaginal ao anexo direito com uma gravidez ectópica tubária direita, é possível observar-se o saco gestacional e o feto consistentes com 6 semanas de gestação: a medição apresenta-se no canto inferior esquerdo: comprimento crânio-caudal (CRL, pela sigla em inglês) = 0,43 cm 6w0d
Imagem : “Transvaginal ultrasound of right adnexa” pelo Arsala L., Danso D. Licença: CC BY 3.0Imagiologia de uma gravidez heterotópica rara:
Uma gestação gemelar em que 1 gravidez é no útero (UT) e a outra é ectópica. Nesta imagem, a gravidez ectópica é observada à esquerda, circundada por fluxo sanguíneo visível no exame com Doppler, com uma quantidade significativa de líquido livre (FF) na pelve.
Imagem : “Patient number 1” pelo Chadee A. et al. Licença: CC BY 4.0
Hidrossalpingite
A hidrossalpingite corresponde ao preenchimento da trompa de Falópio com líquido pós-inflamatório.
Estrutura extra-ovárica hipoecoica tubular
Pode parecer ter “septações” (na verdade devido a dobras na parede)
Miomas uterinos
Os miomas uterinos (ou leiomiomas) são neoplasias benignas que se originam a partir de uma única célula do miométrio:
Massa redonda ou oval a partir do miométrio
Encapsulados → margens bem definidas tanto na ecografia como na RMN
Geralmente homogéneos
Podem ser heterogéneos se estiverem em degeneração
Podem encontrar-se em qualquer parte do miométrio, sendo classificados consoante a localização:
Submucosos: projetam-se para a cavidade endometrial
Intramurais: dentro do miométrio
Subserosos: projetam-se para fora do útero, cobertos pela serosa
Tabela: Achados imagiológicos sugestivos de miomas uterinos (leiomiomas)
Características ecográficas
Características na RMN
Hipoecoicos
Com/sem calcificações
Podem conter componentes quísticos (anecoicos)
T1: miométrio normal mais escuro
T2: escuro
Realce variável (após a administração de contraste)
Mulher de 46 anos com história prévia de dor abdominal: A ecografia transvaginal (TVUS, pela sigla em inglês) apresenta um mioma submucoso de 1,1 cm (seta) com sombra acústica posterior (pontas de seta).
Imagem : “A 46-year-old woman with a history of abdominal pain” pelo Wilde S., Scott-Barrett S. Licença: CC BY 2.0
Mulher de 49 anos com história prévia de menorragia: Ecografia transabdominal (TAUS, pela sigla em inglês) (A) onde se observa um útero volumoso com um mioma submucoso de 10 cm, que parece “preencher” a cavidade endometrial. Ressonância magnética ponderada em T2, no plano sagital (B) da mesma doente, que demonstra que o mioma submucoso (ponta de seta) é heterogéneo, o que indica degeneração. Há também um mioma cervical de 2,5 cm (seta).
Imagem : “A 49-year-old woman with a history of menorrhagia” pelo Wilde S., Scott-Barrett S. Licença: CC BY 2.0
Mulher de 51 anos com história prévia de menorragia: A ressonância magnética sagital ponderada em T2 mostra um útero retrovertido volumoso, com vários miomas intramurais e um grande mioma submucoso (seta) a projetar para a cavidade endometrial. Incidentalmente, observa-se também a presença de um quisto ovárico complexo posteriormente ao útero (ponta de seta). A região hiperintensa à esquerda na imagem representa a bexiga completamente preenchida
Imagem : “A 51-year-old woman with a history of menorrhagia” pelo Wilde S., Scott-Barrett S. Licença: CC BY 2.0
Mulher de 43 anos com menorragia: Ressonância magnética ponderada em T2 e no plano sagital, onde se observam vários miomas intramurais (setas). O maior dos quais (ponta de seta) situa-se anteriormente e mede 8,5 cm. As imagens mostram a baixa intensidade de sinal típica.
