Órgãos Linfáticos Primários

Os órgãos linfoides primários, também conhecidos como órgãos linfoides/linfáticos centrais, são os tecidos responsáveis pela produção de células linfoides a partir de células progenitoras, como a medula óssea e o timo. Na medula óssea, as células estaminais hematopoiéticas evoluem até se tornarem progenitores oligopotentes (no caso dos linfócitos, o progenitor linfoide comum). Os linfócitos B permanecem e atravessam processos de diferenciação antes de migrarem para os órgãos linfoides secundários (como os gânglios linfáticos). As células progenitoras que se irão tornar linfócitos T prosseguem para o timo para posterior maturação.

Última atualização: May 5, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Sistema imunológico

  • O sistema imunológico permite a defesa (imunidade) contra patogénios invasores que variam desde vírus a parasitas. Os componentes do sistema imunológico estão interligados pelo sangue e pela circulação linfática.
  • 2 linhas de defesa sobrepostas:
    • Imunidade inata (não específica), envolvendo as seguintes células:
      • Células natural killer
      • Monócitos/macrófagos
      • Células dendríticas
      • Neutrófilos, basófilos, eosinófilos
      • Mastócitos teciduais
    • A imunidade adaptativa (baseada no reconhecimento de antigénios específicos) envolve as seguintes células:
      • Linfócitos T e B (provenientes dos órgãos linfoides)
      • Células apresentadoras de antigénios

Sistema linfático

O sistema linfático (vasos linfáticos, linfa e órgãos linfoides) faz parte do sistema imunológico do corpo.

  • Órgãos linfóides:
    • Primários:
      • Locais onde os linfócitos se desenvolvem a partir das células progenitoras (formação inicial)
      • Incluem a medula óssea e o timo
    • Secundários:
      • Locais onde os linfócitos sofrem ativação, proliferação e maturação adicional
      • Incluem o baço, os gânglios linfáticos e o MALT (isto é, as amígdalas)
  • Vasos e ductos linfáticos:
    • Uma rede, semelhante aos vasos sanguíneos, que se estende por todo o corpo humano.
    • Interligam os órgãos linfoides e transportam o fluido intersticial (linfa)
    • Desempenham papéis cruciais na resposta imunitária e no equilíbrio de fluidos
Anatomia do sistema linfático

Anatomia do sistema linfático:
Inclui os órgãos linfoides primários (medula óssea, timo) e secundários (baço, gânglios linfáticos e MALT)
Os vasos linfáticos transportam a linfa para os vasos linfáticos maiores, no tronco, transportando o fluido de volta para a circulação venosa.

Imagem: “Anatomy of the Lymphatic System” de OpenStax. Licença: CC BY 4.0

Medula Óssea

Anatomia

A medula óssea é o tecido esponjoso encontrado nos canais medulares dos ossos longos e nas cavidades dos ossos esponjosos.

  • Medula óssea vermelha:
    • Hematopoiética/sintetiza as células sanguíneas
    • Localizada nos ossos planos (crânio, esterno, vértebras, omoplatas e ossos pélvicos) e nas epífises dos ossos longos (fémur, tíbia, úmero)
  • Medula óssea amarela:
    • Não hematopoiética
    • Localizada na diáfise dos ossos longos
Porções de medula vermelha e amarela do osso

Medula óssea:
Corte transversal que mostra a medula vermelha e amarela do osso

Imagem: “619 Red and Yellow Bone Marrow”  do OpenStax College. Licença: CC BY 3.0

Funções principais

  • Principal local de formação de células sanguíneas (até ao 5º mês de gestação).
  • Destruição de hemácias antigas (em bilirrubina, ferro, globina) pela ação dos macrófagos, com reutilização do ferro.
  • Armazenamento de gordura nos adipócitos

Estruturas

  • Hematopoiética:
    • As células estaminais hematopoiéticas (HSCs, pela sigla em inglês) são células multipotentes com a capacidade de auto-renovação e diferenciação em todas as linhagens hematopoiéticas de células.
    • HSCs → células progenitoras multipotentes (MPPs, pela sigla em inglês) → progenitores oligopotentes:
      • Células progenitoras linfoides comuns (CLPs, pela sigla em inglês)
      • Células progenitoras mieloides comuns (CMPs, pela sigla em inglês)
    • As CMPs e as CLPs desenvolvem-se em progenitoras com restrição de linhagem e, através dos estadios, tornam-se eventualmente células efetoras ou células diferenciadas:
      • CMP → granulócitos, monócitos, megacariócitos, eritrócitos
      • CLP → linfócitos (as células progenitoras T vão para o timo)
  • Não hematopoiética: estruturas que providenciam o microambiente que suporta a diferenciação das células hematopoiéticas e a proliferação das células sanguíneas:
    • Células ósseas
    • Estroma medular
    • Sinusoides

Timo

Anatomia

  • Órgão linfoide primário bilobado e encapsulado
  • Localizado no mediastino anterossuperior
  • Desenvolvimento e crescimento:
    • Desenvolve-se a partir das 3ª e 4ª bolsas faríngeas (endoderme)
    • Os linfócitos tímicos surgem da mesoderme.
    • 12 g ao nascimento, atinge o peso máximo na puberdade (30-40 g)
    • Após a puberdade, sofre involução (o parênquima linfoide é substituído por tecido adiposo).

