As plantas tóxicas produzem uma vasta e complexa gama de compostos químicos para se protegerem. Estes compostos incluem amatoxinas, alcaloides tropânicos, urushiol, amigdalina e glicosídeos cardíacos. A apresentação clínica varia de acordo com o produto químico envolvido, sendo que alguns destes produtos químicos são capazes de causar condições com risco de vida. Geralmente, o diagnóstico é baseado na história de exposição e na apresentação clínica. O reconhecimento precoce é fundamental para permitir implementar terapêutica de suporte imediata e a administração de antídotos (se disponíveis).
Imagem: “Berries of Atropa belladonna” por Intensive Care Unit, Mother and Child Hospital, University Hospital Hassan II, Fes, Morrocco. Licença: CC BY 2.0
A toxicidade dos alcaloides tropânicos causa intoxicação anticolinérgica através do antagonismo dos recetores muscarínicos centrais e periféricos.
Apresentação clínica
Os sintomas geralmente ocorrem 30 a 60 minutos após a ingestão e podem continuar por 24 a 48 horas, manifestando-se como uma toxina anticolinérgica clássica.
Taquicardia
Hipertermia
Pupilas dilatadas → visão turva
Retenção urinária
Pele quente, seca e corada
Mucosas desidratadas
Sinais e sintomas neurológicos:
Desorientação
Delirium
Alucinações
Psicose
Convulsões
Mnemónica:
A apresentação de uma toxina anticolinérgica pode ser lembrada por:
“Red as beet” (“Vermelho como beterraba”) (pele corada)
“Blind as a bat” (“Cego como um morcego”) (midríase)
“Dry as a bone” (“Seco como um osso”) (membranas mucosas secas)
“Hot as a hare” (“Quente como uma lebre”) (anidrose)
“Mad as hatter” (“Louco como chapeleiro”) (alteração do estado mental)
“Full as a flask” (“Cheio como um frasco”) (retenção urinária)
Diagnóstico
O diagnóstico de toxicidade por alcaloide do tropano é clínico.
Tratamento
Avaliar e abordar a via aérea, respiração e circulação do doente (avaliação ABC).
Carvalho venenoso (T. diversilobum, T. toxicarium)
Sumagre venenoso (T. vernix)
Toxicodendron radicans, também conhecido como hera venenosa, com os três folhetos clássicos
Imagem:“Poison Ivy” por SWMNPoliSciProject. Licença: CC BY 3.0
Fisiopatologia
As espécies de Toxicodendron contêm a oleorresina urushiol.
Contacto com a pele → reação de hipersensibilidade tipo IV
Apresentação clínica
Ocorre uma dermatite alérgica aguda, geralmente, dentro de 4 a 96 horas, e a resolução completa é esperada em 7 a 21 dias. As características da erupção incluem:
Prurido intenso
Pápulas, placas, vesículas ou bolhas eritematosas
Arranjo linear
Bolhas no braço após o contacto com a hera venenosa
Imagem: “Blisters from contact with poison ivy” por Larsonja. Licença: Public Domain
Diagnóstico
O diagnóstico de dermatite por Toxicodendron é baseado na história de exposição e no exame físico.
Tratamento
Limpar todas as roupas e objetos que possam estar contaminados com urushiol.
Medidas calmantes
Banhos de aveia
Compressas frias
Calamina (combinação de óxido de zinco e óxido férrico)
Solução de Burow (solução aquosa de triacetato de alumínio)
Anti-histamínicos orais
Corticosteroides tópicos
Esteroides sistémicos se dermatite grave
Plantas de Cianeto
Etiologia
Muitas plantas contêm glicosídeos cianogénicos, como a amigdalina.
Pevides ou sementes de:
Cereja
Alperce
Pêssego
Ameixa
Pera
Maçã
Feijão-de-lima
Trevo
Sorgo
Amêndoas
Fisiopatologia
É necessário mastigar sementes e caroços para existir toxicidade.
