Sistema Nervoso Autónomo

O sistema nervoso autónomo (SNA) é um componente do sistema nervoso periférico que faz uso de neurónios aferentes (sensitivos) e eferentes (efetores), que controlam o funcionamento dos órgãos internos e processos involuntários através de conexões com o SNC. O SNA consiste nos sistema nervoso simpático e parassimpático, bem como no sistema nervoso entérico (SNE). As fibras nervosas eferentes que terminam nas estruturas endócrinas, vasculares e viscerais coordenam o funcionamento interno do corpo em resposta a vários estímulos aferentes. Os circuitos neurais simpáticos e parassimpáticos coordenam as respostas ao stress e as respostas de relaxamento, respetivamente. O sistema nervoso entérico regula a função dos órgãos viscerais. O equilíbrio entre estes sistemas resulta em homeostase, enquanto o desequilíbrio dos mesmos leva a condições patológicas.

Última atualização: Jul 28, 2025

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Definição

O SNA é responsável por controlar funções que não requerem o pensamento consciente.

  • Controla as funções corporais inconscientes, involuntárias e viscerais
  • Trajeto: SNC → gânglio → tecido alvo

Componentes

  • Os neurónios aferentes (sensitivos) originam-se em recetores viscerais e fornecem estímulos ao SNC
  • Os neurónios eferentes (efetores ou motores) geralmente consistem numa série de 2 neurónios:
    • Neurónio pré-ganglionar (pré-sináptico) com um corpo celular no SNC
    • Neurónio pós-ganglionar (pós-sináptico) com um corpo celular na periferia, que inerva os tecidos alvo
  • Os neurónios pré-sinápticos do sistema nervoso parassimpático (SNP) e do sistema nervoso simpático (SNS) realizam a transmissão do sinal sináptico, utilizando a acetilcolina (ACh) como neurotransmissor.
  • Os neurónios simpáticos pós-sinápticos libertam principalmente norepinefrina (NE), mas normalmente participam na co-transmissão, libertando simultaneamente ATP e neuropeptídeo Y. O neurotransmissor predominante varia consoante o tecido alvo e o contexto fisiológico.
  • Os neurónios parassimpáticos pós-sinápticos geralmente realizam a transmissão do sinal sináptico usando ACh como neurotransmissor.
  • Os neurónios do sistema nervoso entérico (SNE) podem ter 3 ou mais neurónios nas suas vias e transmitem o sinal sináptico usando vários neurotransmissores:
    • ACh
    • Óxido nítrico (NO)
    • Serotonina (5-hidroxitriptamina (5HT))
    • GABA
    • Substância P
    • Peptídeo intestinal vasoativo (VIP, pela signal em inglês)
Via eferente autônoma vs. Via eferente somática

Via eferente autonómica vs. via eferente somática

Imagem: “Comparison of Somatic and Visceral Reflexes” por Phil Schatz. Licença: CC BY 4.0

Divisões do SNA

  • Sistema simpático:
    • A sua ativação leva a um estado geral de hiperfunção
    • Responsável pela resposta de “luta ou fuga”
    • Possui conexões com a maioria dos tecidos do corpo
    • Dominância simpática → ↑ FC, ↑ pressão arterial, cessação do peristaltismo GI, glicogenólise
  • Sistema parassimpático:
    • A ativação leva a um estado geral de hipofunção
    • Responsável pela resposta “descansar e digerir”
    • Dominância parassimpática → ↓ FC, ↓ pressão arterial, promoção do peristaltismo GI, glicogénese
  • SNE:
    • Envolvido na regulação dos processos digestivos
    • Capaz de funcionar independentemente do restante sistema nervoso
    • Composto principalmente por 2 feixes nervosos complexos:
      • O plexo mioentérico (de Auerbach)
      • O plexo submucoso (de Meissner)
    • Exceção à regra de inervação de 2 neurónios do SNA
Autonomic nervous system

Esquema a demonstrar as divisões anatómicas do sistema nervoso

Imagem por Lecturio.

Sistema Nervoso Simpático

O SNS está envolvido com muitas das funções associadas à resposta de “luta ou fuga”. Embora esta resposta esteja no extremo do espectro da fisiologia simpática, serve como modelo para o entendimento de que o SNS permite que os nossos tecidos respondam adequadamente a vários graus de stress fisiológico.

