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Visão Geral dos Antídotos

Um antídoto é uma substância que neutraliza a intoxicação ou toxicidade. As substâncias que podem causar intoxicação incluem os metais pesados (de ocupação, tratamentos ou dieta), álcoois, toxinas ambientais e fármacos. Um aumento na concentração destas substâncias para níveis tóxicos pode ocorrer de forma acidental ou intencional, levando a apresentações agudas e crónicas. Algumas substâncias podem ser detetadas através de exames laboratoriais específicos, enquanto a deteção de outras depende de alterações inespecíficas. Assim, é importante reconhecer a intoxicação por substâncias pela história clínica, fatores de risco individuais e exame físico. Os antídotos, em conjunto com os cuidados de suporte e a monitorização, fazem parte do tratamento.

Última atualização: Jan 2, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Intoxicação por Metais Pesados

Cobre

  • A acumulação de cobre ocorre na doença de Wilson; resulta do aumento na ingestão (absorção aumentada ou excreção diminuida)
  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Dor abdominal, vómitos, hemorragia gástrico (hematemese), diarreia
    • Hipotensão
    • Icterícia
    • Toxicidade hepática
    • Sintomas psiquiátricos (alterações comportamentais)
    • Alteração do estado mental
  • Antídotos:
    • D-penicilamina (quelante primário)
    • Trientina (2.ª linha)
  • Outro tratamento: zinco (reduz a absorção de cobre)

Ferro

  • Acumulação devido a ingestão acidental ou transfusões múltiplas crónicas
  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Letargia/coma
    • Hipotensão
    • Sintomas gastrointestinais (náuseas, vómitos, dor abdominal)
    • Hematemeses
    • Obstrução intestinal
    • Disfunção hepática
    • Disfunção renal
    • Acidose metabólica com anion gap aumentado
    • ↓ níveis de HCO 3
  • Antídotos:
    • Desferoxamina
    • Deferasirox
    • Deferiprona

Chumbo

  • A toxicidade ocorre por ingestão ou inalação de chumbo (de tinta com chumbo, balas de chumbo, água contaminada)
  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Linhas de chumbo no bordo gengival (linhas de Burton)
    • Sintomas sistémicos (fadiga, irritabilidade, insónia, dores articulares/musculares)
    • Sintomas gastrointestinais (dor abdominal, obstipação, anorexia)
    • Sintomas do SNC (cefaleia, perda de memória a curto prazo, neuropatia periférica, queda do punho, queda do pé)
    • Encefalopatia e alteração do estado mental nas crianças
    • Raio-X com linhas metafisárias densas nos ossos longos
  • Antídotos:
    • Sucímero (ácido 2,3-dimercaptossuccínico (DMSA))
    • Ácido etilenodiaminotetracético dissódico de cálcio (EDTA)
    • Dimercaprol

Mercúrio

  • A toxicidade ocorre por exposição ocupacional (mineiros, fábricas de termómetros), odontologia (obturações dentárias), ingestão de peixe contaminado
  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Conjuntivite
    • Estomatite, aumento da salivação
    • Tosse, dispneia
    • Náuseas, vómitos
    • Dermatite
    • Neuropatia periférica, parestesias
    • Alterações crónicas: neuropsiquiátricas (depressão ou alterações do humor, ou perda de memória, neuropatia, parestesias), erupção cutânea, alopécia
  • Antídotos:
    • DMSA
    • Unitiol (2,3-dimercaptopropano-1-sulfonato (DMPS))
    • Dimercaprol
    • Penicilamina

Intoxicação Medicamentosa

Paracetamol

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Inicialmente assintomáticos (1as 24 horas)
    • Náuseas, vómitos, anorexia
    • ↑ Enzimas hepáticas
    • Hepatotoxicidade
  • Antídotos:
    • N-acetilcisteína
    • Carvão se administrado < 4 horas após a ingestão

