Prolapso da Válvula Mitral

O prolapso da válvula mitral (VM) é o defeito valvular cardíaco mais comum e caracteriza-se pelo abaulamento dos folhetos da válvula mitral (VM) na aurícula esquerda (AE) durante a sístole. A principal causa do prolapso da válvula mitral é a degeneração mixomatosa idiopática. A maioria dos pacientes é assintomática. A auscultação revela um click meso-telessistólico, seguido por um possível sopro de regurgitação. O diagnóstico é confirmado por ecocardiograma. Por norma, o tratamento não é necessário em pacientes assintomáticos.

Última atualização: Jan 18, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Epidemiologia

  • Defeito valvular cardíaco mais comum
  • Afeta 3%–7% da população mundial
  • Mulheres > homens
  • Mais comum entre os 15-30 anos de idade
  • As complicações são observadas maioiritariamente no sexo masculino.

Etiologia

  • Primária/idiopática (mais comum)
  • Secundária:
    • Doenças do tecido conjuntivo:
      • Síndrome de Marfan
      • Síndrome de Ehlers-Danlos
      • Osteogenesis imperfecta
      • Pseudoxantoma elástico
    • Defeitos cardíacos:
      • Defeito do septo auricular
      • Anomalia de Ebstein
      • Miocardiopatia hipertrófica

Fisiopatologia

O prolapso da válvula mitral (PVM) é caracterizado pelo abaulamento dos folhetos da válvula mitral (VM) para dentro da aurícula ≥ 2 mm acima do plano do anel valvular, durante a sístole ventricular:

  • Resulta principalmente de degeneração mixomatosa (Síndrome de Barlow): acumulação de glicosaminoglicanos (GAGs) e alterações na estrutura do colagénio → expansão da camada esponjosa dos folhetos mitrais e cordas tendinosas levando a:
    • Folhetos espessos e elásticos com tecido redundante
    • Cordas tendinosas alongadas (a rutura é pouco comum)
    • Dilatação do anel mitral
    • Rutura endotelial dos folhetos da VM → possíveis focos para endocardite e formação de trombos
  • A deficiência fibroelástica é outra causa potencial (geralmente pacientes mais velhos): ↓ colagénio, elastina e proteoglicanos leva a:
    • Folhetos finos, sem excesso de tecido
    • Alguma dilatação do anel
    • Cordas finas e alongadas → ↑ risco de rutura
  • O PVM pode progredir para regurgitação mitral (RM):
    • Entrada dos folhetos na aurícula durante a sístole → RM ligeira
    • Cordas tendinosas rotas → folhetos “em flocos” → RM grave
Prolapso mitral do coração

Abaulamento dos folhetos mitrais na aurícula esquerda durante a sístole no prolapso da válvula mitral

Imagem por Lecturio.

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Apresentação Clínica

Manifestações clínicas

  • A maioria dos casos são assintomáticos (90% dos casos).
  • Sintomas de disfunção autonómica (também conhecida como “síndrome do PVM”) podem estar presentes, mas ainda não está esclarecida a sua ligação direta com o PVM:
    • Ansiedade e ataques de pânico
    • Dispneia
    • Palpitações
    • Intolerância ao exercício
    • Dor torácica atípica
    • Hipotensão ortostática
    • Sintomas neuropsiquiátricos
    • Síncope
  • Os pacientes podem desenvolver sintomas progressivos, normalmente relacionados com a RM:
    • Dispneia
    • Ortopneia
    • Dispneia paroxística noturna
    • Dor torácica
    • Sintomas de arritmia:
      • Palpitações
      • Tonturas
      • Síncope
      • Morte súbita (rara)

Exame objetivo

  • Click meso-telessistólico (estalido da corda mitral durante a sístole):
    • Som mais precoce com a diminuição do retorno venoso:
      • Ortostatismo
      • Manobra de Valsalva
    • Som mais tardio com o aumento do retorno venoso:
      • Agachamento
      • Preensão manual
      • Exercício isométrico
  • Sopro meso-telessistólico audível sobre o ápex: pode irradiar para a axila e para trás, ou ser ouvido sobre a área precordial, dependendo da direção do jato regurgitante
Alterações esquemáticas pré-carga dependentes no prolapso da válvula mitral

Diagrama esquemático a representar as alterações dependentes da pré-carga no click meso-sistólico (CMS) e no sopro sistólico tardio (laranja). O aumento do retorno venoso (por exemplo, com o agachamento), causa um atraso do complexo sopro e MSC, enquanto uma diminuição do retorno venoso (por exemplo, com o ortostatismo) aproxima o complexo sopro e MSC de S1.