A amigdalina é ingerida → convertida em cianeto de hidrogénio por bactérias intestinais → entra na corrente sanguínea
Inativa a citocromo oxidase → inibe o metabolismo aeróbico e a produção de ATP
Os tecidos não podem usar o oxigénio disponível → hipóxia funcional
Metabolismo anaeróbico assume a maior importância → produção de ácido láctico
Apresentação clínica
Os sinais e sintomas de envenenamento por cianeto são atrasados até várias horas após a ingestão, mas podem incluir:
Reação de hipersensibilidade tipo IV: pápulas, vesículas ou bolhas eritematosas em configuração linear
Terapêutica sintomática
Corticosteroides tópicos
Caroços ou sementes de cereja, alperce, pêssego, ameixa, pêra, maçã
Toxicidade do cianeto:
Instabilidade hemodinâmica
Disritmia
Hiperventilação
Depressão do SNC
Convulsão
Hidroxocobalamina
Nitrito de sódio
Tiossulfato de sódio
Lírio do vale, dedaleira
Toxicidade do glicosídeo cardíaco:
Arritmia
Distúrbios GI
Fraqueza muscular
Hipercaliemia
Fragmentos de anticorpos específicos da digoxina
Diagnóstico Diferencial
Gastroenterite: inflamação do estômago e intestinos, frequentemente causada por infeções bacterianas, víricas ou parasitárias. As características clínicas comuns da gastroenterite incluem dor abdominal, diarreia, vómitos, febre e desidratação. O teste diagnóstico com análise de fezes ou cultura de fezes nem sempre é necessário, mas pode ajudar a determinar a etiologia em determinadas circunstâncias. A maioria dos casos é autolimitada; portanto, o único tratamento necessário é a terapêutica de suporte (fluidos).
Toxicidade por acetaminofeno: A ingestão tóxica de acetaminofeno pode levar a hepatotoxicidade grave. Inicialmente, os doentes podem apresentar sintomas semelhantes aos da gastroenterite. A toxicidade por acetaminofeno pode progredir para insuficiência hepática, insuficiência renal e pancreatite. A medição dos níveis de acetaminofeno pode ajudar a confirmar o diagnóstico. A descontaminação gástrica deve ser tentada, juntamente com a terapêutica com N-acetilcisteína. O transplante de fígado pode ser necessário se insuficiência hepática fulminante.
Hepatite viral: inflamação do fígado causada por infeção pelo vírus da hepatite: Os doentes podem apresentar um pródromo viral de febre, anorexia e náuseas. Também pode ocorrer dor abdominal no QSD, icterícia e transaminite. O diagnóstico é realizado através de testes serológicos virais. O tratamento da hepatite aguda é de suporte.
Toxicidade por anfetaminas: a intoxicação com anfetaminas cursa com uma resposta simpaticomimética. Os doentes podem apresentar taquicardia, hipertermia, midríase, delírio, convulsões, rabdomiólise e insuficiência renal. Ao contrário da toxicidade anticolinérgica, os doentes apresentam-se diaforéticos. O diagnóstico é muitas vezes clinico e confirmado com um rastreio de drogas. O tratamento inclui cuidados de suporte e benzodiazepinas.
Hipertiroidismo: Níveis elevados de hormonas tiroideias livres podem resultar em hipermetabolismo. Os doentes podem apresentar taquicardia, palpitações, ansiedade, tremor, sudorese e diarreia. O diagnóstico é confirmado com estudos laboratoriais da tiroide. O tratamento depende da etiologia, mas pode incluir metimazol, betabloqueadores, iodo radioativo e cirurgia.
Dermatite de contacto: inflamação da pele em resposta a irritantes. Pode ocorrer prurido, dor, microvesiculação (formação de pequenas vesículas) e sensação de queimadura. O diagnóstico é clínico. O tratamento envolve a remoção do agente agressor e a redução da inflamação da pele com esteroides ou inibidores tópicos da calcineurina.
Penfigoide bolhoso: doença bolhosa autoimune causada por anticorpos contra os hemidesmossomas. Geralmente, os doentes são idosos e apresentam lesões pruriginosas, tensas, bolhosas mas com as superfícies mucosas poupadas. Os estímulos incluem fármacos, traumas, doenças de pele e doenças sistémicas. A biópsia com coloração imunofluorescente é usada para o diagnóstico. O tratamento inclui esteroides, imunossupressores e fármacos anti-inflamatórios.
Intoxicação por monóxido de carbono: A inalação de monóxido de carbono provoca a libertação de oxigénio por parte da hemoglobina, interferindo no metabolismo aeróbico. Os doentes podem sofrer de dor de cabeça, náuseas, dispneia, perda de consciência e convulsões. A cor da pele pode ser vermelho-cereja, embora esta geralmente seja encontrada após a morte. Os níveis elevados de carboxihemoglobina podem fornecer o diagnóstico. O tratamento requer oxigénio a 100% ou oxigénio hiperbárico.
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