Neurónios simpáticos

  • Os corpos celulares dos neurónios pré-ganglionares estão localizados na medula espinhal:
    • Emergem das regiões toracolombar
    • Localizados nas colunas intermediolaterais (colunas laterais)
    • As fibras pré-sinápticas saem da medula espinhal através das raízes anteriores e entram nos ramos anteriores de T1‒L2.
    • As raízes anteriores emitem ramos (ramos comunicantes brancos) para os troncos simpáticos. As fibras simpáticas podem:
      • Viajar (subir ou descer) nos troncos simpáticos para um gânglio paravertebral → sinapse com fibras simpáticas pós-ganglionares
      • Juntar-se às fibras adjacentes do nervo espinhal anterior, através de ramificações (ramos comunicantes cinzentos) → sinapse com fibras simpáticas pós-ganglionares
      • Passar pelo tronco simpático (sem sinapse), tornando-se contínuas com 1 dos nervos esplâncnicos alcançando e, finalmente, realizando sinapse com os gânglios pré-vertebrais
      • Passar pelo gânglio celíaco (sem sinapse) e viajar diretamente para o órgão alvo (aplica-se apenas à glândula suprarrenal) para fazer sinapse com células cromafins, que secretam epinefrina diretamente na corrente sanguínea (outra exceção à regra dos 2 neurónios do SNA).
      • ACh é o neurotransmissor em todas as sinapses acima referidas.
  • Os gânglios paravertebrais formam uma série de nódulos conhecidos como tronco simpático:
    • Localizado junto à coluna vertebral
    • Local de sinapse entre os neurónios pré-ganglionares e pós-ganglionares
    • Os gânglios são geralmente organizados da seguinte forma:
      • 3 gânglios cervicais (superior, médio e inferior)
      • 12 gânglios torácicos (gânglio cervical inferior e o 1º gânglio torácico podem fundir-se para formar o gânglio “estrelado”)
      • 4 gânglios lombares
      • 5 gânglios sagrados
  • Distalmente aos gânglios paravertebrais, todos os nervos se tornam nervos esplâncnicos.
    • Os nervos esplâncnicos contêm fibras aferentes e eferentes que transmitem informações entre o SNC e as estruturas viscerais:
      • Os nervos esplâncnicos cardiopulmonares transportam fibras pós-sinápticas que inervam as vísceras torácicas.
      • Os nervos esplâncnicos abdominopélvicos transportam fibras pós-sinápticas que inervam as vísceras abdominais e pélvicas.
  • As vísceras abdominais e pélvicas são inervadas pelos nervos esplâncnicos abdominopélvicos.
    • Lembrar que estes nervos passam pelos troncos simpáticos (sem fazer sinapse) para se tornarem nervos esplâncnicos.
    • Os nervos esplâncnicos abdominopélvicos incluem:
      • Nervo esplâncnico maior
      • Nervo esplâncnico menor
      • Nervo esplâncnico mínimo
      • Nervo esplâncnico lombar
  • Os neurónios pré-sinápticos fazem sinapse nos gânglios pré-vertebrais.
    • Os gânglios pré-vertebrais localizam-se próximos do órgão alvo e dos ramos da aorta.
    • Os gânglios pré-vertebrais incluem:
      • Gânglio celíaco
      • Gânglio aorticorrenal
      • Gânglio mesentérico superior
      • Gânglio mesentérico inferior
    • Conexões esplâncnicas/ganglionares:
      • Nervo esplâncnico maior → gânglio celíaco
      • Nervos esplâncnicos menor + mínimo → gânglio aorticorrenal
      • Nervos esplâncnicos mínimo + nervos esplâncnicos lombares → gânglios mesentéricos superior e inferior
    • Conexões ganglionares/viscerais:
      • Gânglio celíaco (inerva os órgãos derivados do intestino anterior) → esófago distal, estômago, duodeno proximal, pâncreas, fígado, sistema biliar, baço, glândulas suprarrenais
      • Gânglio aorticorrenal → aorta, rins
      • Gânglio mesentérico superior (inerva os órgãos derivados do intestino médio) → duodeno distal, jejuno, íleo, cego, apêndice, cólon ascendente, cólon transverso proximal
      • Gânglio mesentérico inferior (inerva os órgãos derivados do intestino posterior) → cólon transverso distal, cólon descendente, cólon sigmoide, reto, canal anal, bexiga, genitália externa, gónadas
  • Os neurónios simpáticos pós-ganglionares viajam, assim, para seus tecidos alvo, onde estimulam a atividade simpática específica do órgão alvo.
    • A NE é libertada como neurotransmissor em recetores adrenérgicos na maioria dos órgãos.
    • Os recetores adrenérgicos incluem:
      • Recetores alfa-adrenérgicos:
        • Alfa-1 (α₁): Três subtipos (α₁ₐ, α₁ᵦ, α₁ᵈ) – mediam principalmente a contração do músculo liso
        • Alfa-2 (α₂): Três subtipos (α₂ₐ, α₂ᵦ, α₂ᶜ) – principalmente autorecetores e heterorrecetores inibidores
      • Recetores beta-adrenérgicos:
        • Beta-1 (β₁): Efeitos principalmente cardíacos.
        • Beta-2 (β₂): Relaxamento principalmente dos músculos lisos e efeitos metabólicos.
        • Beta-3 (β₃): Efeitos principalmente metabólicos no tecido adiposo.
        • Beta-4 (β₄): Identificado recentemente, principalmente no tecido cardíaco.
    • Podem ser libertados outros peptídeos na sinapse, além da NE:
      • O neuropeptídeo Y é libertado nos vasos cardíacos para regular o fluxo sanguíneo coronário.
      • A somatostatina é libertada na mucosa intestinal para regular a motilidade GI.
    • A ACh é libertada como neurotransmissor nos recetores colinérgicos simpáticos em:
      • Glândulas sudoríparas
      • Músculos piloeretores da pele (a estimulação causa “arrepios”)
      • Vasos de resistência pré-capilares localizados em leitos do músculo esquelético
    • Os recetores colinérgicos no SNS são do subtipo muscarínico.
    • Podem ser libertados outros peptídeos além da ACh na sinapse:
      • O VIP é libertado nos leitos musculares esqueléticos e atua como um potente vasodilatador.
      • O peptídeo relacionado com o gene da calcitonina (CGRP, pela sigla em inglês) é libertado nos vasos intracranianos e extracranianos e atua como um potente vasodilatador.
Vias do sistema nervoso simpático