Toxicidade anticolinérgica (por exemplo, atropina, difenidramina)

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Xerostomia, xerodermia
    • Visão turva, midríase
    • Hipertermia
    • Retenção urinária
    • ↓ ruídos intestinais
  • Antídotos:
    • Fisostigmina
    • Controlar a hipertermia, fluidoterapia IV

Benzodiazepinas

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Discurso arrastado
    • Marcha instável
    • Sonolência
    • Depressão respiratória
  • Antídoto: Flumazenil (antagonista competitivo da benzodiazepina)

Beta bloqueadores

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Bradicardia
    • Hipotensão
    • Diminuição da consciência ou delírio
    • Convulsões
    • Broncoespasmo
    • Hipoglicemia
  • Antídotos:
    • Atropina
    • Glucagon

Digitálicos (digoxina)

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Sintomas gastrointestinais (dor abdominal, náusea, vómito, diarreia)
    • Anorexia, fadiga
    • Alterações da visão (diplopia, cegueira, fotofobia)
    • Sintomas do SNC (confusão, fraqueza)
    • Bradicardia, arritmias cardíacas
    • Hipercalemia (devido à inibição da Na + -K + -ATPase)
  • Antídoto: fragmentos Fab anti-digoxina

Heparina

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Contusões
    • Hemorragia abundante
  • Antídoto: sulfato de protamina

Opióides

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Sintomas do SNC (euforia, sonolência, discurso arrastado, convulsões, pupilas puntiformes)
    • Sintomas gastrointestinais (náuseas, vómitos, obstipação)
    • Depressão respiratória
  • Antídoto: Naloxona

Salicilatos

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Acufenos
    • Febre
    • Náuseas e vómitos
    • Taquipneia precoce (alcalose respiratória)
    • Mais tarde evolui para acidose metabólica com anion gap aumentado
  • Antídotos:
    • NaHCO 3 (alcalinização da urina)
    • Descontaminação com carvão ativado se ingestão há menos de 2 horas
    • Glicose suplementar mesmo que a glicose sérica esteja normal (já que os salicilatos diminuem os níveis de glicose cerebral)
    • Hemodiálise

Antidepressivos tricíclicos (ADTs)

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Sintomas do SNC (alterações do estado mental, convulsões)
    • Depressão respiratória
    • Sintomas cardiovasculares (taquicardia, hipotensão, prolongamento do QT, arritmias)
    • Sintomas anticolinérgicos (xerostosmia, visão turva, midríase, retenção urinária, rubor, hipertermia)
  • Antídotos:
    • O 2
    • Fluidoterapia IV
    • NaHCO 3 IV para as arritmias
    • Benzodiazepinas para as convulsões
    • Descontaminação com carvão ativado se ingestão há menos de 2 horas

Varfarina

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Contusão
    • Hemorragia abundante
    • Necrose cutânea
  • Antídotos:
    • Vitamina K (reversão lenta)
    • Plasma fresco congelado (reversão imediata)
    • Concentrado de complexo de protrombina

Intoxicação por álcool Tóxico

O metanol e o etilenoglicol podem ser encontrados nos refrigerantes automóveis (anticongelantes) e nas soluções de degelo, combustível, limpeza, fluidos de limpeza de para-brisa, solventes e outros produtos industriais.

Metanol

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Visão turva com escotoma central
    • Defeito pupilar aferente (pupilas de Marcus Gunn)
    • Cefaleias
    • Alteração do estado mental
    • Náuseas e vómitos
    • Hipotensão
    • Acidose metabólica com anion gap ↑
    • Coma
  • Antídotos:
    • Fomepizol (preferencial)
    • Etanol
    • Hemodiálise nos casos graves (acidose, lesão de órgãos-alvo)