Imagem por Lecturio.

Áudio:

Áudio a exemplificar sopro mesosistólico audível no prolapso da válvula mitral. Som nítido que ocorre entre S1 e S2. Sem sopro audível.

Heart Sound por The Regents of the University of Michigan. Licença: CC BY-SA 3.0

Áudio:

É possível escutar um click mesossistólico com um sopro sistólico tardio, devido a prolapso da válvula mitral. Estão presentes um clique nítido, seguido de um sopro agudo.

Heart Sounds por The Regents of the University of Michigan. Licença: CC BY-SA 3.0

Diagnóstico e Complicações

Diagnóstico

  • O ecocardiograma transtorácico (ETT) é o estudo inicial de escolha para o PVM:
    • Deslocamento dos folhetos valvulares ≥ 2 mm acima do plano do anel mitral para a AE durante a sístole
    • Comprimento e espessura do folheto anormais
    • Alongamento das cordas
    • Aumento do diâmetro do anel mitral
    • O Doppler é usado para diagnosticar e avaliar a gravidade da RM.
  • Ecocardiograma Transesofágico (ETE):
    • A maioria das vezes é realizado antes da cirurgia de reparação valvular
    • Revela uma imagem mais precisa dos folhetos afetados
  • Ressonância magnética cardíaca (RMc)
    • Exame utilizado em casos urgentes para investigação de doença valvular
    • Pode ser utilizado no diagnóstico e na avaliação do grau de RM
  • Eletrocardiograma (ECG):
    • Frequentemente normal
    • Inversão ocasional da onda T nas derivações inferiores (II, III, aVF) ou batimentos auriculares ou ventriculares prematuros

Complicações

  • PVM é a etiologia mais comum da RM:
    • Consequências do prolapso progressivo
    • A maioria dos pacientes só apresenta vestígios ou RM ligeira.
    • O desenvolvimento de RM grave pode levar à insuficiência cardíaca.
  • Arritmias:
    • Fibrilhação auricular (devido a RM)
    • Taquicardia paroxística supraventricular
    • Ectopia ventricular
  • Endocardite infeciosa
  • Acidentes isquémicos transitórios e acidentes vasculares cerebrais:
    • Possivelmente relacionados com o risco de fibrilhação auricular
    • A rutura endotelial dos folhetos valvulares por alterações mixomatosas pode aumentar o risco de formação de trombos.
  • Morte súbita cardíaca (rara):
    • Maioria por fibrilhação ventricular
    • A relação com PVM é incerta.

Tratamento e Prognóstico

Tratamento

  • Não é necessário tratamento em pacientes assintomáticos; está recomendado exercício físico.
  • Fármacos:
    • Beta-bloqueantes:
      • Para alívio sintomático da dor torácica ou palpitações
      • Red o risco de taquiarritmias
    • Antibioterapia profilática para endocardite infeciosa:
      • Não está recomendada
      • Pode estar indicada em indivíduos com alto risco de complicações por endocardite
    • Anticoagulação:
      • Pacientes com fibrilhação auricular
      • História de tromboembolismo
  • A cirurgia (reparação ou substituição) está reservada para os casos de RM grave e sintomática.