Vias do sistema nervoso simpático e parassimpático
T: torácica
L: lombar

Imagem por Lecturio.

Funções simpáticas

No seu extremo, o SNS desencadeia a resposta de “luta ou fuga” em reação ao stress fisiológico.

  • Ocorre primariamente uma resposta vascular
  • A maioria dos vasos responde à estimulação simpática com vasoconstrição e redirecionamento do fluxo sanguíneo vital para “luta ou fuga” (“fight-or-flight”) para:
    • Órgãos viscerais abdominais
    • Órgãos viscerais pélvicos
  • Exceções a notar:
    • Os vasos coronários dilatam para aumentar a perfusão miocárdica e melhorar o desempenho cardíaco.
    • Os vasos dos leitos musculares esqueléticos dilatam para aumentar a perfusão muscular e melhorar o desempenho muscular.
    • Os vasos da genitália externa dilatam para permitir a excitação e a ereção.
  • A resposta vascular de um determinado tecido alvo depende da:
    • A proporção relativa de recetores alfa e beta
    • A presença de peptídeos libertados para neurotransmissão na sinapse

Em momentos de stress fisiológico normal, o SNS permanece constitutivamente ativo (mas em equilíbrio com o SNP):

  • Há estimulação tónica dos vasos sanguíneos, mas não na extensão da vasoconstrição extrema:
    • O SNS e o SNP permitem atividades coordenadas ao nível da interface alvéolo-capilar no pulmão permitindo a troca ideal de O2.
    • O SNS e SNP permitem atividades coordenadas ao nível da interface epitélio-capilar intestinal permitindo uma absorção ideal.
  • Nos momentos de repouso, a tonicidade vascular mediada pelo SNS é mínima.

O SNS desempenha um papel complexo na regulação imune:

  • Inervação dos órgãos linfoides primários e secundários (medula óssea, timo, baço, gânglios linfáticos)
  • Forma sinapses neuroimunes diretas com células imunes
  • A maioria das células imunes expressa múltiplos subtipos de recetores adrenérgicos
  • Os efeitos sobre a função imunológica dependem do contexto:
    • Ativação simpática aguda: pró-inflamatória (mediada pelo recetor β)
    • Ativação simpática crónica: imunossupressora (mediada pelo recetor α)
  • Regula o tráfego de linfócitos, a produção de citocinas e as respostas de anticorpos
  • É fundamental na coordenação das respostas neuroimunes durante o stress, infeções e inflamações
  • A desregulação contribui para doenças autoimunes e inflamatórias
A dinâmica do fluxo simpático

A dinâmica do fluxo simpático

Imagem por Lecturio.