Etilenoglicol

  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Tetania
    • Dor nos flancos
    • Hematúria
    • Oligúria
    • Acidose metabólica com anion gap ↑
    • Cristais de oxalato de cálcio na urina
    • Insuficiência renal
    • Parésia dos pares cranianos
  • Antídotos:
    • Fomepizol (preferencial)
    • Etanol
    • Hemodiálise em casos graves (acidose, lesão de órgãos-alvo)

Intoxicação por Arsénio e Cianeto

Arsénio

  • A exposição pode ser através de fontes naturais (erupção vulcânica), fontes ocupacionais (fundição) ou fármacos contaminados, água ou ração animal.
  • Apresentação de toxicidade:
    • Hálito a alho
    • Desidratação
    • Sintomas gastrointestinais (vómitos, diarreia aquosa)
    • Sintomas cardiovasculares (hipotensão, prolongamento do QT, arritmias cardíacas)
    • Manifestações cutâneas: pigmentação (↓ ou ↑), hiperqueratose
    • Neuropatia em meia e luva (queimadura, hipersensibilidade dolorosa, fraqueza distal e hiporreflexia)
    • Carcinoma hepático (angiossarcoma)
    • Neoplasia do pulmão
  • Antídotos:
    • Dimercaprol
    • DMSA

Cianeto

  • A exposição pode ser por incêndios domésticos (cianeto libertado pela combustão de produtos), exposição ocupacional (mineração, indústria), nitroprussiato de sódio ou dieta (caroços/sementes de algumas frutas).
  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Hálito de amêndoa amarga
    • Rubor facial
    • Náuseas e vómitos
    • Acidose metabólica
    • Hipertensão inicial, depois hipotensão
    • Hiperventilação
    • Cefaleia, vertigem, convulsões
    • Insuficiência renal e hepática
  • Antídotos:
    • Hidroxocobalamina
    • Tiossulfato de sódio
    • Indução de metemoglobinemia através de nitritos (por exemplo, nitrito de amila, nitrito de sódio) se os fármacos anteriores não estiverem disponíveis.

Antídotos Diversos

Intoxicação por anticolinesterase (organofosfato, inseticidas)

  • Apresentação nos casos de toxicidade (colinérgica):
    • Pupilas puntiformes
    • Sudorese, salivação
    • Broncoconstrição
    • Vómitos e diarreia
    • Estimulação do SNC seguida de depressão do SNC
    • Fasciculações musculares, fraqueza, paralisia
    • Morte por insuficiência respiratória
  • Antídotos:
    • Atropina
    • Pralidoxima

Monóxido de carbono

  • A intoxicação ocorre por inalação de fumos relacionados com o fogo; também é comum nos meses de inverno (através de dispositivos de queima de combustível, veículos em áreas mal ventiladas)
  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Confusão
    • Rubor facial e hiperémia labial
    • Cefaleias, tontura
    • Diminuição da acuidade visual
    • Náuseas
    • Mal-estar
    • Taquicardia, isquémia miocárdica, arritmias
  • Antídotos:
    • O 2 a 100%
    • O 2 hiperbárico

Metemoglobina

  • A metemoglobinemia pode ocorrer por etiologia genética ou adquirida (fármacos como a dapsona, antimaláricos).
  • Apresentação nos casos de toxicidade:
    • Cianose
    • Sangue cor de chocolate
    • Arritmias
    • Toracalgia, palpitações
    • Acidose
    • Confusão
    • Convulsões, coma
  • Antídotos:
    • Azul de metileno
    • Alta dose de vitamina C