Prognóstico

  • Normalmente benigno
  • Risco de complicações graves: 1% por ano
  • Risco de morte súbita cardíaca (aproximadamente 1% por ano) é mais comum com:
    • Sintomas graves
    • Função sistólica do ventrículo esquerdo (VE) diminuída
    • Folheto mitral “em floco” (de rutura das cordas)

Diagnósticos Diferenciais

  • RM: defeito valvular caracterizado pelo refluxo sanguíneo do VE para a AE durante a sístole. O PVM é a etiologia mais comum. Os sinais e sintomas dependem da gravidade e podem incluir dispneia de esforço, fadiga ou edema. Ao exame objetivo é possível auscultar um sopro sistólico no ápex cardíaco e o diagnóstico pode ser estabelecido por ecocardiograma, que distingue a RM do PVM. O tratamento engloba restrição de sódio, diuréticos e cirurgia nos casos graves.
  • Estenose mitral: estreitamento da VM, resultando em obstrução do fluxo sanguíneo da AE para o VE. A doença cardíaca reumática é a causa mais comum. Os pacientes podem ser assintomáticos ou podem apresentar dispneia. O exame objetivo pode revelar um sopro diastólico na auscultação, caracterizado por um estalido de baixa intensidade no ápex cardíaco, o que permite distinguir a estenose mitral do PVM. O diagnóstico é feito por ecocardiograma e o tratamento inclui diuréticos, beta-bloqueantes e cirurgia na doença grave.
  • Estenose aórtica: estreitamento da válvula aórtica, que obstrui o fluxo sanguíneo do VE para a aorta. Os pacientes podem desenvolver a tríade clássica de síncope, angina e dispneia de esforço, à medida que a estenose aórtica se desenvolve. A auscultação revela um sopro sistólico em crescendo-decrescendo no bordo superior direito do esterno, o que permite distinguir a estenose aórtica do PVM. O diagnóstico é confirmado por ecocardiograma e a valvuloplastia ou substituição valvular estão indicadas na doença grave.
  • Estenose tricúspide: estreitamento da válvula tricúspide, que impede o fluxo sanguíneo normal da aurícula direita (AD) para o ventrículo direito (VD). Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentar sinais e sintomas de congestão venosa sistémica. O sopro mesodiastólico audível no bordo inferior esquerdo do esterno, permite a distinção entre a estenose tricúspide e o PVM. O ecocardiograma estabelece o diagnóstico. O tratamento inclui restrição de sódio, diuréticos e cirurgia nos casos graves.
  • Regurgitação tricúspide: defeito valvular caracterizado pelo refluxo sanguíneo para AD, a partir do VD durante a sístole. Os pacientes podem ser assintomáticos ou apresentar sinais e sintomas de congestão venosa sistémica. O sopro holossistólico audível no bordo esternal inferior esquerdo permite distinguir a regurgitação tricúspide do PVM. A ecocardiograma estabelece o diagnóstico. O tratamento visa tratar a causa subjacente e inclui restrição de sódio, diuréticos e cirurgia nos casos graves.

Referências

  1. Jelani, Q., Schussheim, A.E., & Thakkar, B.V. (2024). Mitral valve prolapse. In Lange, R.A. (Ed.), Medscape. Retrieved September 27, 2025, from https://emedicine.medscape.com/article/155494-overview#a1
  2. Enriquez-Sarano, M. (2023). Mitral valve prolapse: Clinical manifestations and diagnosis. UpToDate. Retrieved September 27, 2025, from https://www.uptodate.com/contents/mitral-valve-prolapse-clinical-manifestations-and-diagnosis
  3. Sabbag, A. (2025). Mitral valve prolapse: Overview of complications and their management. UpToDate. Retrieved September 27, 2025, from https://www.uptodate.com/contents/mitral-valve-prolapse-overview-of-complications-and-their-management
  4. Armstrong, G.P. (2025). Mitral valve prolapse. [online] MSD Manual Professional Version. Retrieved September 27, 2025, from https://www.msdmanuals.com/professional/cardiovascular-disorders/valvular-disorders/mitral-valve-prolapse-mvp
  5. Iroulart, J. M., Blanco, R., Miceli, A. L., Bagnati, R. P., Bartolomé Roca, M. C., Bergier, M. G., Krauss, J. G., Parcerisa, F., Oberti, P. F., Falconi, M. L., & Pizarro, R. (2025). Arrhythmic mitral valve prolapse: In which patients should primary prevention of sudden cardiac death be considered and how should it be implemented? Current Problems in Cardiology, 50(8), 103083. https://doi.org/10.1016/j.cpcardiol.2025.103083

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