Sistema Nervoso Parassimpático

O SNP está envolvido em muitas das funções associadas ao “descanso e digestão”. Embora a resposta de “repouso e digestão” esteja no extremo do espectro da fisiologia parassimpática, a mesma serve como modelo para entender que o SNP permite que os nossos tecidos recuperem adequadamente e/ou equilibrem os vários graus de stress fisiológico.

Neurónios parassimpáticos

  • As fibras parassimpáticas emergem das regiões craniossacrais do sistema nervoso.
  • Os corpos celulares dos neurónios pré-ganglionares estão localizados nos núcleos dos nervos cranianos (NC) (NC III, NC VII, NC IX e NC X) e na porção terminal da medula espinhal (S2-S4):
    • O CN X (nervo vago, compreende a maior parte do SNP) tem múltiplos núcleos na medula:
      • Núcleo motor dorsal do vago (DMV, pela sigla em inglês): fonte primária de saída parassimpática eferente para as vísceras torácicas e abdominais
      • Núcleo ambíguo: contém neurónios pré-ganglionares para o coração e os músculos laríngeos
      • Núcleo do trato solitário (NTS): centro de integração de informações sensoriais aferentes, organizado em subnúcleos com funções distintas:
        • Subnúcleo gustativo: sensação do paladar
        • Subnúcleos cardiorrespiratórios: processam aferentes viscerais
        • Subnúcleo gelatinoso: modulação da dor
      • Núcleo espinhal trigeminal: processa informações somatossensoriais do ouvido, da mucosa laríngea e das meninges
      • Área postrema: “centro do vómito” quimiosensível
  • Alguns neurónios pré-ganglionares fazem sinapse dentro da abóbada craniana em 1 dos 4 pares de gânglios simpáticos intracranianos:
    • NC III → gânglio ciliar → inerva:
      • Íris
      • Músculos ciliares pupilares
    • NC VII → gânglios pterigopalatino e submandibular → inervam:
      • Glândulas lacrimais
      • Glândulas nasais
      • Glândulas palatinas
      • Glândulas faríngeas
      • Glândulas sublinguais
      • Glândulas submandibulares
    • NC IX → gânglio ótico → inerva as glândulas parótidas
  • Alguns neurónios pré-ganglionares fora da abóbada craniana fazem sinapse nos gânglios terminais ou intramurais do(s) órgão(s) alvo:
    • NC X (nervo vago) → gânglios terminais das:
      • Vísceras torácicas: coração, pulmões, esófago distal, estômago, duodeno proximal, pâncreas, fígado, sistema biliar, baço
      • Vísceras do intestino médio: duodeno distal, jejuno, íleo, cego, apêndice, cólon ascendente, cólon transverso proximal
      • Nota: O cólon transverso distal recebe inervação dupla, com o suprimento parassimpático a transitar de fontes vagais para fontes esplâncnicas pélvicas.
    • Nervos esplâncnicos pélvicos (S2-S4) → gânglios terminais das:
      • Vísceras do intestino posterior: cólon transverso distal, cólon descendente, cólon sigmoide, reto e canal anal superior
      • Vísceras pélvicas: ureteres inferiores, bexiga, uretra, útero, colo do útero, genitália externa
  • As fibras parassimpáticas aferentes compreendem fibras aferentes viscerais que conduzem informação até ao nervo vago e aos nervos esplâncnicos pélvicos:
    • Dos barorrecetores carotídeos e aórticos
    • Do coração, pulmões e trato digestivo
    • Dos órgãos pélvicos e genitália externa
  • A maioria dos nervos parassimpáticos são sensitivos e inervam a maioria dos órgãos major.
  • O SNP pré-ganglionar e pós-ganglionar liberta ACh como neurotransmissor nos recetores colinérgicos:
    • Recetores colinérgicos muscarínicos:
      • M₁: Neural/SNC, células parietais gástricas
      • M₂: Tecido cardíaco, músculo liso, neural
      • M₃: Glândulas exócrinas, músculo liso, endotélio
      • M₄: SNC, principalmente autoreceptores pré-sinápticos
      • M₅: SNC, particularmente na substância negra e no hipocampo
      • Os recetores colinérgicos na maioria dos outros órgãos alvo são do subtipo muscarínico.
      • Os recetores colinérgicos nas glândulas sudoríparas são do subtipo muscarínico.
    • Recetores colinérgicos nicotínicos: Todos os recetores colinérgicos na sinapse pré-ganglionar/pós-ganglionar são do subtipo nicotínico.
    • Podem ser libertados outros peptídeos além da ACh na sinapse:
      • Neuropeptídeo Y
      • VIP
      • CGRP

Funções parassimpáticas

No seu extremo, o SNP desencadeia a resposta de “repouso e digestão” em resposta à necessidade de recuperação fisiológica de equilibro das ações do SNS.