Imagem : “A 43-year-old woman with menorrhagia” pelo Wilde S., Scott-Barrett S. Licença: CC BY 2.0
Adenomiose
A adenomiose é uma patologia clínica na qual o endométrio se implanta/invade o miométrio, o que normalmente resulta em menstruação intensa e dolorosa. Os achados ecográficos e na ressonância magnética incluem:
Aumento do tamanho do útero
Espaços quísticos no miométrio
Aparência uterina aumentada e globular
Espessamento assimétrico do miométrio (sobretudo com uma parede posterior espessada)
Perda da margem endometrial bem definida/espessamento da zona juncional
Critérios ecográficos diagnósticos de adenomiose: a) Útero globular b) Assimetria uterina: corte longitudinal de um útero retrovertido, onde a parede uterina posterior é claramente mais espessa que a parede anterior c) Textura miometrial heterogénea: corte transversal do útero ao nível do fundo, onde podem ser observadas áreas hipoecoicas com padrão radial (setas) d) Estrias lineares: neste corte sagital de um útero antevertido, finas linhas hiperecogénicas cruzam toda a espessura do miométrio e são visíveis a partir da interface endométrio-miométrio. e) Quistos intramiometriais: secção transversal do útero ao nível do fundo com áreas translúcidas distribuídas pela parede posterior do miométrio f) Nódulos hiperecogénicos: corte transversal do útero ao nível do fundo com áreas hiperecogénicas no miométrio
Imagem : “Ultrasonographic diagnostic criteria for adnomyosis” pelo J. M. Puente et al. Licença: CC BY 4.0, recortada por Lecturio.
Adenomiose difusa: Imagem sagital ponderada em T2; observa-se um espessamento da zona juncional, formando uma área mal definida com baixa intensidade de sinal, com focos miometriais pontuados de alta intensidade a representar as áreas de endométrio embutido no miométrio
Imagem : “Diffuse adenomyosis” pelo Lisa Agostinho et al. Licença: CC BY 4.0
Pólipos endometriais
Um pequeno crescimento de endométrio, que geralmente é pedunculado e frequentemente (embora nem sempre) benigno:
Endométrio espessado na TVUS/TAUS e RMN
Massa que surge do endométrio e se projeta na cavidade uterina no SIS (melhor teste para visualizar pólipos)
Ecografia de infusão salina (SIS) com um pólipo endometrial pedunculado Imagem: “3D-MS- View of endometrial outline in the transverse plane shows a localized lesion” pelo Zafarani F., Ahmadi F. Licença: CC BY 2.5 , recortada por Lecturio.
Hiperplasia e cancro endometrial
Endométrio espessado tendo em conta a idade e/ou status menstrual
Ecogenicidade heterogénea
Características sugestivas de cancro:
Limites irregulares e/ou mal definidos
Invasão franca
Espessura > 5 mm em mulheres na pós-menopausa
Espessamento endometrial compatível com hiperplasia
Imagem : “Glandular cystic hyperplasia that is softer than the myometrium on SEG.E endometrium” pelo Goncharenko V. M. et al. Licença: CC BY 2.0, editada por Lecturio.
Permeabilidade das trompas de Falópio (melhor teste não cirúrgico disponível)
Inserção de um cateter na cavidade uterina → injeção de contraste → Raio-X
Indicações
Avaliação de CUAs
Infertilidade (para pesquisar a presença de alterações congénitas e verificar a permeabilidade tubária)
Contraindicações
Gravidez
Hemorragia vaginal ativa de causa desconhecida
Infeção pélvica ativa
Vantagens
Custo relativamente baixo
Baixa dose de radiação (embora possa tornar-se alta com o tempo de estudo prolongado)
Disponibilidade relativamente fácil
Imagens dinâmicas
Desvantagens
Má resolução dos tecidos moles
Exposição a radiação ionizante
Provoca desconforto/dor na doente
Difícil de agendar:
Deve ser realizada entre o final da menstruação e antes da ovulação (para evitar a interrupção de uma gravidez precoce)
Requer frequentemente que tanto um ginecologista (para colocar o cateter) como um radiologista (para interpretar as imagens) estejam presentes na sala durante o estudo
Técnica do exame
Posicionamento:
Litotomia dorsal na mesa de fluoroscopia
A placa é colocada nas costas.