Relevância Clínica

  • Intoxicação por metanol : O metanol é um tipo de álcool não consumível (álcool de madeira) utilizado sobretudo no fabrico de combustível, solventes e anticongelante. A ingestão de metanol leva a sintomas como visão turva, escotoma central, defeito pupilar aferente, cefaleias, alteração do estado mental, náuseas, vómitos e acidose metabólica com anion gap aumentado. As complicações mais perigosas da intoxicação por metanol são a perda de visão e o coma. O tratamento é com fomepizol (bloqueia a álcool desidrogenase), etanol e hemodiálise.
  • Intoxicação por etilenoglicol : O etilenoglicol é um álcool utilizado como matéria-prima no fabrico de fibras de poliéster e soluções anticongelantes. A apresentação clínica nos casos de toxicidade inclui dor no flanco, hematúria, oligúria, acidose metabólica com anion gap aumentado, cristais de oxalato de cálcio na urina e lesão renal. O tratamento envolve a administração de fomepizol (bloqueia a álcool desidrogenase), etanol e diálise.
  • Toxicidade anticolinérgica: condição que ocorre devido a intoxicação por atropina ou difenidramina. A toxicidade anticolinérgica caracteriza-se por xerostomia, xerodermia, visão turva, midríase, hipertermia, retenção urinária e diminuição dos ruídos intestinais. O tratamento envolve a administração de fisostigmina e o controle da hipertermia.
  • Toxicidade dos organofosforados: Os organofosforados inibem irreversivelmente a enzima acetilcolinesterase. As características clínicas nos casos de toxicidade incluem pupilas puntiformes, sudorese, salivação, broncoconstrição, vómitos, diarreia, estimulação seguida de depressão do SNC, fasciculações musculares, fraqueza, paralisia e morte por insuficiência respiratória. O tratamento envolve a administração de atropina e pralidoxima.
  • Toxicidade para paracetamol: ocorre aquando da administração de grandes doses de paracetammol (> 7,5 g em adultos, e> 150 mg/kg em pediatria). Muitos pacientes permanecem assintomáticos no início (1.ª 24 horas). Os sintomas de intoxicação por paracetamol incluem náuseas, vómitos, anorexia, hepatotoxicidade com elevação das enzimas hepáticas. Para o tratamento deve-se efetuar medição dos níveis sanguíneos de paracetamol, administrar carvão ativado se ingestão há menos de 4 horas e administrar N-acetilcisteína (para restaurar os níveis de glutationa).
  • Metemoglobinemia: uma condição caracterizada por níveis elevados de metemoglobina no sangue. A metemoglobina é a forma oxidada da hemoglobina, em que o ferro heme foi convertido da forma ferrosa usual (Fe 2+ ) para a forma férrica (Fe 3+ ). A forma Fe 3+ não se consegue ligar ao oxigénio, levando a hipóxia tecidual. A condição é fatal nos caso de elevação significativa da metemoglobina (> 70%). O diagnóstico é estabelecido através da medição dos níveis de metemoglobina no sangue utilizando co-oximetria. O tratamento é feito com azul de metileno ou ácido ascórbico.
  • Toxicidade de benzodiazepinas: condição resultante da intoxicação por benzodiazepinas (por exemplo, para ansiedade, sono). Os sintomas de toxicidade das benzodiazepinas incluem discurso arrastado, marcha instável, sonolência e depressão respiratória, sobretudo se administradas concomitantemente com álcool ou opióides. Os pacientes geralmente apresentam-se hemodinamicamente estavéis e sem alteração do tamanho pupilar. O flumazenil é utilizado como antídoto.
  • Intoxicação por CO: O CO é um gás inodoro, insípido, incolor e não irritante formado pela combustão de hidrocarbonetos (incêndios, escape de automóveis, aquecedores a gás). A intoxicação por monóxido de carbono resulta numa dinminuição do transporte e utilização de O 2. As características do envenenamento por CO incluem confusão, cefaleias, tonturas, diminuição da acuidade visual, rubor facial, coma e morte. O tratamento inclui a utilização de O 2 100%; O O 2 hiperbárico é utilizado nos casos em que o tratamento com O 2 falha.

Referências

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  8. Hu, H., Goldman, R. (2019). Lead exposure and poisoning in adults. UpToDate. Retrieved April 2, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/lead-exposure-and-poisoning-in-adults
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