  • Diminui a contratilidade do miocárdio auricular e ventricular
  • Reduz a velocidade de condução cardíaca para desacelerar ritmos de taquicardia e prevenir arritmias
  • Promove a salivação
  • Promove/aumenta o peristaltismo GI e a atividade secretora
  • Contrai o músculo liso das vias aéreas durante a inspiração para manter a permeabilidade das mesmas

O SNP desempenha um papel crucial na regulação imunológica:

  • “Reflexo inflamatório” – o nervo vago deteta inflamação periférica através de recetores de citocinas
  • Via anti-inflamatória colinérgica – a sinalização eferente vagal suprime a produção de citocinas pró-inflamatórias
  • As eferências vagais fazem sinapse com o nervo esplénico, libertando norepinefrina
  • A norepinefrina estimula a liberação de acetilcolina das células T que expressam colina acetiltransferase
  • A acetilcolina liga-se aos recetores nicotínicos α7 nos macrófagos, inibindo a produção de TNF-α, IL-1β e IL-6
  • Forma um circuito neuroimunológico distinto do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal
  • Alvo terapêutico para doenças inflamatórias, incluindo artrite reumatoide e doença inflamatória intestinal
Vias do sistema nervoso simpático

Vias do sistema nervoso simpático e parassimpático
T: torácica
L: lombar

Imagem por Lecturio.

Sistema Nervoso Simpático x Parassimpático

Tabela: Funções e recetores do sistema nervoso simpático e parassimpático
Alvo Efeitos simpáticos e recetores Efeitos parassimpáticos e recetores
Cérebro α1: regulação do fluxo sanguíneo cerebral M1: ↑ memória e atenção
Olho α1: contração (midríase) do músculo dilatador da íris
β2: focagem de objetos distantes
M3: miose e acomodação
Bexiga α1: constrição do esfíncter da bexiga
controlo da micção e do fluxo urinário
β2: relaxamento da bexiga
M3: relaxamento do músculo esfíncter vesical;
contração do músculo detrusor
Próstata e órgãos reprodutivos α1: permite a ejaculação pela contração da próstata M1: ereção
Rim α1: ↓ secreção de renina
β2: ↑ secreção de renina
Nenhuma
Veias e arteríolas α1: contração do músculo liso dos vasos sanguíneos periféricos
β2: promove a dilatação de arteríolas e veias; consequentemente, leva à diminuição da resistência periférica total, pressão arterial e pós-carga
A maioria dos vasos não possui inervação parassimpática.
Plaquetas α2: ↑ agregação plaquetária Nenhuma
Coração β1: ↑ FC (cronotrópico positivo);
↑ velocidade de condução (dromotrópico positivo);
↑ contratilidade (inotrópico positivo)
M2: ↓ FC (cronotrópico negativo);
↓ velocidade de condução (dromotrópico negativo);
↓ contratibilidade (inotrópico negativo)
Bronquíolos β2: relaxamento do músculo liso bronquiolar M3: broncoconstrição
Fígado β2: ↑ glicogenólise M3: ↑ gliconeogénese
Tecido adiposo α2: ↓ lipólise
β1, β2: ↑ lipólise
Nenhuma
Músculo esquelético β3: termogénese M3: contração do músculo detrusor

Sistema Nervoso Entérico

A porção entérica do SNA está associada a funções de digestão e regulação das secreções GI e do músculo liso.