Os feixes de raios X originam-se do solo → em direção do teto através da doente
Visualização: O campo de visão deve estar focado na pelve.
Procedimento:
Inserção de um espéculo na vagina com identificação do colo do útero.
Inserção de um cateter com balão na ponta na cavidade uterina, através do canal cervical.
Injeção lenta de contraste com observação em tempo real na fluoroscopia.
Aquisição das imagens.
Interpretação e avaliação
Abordagem sistemática:
Abordagem de dentro para fora (central para periférico):
Observar o padrão de gás intestinal.
Procurar por silhuetas de órgãos sólidos se estiverem no campo de visão (fígado, baço, rim).
Procurar planos de gordura normais perifericamente.
Procurar evidência de ar livre intraperitoneal.
Avaliar os tecidos moles em relação:
Ao contorno da cavidade uterina
À permeabilidade das trompas de Falópio
A calcificações anormais (pedras, massas)
Avaliar as estruturas ósseas (altura dos corpos vertebrais, ossos ilíacos, fémures).
Abordagem dinâmica:
Observar o fluxo de contraste através do canal endometrial e estar atento/a a qualquer:
Defeito do preenchimento na cavidade uterina (áreas que não ficam completamente saturadas de contraste)
Obstrução
Estenose
Extravasamento
O contraste deve fluir através das trompas de Falópio para os espaços anexiais.
Achados normais
Contorno normal da cavidade uterina:
Triângulo invertido
Ausência de defeitos de preenchimento
As trompas de Falópio são preenchidas por contraste → que depois sai através das extremidades de ambas as trompas para a cavidade pélvica (“preenchimento e extravasamento bilateral”)
Achados normais da histerossalpingografia: Radiografia com um contorno uterino normal e preenchimento e extravasamento bilateral de contraste nas trompas de Falópio
Imagem: “Normal HSG examination” pelo Aziz M.U. et al. Licença: CC BY 3.0
Achados anormais ou incidentais
Hidrossalpingite:
Trompas dilatadas preenchidas pelo contraste
Com/sem obstrução (ou seja, sem extravasamento livre)
Histerossalpingografia com oclusão tubária bilateral e hidrossalpingite
Imagem : “HSG showing bilateral tubal blockage” pelo Aziz M.U. et al. Licença: CC BY 3.0
CUAs:
O útero forma-se a partir dos ductos de Müller, que se fundem na linha média para criar o útero, o colo do útero e a parte superior da vagina. Portanto, inicialmente, estas estruturas encontram-se divididas antes de ocorrer a regressão do septo da linha média. Alterações uterinas congénitas ocorrem geralmente devido a anormalidades na fusão e/ou regressão do septo.
Útero septado:
Defeito de enchimento a partir do ápice uterino
O comprimento do septo varia.
Útero bicorno:
Defeito de enchimento a partir do ápice uterino
2 cavidades em forma de banana, cada uma a drenar para uma trompa de Falópio normal
Útero unicorno: cavidade uterina fusiforme única que drena numa única trompa
Útero didelfo: 2 “sistemas” completamente separados
2 cavidades uterinas, cada uma com o seu próprio colo do útero e trompa de Falópio
Histerossalpingografia de uma doente infértil onde se observa um útero bicorno: A trompa de Falópio direita ainda não foi preenchida com contraste ou está obstruída. A trompa de Falópio esquerda parece estar a começar a ser preenchida.
Comparação da ecografia tridimensional e da histerossalpingografia em casos de malformação uterina: A: útero normal B: útero unicorno C: útero arqueado D-G: subtipos de útero septado (septo parcial a completo) H: útero bicorno I: didelfo
Imagem : “Comparison of three-dimensional ultrasound and HSG imaging in cases ofuterine malformation using AFS” pelo Ahmadi F. et al. Licença: CC BY 2.5
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