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Síndrome de Mallory-Weiss (Laceração de Mallory-Weiss)

A Síndrome de Mallory-Weiss (SMW) é definida pela presença de lacerações longitudinais da mucosa (tears) no esófago distal e estômago proximal, que estão geralmente associadas a qualquer atividade que provoque um aumento súbito da pressão intraluminal esofágica, como vómitos intensos ou recorrentes. As hematemeses resultam do sangramento dos vasos sanguíneos da submucosa e são autolimitadas em 80%–90% dos doentes. O diagnóstico é concretizado com base no historial clínico e a realização de uma endoscopia digestiva alta. O tratamento inclui a supressão do ácido gástrico, a intervenção endoscópica e a angioterapia se houver sangramento ativo. Geralmente não são necessárias transfusões de sangue ou cirurgia.

Última atualização: Jan 17, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Epidemiologia e Patogénese

Epidemiologia

  • 3 vezes mais comum em homens do que em mulheres, raro nas crianças
  • História de alcoolismo pesado em 40% 80% dos doentes
  • Em mulheres em idade reprodutiva, a causa mais comum é a hiperemese gravídica.
  • É responsável por cerca de 8%15% da hemorragia digestiva alta

Fatores de risco

  • Perturbação de uso de álcool: observada em 40% 80% dos doentes. A Síndrome de Mallory-Weiss (SMW) pode coexistir com varizes esofágicas.
  • Qualquer evento que provoque um aumento súbito no gradiente de pressão através da junção gastroesofágica (por exemplo, arrancos e vómitos intensos ou recorrentes, soluços[singultus] , espasmos de tosse violenta, trauma abdominal contuso)
  • Muitos doentes não apresentam fatores de risco (23% num estudo de Kortas DY, 2001).
  • Existem estudos contraditórios em relação à hérnia do hiato como fator de risco: Um estudo de grandes dimensões de 2017 não mostrou correlação (Corral, 2017).

Patogénese

  • A patogénese não foi totalmente esclarecida, sendo que vários mecanismos são possíveis.
  • Os arrancos e os vómitos causam um aumento súbito na pressão intra-abdominal que leva a um aumento na pressão intragástrica; esta pressão ultrapassa a pressão do esfíncter esofágico inferior normalmente alta, de modo que o conteúdo gástrico é empurrado para o esófago. Os reflexos autonómicos normais fazem com que o esfíncter esofágico superior (EES) relaxe nesta fase e o conteúdo gástrico seja expelido como parte do processo normal de vómito.
  • As lacerações longitudinais do esófago podem resultar de pressões intra-abdominais muito elevadas isoladamente, possivelmente combinadas com a falência no relaxamento síncrono do EES no momento da expulsão do conteúdo gástrico para o esófago. Em alguns casos, a pressão torácica aumentada (e intraluminal do esófago) transmitida do abdómen, ou o prolapso do estômago para o esófago no momento da expulsão gástrica, podem ser também os principais mecanismos patogénicos.
  • A hemorragia ocorre quando as lacerações atingem os vasos sanguíneos submucosos. Se uma laceração se estende através da espessura total do esófago e causa perfuração, transforma-se numa condição muito mais rara, a Síndrome de Boerhaave, que é uma emergência cirúrgica.

Apresentação clínica e Diagnóstico

Apresentação clínica

  • Apresenta-se tipicamente com hematemeses de início agudo com uma história de vómitos não sanguinolentos, arrancos ou tosse.
  • Dor epigástrica ou dorsal
  • Pode ser assintomático

Diagnóstico

O diagnóstico é feito através de uma endoscopia, que mostra uma laceração longitudinal (geralmente única) limitada à mucosa e submucosa, na junção gastroesofágica.

Tratamento

  • Tratamento agudo de uma hemorragia digestiva alta (HDA):
    • Avaliar a estabilidade hemodinâmica: administrar fluidos e transfundir unidades de concentrado eritrocitário (CE), se necessário.
    • Inibidores da bomba de protões IV
    • Endoscopia digestiva alta
  • Em 80% dos casos, a hemorragia para espontaneamente. No entanto, para lesões com hemorragia ativa, as opções de tratamento incluem:
    • 1ª linha: intervenções endoscópicas, incluindo injeção de adrenalina, eletrocoagulação ou laqueação elástica.
    • 2ª linha: angiografia com embolização se as intervenções endoscópicas falharem; infusão de vasopressina é usada se a embolização não for possível
    • 3ª linha: cirurgia se a angiografia falhar

Diagnóstico Diferencial

  • Síndrome de Boerhaave: perfuração do esófago resultante de uma laceração da sua espessura total, que requer cirurgia imediata para diminuir o risco de mediastinite e sépsis. O mecanismo patogénico é idêntico ao da SMW (aumento súbito da pressão intraluminal do esófago devido a arrancos ou vómitos fortes). Os sintomas podem incluir enfisema subcutâneo com crepitação ao exame objetivo, pneumomediastino, odinofagia e dispneia.
  • Varizes esofágicas: podem manifestar-se com uma hemorragia gastrointestinal ameaçadora da vida. São secundárias à hipertensão portal, geralmente causada por cirrose. Podem coexistir com o SMW.

Referências

  1. Guelrud M. Mallory Weiss Syndrome. UpToDate. Retrieved on July 24, 2020 from: https://www.uptodate.com/contents/mallory-weiss-syndrome#H2568211429
  2. Adler DG. Mallory Weiss Tear. BMJ Best Practice. Last updated: March 19, 2018, Retrieved on July 24, 2020 from: https://bestpractice.bmj.com/topics/en-gb/1145/pdf/1145/Mallory-Weiss%20tear.pdf
  3. Corral JE, Keihanian T, Kröner PT, et al. Mallory Weiss syndrome is not associated with hiatal hernia: A matched case-control study. Scand. J. Gastroenterol. 2017 Apr; 52(4):462-464.
  4. Kortas DY, Haas LS, Simpson WG, Nickl NJ 3rd, Gates LK Jr. Mallory-Weiss tear: Predisposing factors and predictors of a complicated course. Am J Gastroenterol. 2001;96(10):2863-2865. doi:10.1111/j.1572-0241.2001.04239.x

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