Sistema nervoso intramural

  • Localizado na parede do trato GI (plexo entérico)
  • Aproximadamente 500 milhões de neurónios com mais de 20 tipos distintos de neurónios funcionais que formam redes neurais sofisticadas
  • Envolvido na regulação dos processos digestivos e é capaz de funcionar independentemente do restante do sistema nervoso
    • Totalmente autónomo e capaz de função independente através de atividade reflexa local
    • Conectado ao, comunica com, e recebe feedback do SNS e do SNP.
  • Consiste em 2 plexos ricos em gânglios:
    • Plexo submucoso (plexo de Meissner): encontrado na submucosa → regula o movimento de fluidos e eletrólitos através da mucosa intestinal
    • Plexo mioentérico (plexo de Auerbach): encontrado na muscular própria entre as camadas longitudinal e circular do músculo liso, nas paredes do trato GI → coordena as contrações do músculo liso envolvidas no peristaltismo
  • Tipos de neurónios SNE:
    • Neurónios aferentes primários intrínsecos (IPANs, pela sigla em inglês): neurónios sensoriais que detetam estímulos mecânicos, químicos e térmicos
    • Interneurónios: formam cadeias para a propagação ascendente e descendente de sinais
    • Neurónios motores: controlo excitatório e inibitório do músculo liso, secreção e fluxo sanguíneo
    • Neurónios intestinofugais: projetam-se para fora do intestino para os gânglios pré-vertebrais
    • Neurónios secretomotores/vasomotores: regulam a secreção e o fluxo sanguíneo
  • Células gliais entéricas:
    • Superam os neurónios entéricos em 2:1
    • Funcionalmente semelhantes aos astrócitos do SNC
    • Regulam a função de barreira intestinal
    • Participam nas interações neuroimunes
    • Essenciais para o desenvolvimento e manutenção do SNE

Inervação simpática

  • Gânglios pré-vertebrais:
    • Gânglios celíacos
    • Gânglios mesentéricos superiores
    • Gânglios mesentéricos inferiores
  • Nervos:
    • Nervo(s) esplâncnico(s)
    • Nervo(s) hipogástrico(s)
    • Nervo(s) cólico(s)
  • Efeitos:
    • ↓ Peristaltismo e secreção GI
    • Constrição dos esfíncteres GI

Inervação parassimpática

  • Nervos:
    • Vago
    • Nervos esplâncnicos pélvicos (S2-S4)
    • Nervos sensitivos aferentes → sensação consciente da função visceral (e.g., fome, distensão, náusea)
  • Efeitos:
    • ↑ Peristaltismo e secreção GI
    • Relaxamento dos esfíncteres GI

Relevância Clínica

  • Síndrome de Horner: uma condição que resulta de qualquer patologia que danifique os nervos simpáticos de um lado da face, afetando a saída simpática do gânglio cervical superior. A síndrome de Horner resulta de uma lesão traumática, uma doença ou uma mutação hereditária. Um cenário frequentemente encontrado é o da síndrome de Horner com apresentação por neoplasia pulmonar de Pancoast e disseminação metastática, que pode invadir a cadeia simpática. Os sintomas incluem miose e ptose unilateral, assim como anidrose do lado da cara afetado.
  • Neuropatia autonómica cardiovascular (NAC): Uma complicação grave da diabetes mellitus caracterizada por danos nas fibras nervosas autonómicas que inervam o coração e os vasos sanguíneos. As manifestações clínicas incluem taquicardia em repouso, intolerância ao exercício, hipotensão ortostática e enfarte do miocárdio silencioso. O diagnóstico envolve testes de reflexos autonómicos cardiovasculares (CARTs, pela sigla em inglês) e análise da variabilidade da frequência cardíaca. O tratamento centra-se no controlo glicémico, modificações no estilo de vida e gestão dos sintomas.
  • Disfunção do SNA (disautonomia): abrange um espectro de distúrbios que afetam a regulação autonómica. As causas variam de formas primárias, como falha autonómica pura e atrofia multissistémica, a formas secundárias associadas a condições metabólicas (e.g., diabetes), infecciosas (e.g., VIH, pós-COVID), autoimunes, neurodegenerativas e paraneoplásicas. Os sintomas podem incluir hipotensão ortostática, transpiração anormal, disfunção gastrointestinal e urinária e problemas sexuais. O diagnóstico envolve testes de função autonómica, teste de tilt e avaliações sudomotoras e sensoriais. O tratamento inclui mudanças no estilo de vida, medicamentos e terapias de neuromodulação, como estimulação do nervo vago, estimulação da medula espinhal e estimulação cerebral profunda em casos selecionados.
  • Distúrbios do eixo intestino-cérebro: rede de comunicação bidirecional entre o SNC e o SNE, envolvendo vias neurais, imunitárias e endócrinas. A desregulação está relacionada com distúrbios gastrointestinais funcionais (SII, dispepsia funcional), distúrbios do desenvolvimento neurológico (distúrbio do espectro do autismo) e doenças neurodegenerativas (Parkinson). As abordagens terapêuticas incluem intervenções dietéticas, probióticos, prebióticos e neuromodulação.

Referências

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