Função principal

A principal função da medula óssea é atuar como o local de diferenciação e maturação das células T (da medula óssea, as células progenitoras vão para o timo).

Estrutura geral

  • Apresenta uma cápsula densa de tecido conjuntivo
  • Está dividido em 2 lobos assimétricos (o direito é maior):
    • Cada lobo do timo tem lóbulos menores separados por trabéculas (septos fibrosos que se estendem da cápsula externa).
    • Cada lóbulo contém um:
      • Córtex
      • Medula

Regiões funcionais

  • Córtex:
    • Parte externa do lóbulo (escuro)
    • Área onde as células derivadas da medula óssea (CD4–, CD8–) entram.
    • Contém grupos densos de células T/timócitos imaturos em desenvolvimento (com tamanhos variáveis e mitoses raras)
  • Medula:
    • Área central do lóbulo com uma coloração mais clara.
    • Organização mais livre
    • À medida que as células T amadurecem, migram do córtex para a medula.
    • Contém:
      • Linfócitos maduros (menos numerosos)
      • Corpúsculos de Hassall, ou tímicos: espirais de células epiteliais de aparência escamosa (remanescentes das células em degeneração e das citoqueratinas)
  • A junção corticomedular contém células apresentadoras de antigénios, células dendríticas e macrófagos.

Vasculatura

  • O suprimento de sangue arterial é proveniente das artérias torácicas internas.
  • O sangue venoso drena para as veias braquiocefálica e torácica interna.
  • Os vasos sanguíneos entram e saem do timo através das trabéculas.
  • O timo contém apenas linfáticos eferentes que acabam por transportar os linfócitos maduros do timo.

Vídeos recomendados

Relevância Clínica

  • Leucemia linfoblástica aguda: neoplasia maligna hematológica com proliferação descontrolada de células precursoras linfoides. A leucemia/linfoma linfoblástico agudo (LLA), a forma mais comum de cancro que afeta crianças, é caracterizada pelo aumento dos linfoblastos. A doença causa a substituição da medula normal por linfoblastos, que eventualmente entram na circulação e se infiltram noutros órgãos. A apresentação clínica consiste em fadiga, hemorragia, febre e infeções relacionadas com a anemia, a trombocitopenia e a falta de leucócitos funcionais. O diagnóstico é feito através de um esfregaço de sangue periférico e de uma biópsia de medula óssea que mostra linfoblastos. O tratamento consiste principalmente em quimioterapia administrada em fases.
  • Timoma: neoplasia tímica rara frequentemente descoberta incidentalmente em exames de imagem. Os sintomas torácicos ocorrem sobretudo devido a efeitos compressivos sobre os órgãos adjacentes (podem causar dispneia, tosse, paralisia do nervo frénico, síndrome da veia cava superior). A síndrome paraneoplásica mais comum associada a um timoma é a miastenia gravis.
  • Síndrome de DiGeorge: condição causada por uma microdeleção na localização q11.2 do cromossoma 22. Na síndrome de DiGeorge, ocorre um desenvolvimento defeituoso da 3ª e 4ª bolsas faríngeas, levando à hipoplasia do timo e da paratiroide (causando imunodeficiência de células T e hipocalcémia, respetivamente). As anomalias conotruncais apresentam-se como defeitos cardíacos congénitos. O diagnóstico é feito através dos achados clínicos, de análises laboratoriais (com células T reduzidas e níveis baixos de cálcio), ecocardiograma e testes genéticos. O tratamento pode incluir suplementação de cálcio, antibioterapia profilática, cirurgia e transplante de timo ou de células hematopoiéticas.

Referências

  1. Haynes, BF, SHaynes, B.F., Soderberg, K.A., Fauci, A.S. (2018). Introduction to the immune system. In: Jameson, J., et al. (Eds.), Harrison’s Principles of Internal Medicine, 20th ed. McGraw-Hill. https://accessmedicine.mhmedical.com/content.aspx?bookid=2129&sectionid=192284326
  2. Mescher, A.L. (Ed.). (2018). The immune system & lymphoid organs. In: Junqueira’s Basic Histology: Text and Atlas, 15th ed. McGraw-Hill. https://accessmedicine.mhmedical.com/content.aspx?bookid=2430&sectionid=190282111
  3. Scoville, S., Caligiuri, M.A. (2021). The organization and structure of lymphoid tissues. In: Kaushansky, K., et al. (Eds.), Williams Hematology, 10th ed. McGraw-Hill. https://accessmedicine.mhmedical.com/content.aspx?bookid=2962&sectionid=252523494

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