Reanimação Cardiopulmonar (RCP)

A reanimação cardiopulmonar (RCP) é um procedimento de emergência utilizado em pacientes em paragem cardíaca. A reanimação cardiopulmonar combina o uso de compressões torácicas, ventilação artificial e, quando disponível, um desfibrilhador automático externo (DAE) para manter o fluxo circulatório e a oxigenação dos órgãos vitais. A reanimação cardiopulmonar é uma parte integrante do suporte básico de vida (SBV) e suporte avançado de vida cardiovascular (SAVC). A RCP de elevada qualidade aumenta a probabilidade de sobrevivência. Alguns pacientes em situações críticas solicitam uma ordem ou decisão de não reanimar (DNR), que instrui os profissionais de saúde a não realizar RCP em caso de paragem cardíaca.

Última atualização: Jun 23, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Introdução

  • Incidência anual de paragem cardíaca súbita nos Estados Unidos: 180.000–450.000 +
  • A reanimação cardiopulmonar (RCP) é tentada em, aproximadamente, ⅔ dos casos.
  • O início precoce de RCP de elevada qualidade demonstrou aumentar drasticamente a taxa de sobrevida.

Descrição geral da sequência da reanimação cardiopulmonar

A reanimação cardiopulmonar consiste em compressões torácicas e ventilações de resgate, realizadas sequencialmente.

  • Identificação de paragem cardíaca:
    • Perda de consciência presenciada ou paciente encontrado inconsciente
    • Avaliar as condições de segurança do local.
    • Palpar o pulso e avaliar a respiração simultaneamente:
      • O pulso carotídeo deve ser sentido por não mais do que 10 segundos.
      • Observar movimentos torácicos, ouvir e sentir a passagem do ar (o paciente pode estar apneico ou com respiração anormal ou agónica).
  • Preparar para RCP:
    • Ativação do sistema de resposta a emergências:
      • Fora do hospital, ligar para o 112 (em Portugal).
      • No hospital, ligar para o código de paragem cardíaca.
    • Obter um desfibrilhador automático externo (DAE), se disponível.
  • Se pulso presente, mas sem respiração:
    • Fornecer ventilação de resgate (1 a cada 6 segundos).
    • Verificar novamente o pulso a cada 2 minutos.
  • Se ausência de pulso:
    • Iniciar compressões torácicas antes da ventilação de resgate.
    • Se reanimador treinado para realizar RCP, iniciar a RCP a uma frequência de 30 compressões torácicas seguidas de 2 ventilações de resgate (30:2).
    • Se reanimador leigo, RCP apenas com compressões (RCP sem ventilações boca-a-boca)
    • Utilizar o DAE assim que disponível.
    • Continuar a RCP e administrar choques conforme indicado pelo DAE.

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Ventilações de Resgate

Técnica de ventilação de resgate

  • Se possível, usar protetor facial ou outro tipo de equipamento de proteção individual (EPI).
  • Remover objetos da boca antes de iniciar as ventilações.
  • Inclinar a cabeça ligeiramente para trás.
  • Levantar o queixo.
  • Apertar o nariz.
  • Colocar a sua boca totalmente por cima dos lábios da vítima.
  • Soprar com intensidade suficiente para elevar o tórax (inclinar novamente a cabeça se ausência de elevação torácica).
Técnica de respiração de resgate

Técnica de ventilação de resgate
As ventilações de resgate estão indicadas em pacientes apneicos durante a RCP. As compressões torácicas devem ter prevalência face às ventilações de resgate, especialmente em crianças.

Imagem por Lecturio.

Manobra de Heimlich

A ausência de elevação torácica após ventilação pode indicar a presença de obstrução da via aérea por corpo estranho:

  • Com o paciente em decúbito dorsal → realizar abertura das vias aéreas através da elevação da mandíbula → se o corpo estranho for visível, remover o objeto através da inserção e deslizamento dos dedos (esta manobra não deve ser feita às cegas).
  • Realizar ventilações de resgate → se ineficazes, inclinar a cabeça e tentar novamente as ventilações de resgate.
  • Se não houver elevação do tórax → o reanimador deve ajoelhar-se ao lado ou por cima das ancas da vítima → usar 2 mãos, uma em cima da outra, e colocar a base da mão inferior abaixo do processo xifóide → pressionar ambas as mãos no abdómen com impulso rápido para cima, 5 vezes.
  • Abrir a via aérea com elevação da mandíbula → se o corpo estranho for visível, deve ser removido → caso contrário, repetir a manobra de Heimlich até que a ventilação seja bem sucedida.
Manobra de heimlich

Manobra de Heimlich
Num paciente engasgado ou inconsciente, no qual as ventilações de resgate não permitem uma ventilação adequada, a obstrução das vias aéreas por corpo estranho deve ser considerada. A manobra de Heimlich funciona através da aplicação de pressão positiva nos pulmões, expelindo forçosamente qualquer corpo estranho nas vias aéreas superiores.

Imagem por Lecturio.

Compressões Torácicas

Posicionamento

  • O paciente deve estar em decúbito dorsal.
  • O paciente deve estar deitado numa superfície firme.

Técnica

  • Em adultos, usar a técnica de compressão torácica com 2 mãos:
    • 1 mão em cima da outra
    • Colocar a base da mão sobre a porção inferior do esterno, ligeiramente abaixo dos mamilos.
  • Aplicar compressão “forte e rápida”:
    • Frequência adequada: 100–120 compressões/min
    • Profundidade adequada: 5,0–7,6 cm (2–3 pol)
    • Permitir a reexpansão total do tórax.
Compressões torácicas

Colocação das mãos na RCP para adultos, crianças e bebés
O posicionamento das mãos e a profundidade da compressão torácica variam entre adultos, crianças e bebés, enquanto a frequência permanece consistente.

Imagem por Lecturio.

Limitar as pausas durante a RCP

  • Realizar pausas apenas para efetuar as ventilações de resgate.
  • Se possível, pedir a participação de outros reanimadores na execução das compressões, permitindo a substituição (trocar a cada 2 minutos).
  • Evitar a hiperventilação: frequência de ventilação de cerca de 6/min

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Desfibrilhação

A desfibrilhação precoce demonstrou melhorar significativamente a morbilidade e a mortalidade da paragem cardíaca por fibrilhação ventricular (FV)/taquicardia ventricular (TV).

Tempo

  • As compressões torácicas devem ser iniciadas antes da colocação do desfibrilhador.
  • A análise de ritmo/administração de choque deve ser realizada o mais precocemente possível, sem interromper as compressões torácicas de elevada qualidade.
  • O momento ideal é durante a pausa de troca de reanimadores; realizada a cada 2 minutos.

Posicionamento

  • Os diferentes modelos variam ligeiramente, portanto, seguir as instruções fornecidas.
  • Geralmente, um dos elétrodos autocolantes é colocado sob a clavícula direita, e o outro no hemitórax esquerdo.

Análise de ritmo e choque

  • Os reanimadores não devem tocar no paciente durante a análise de ritmo/choque.
  • O DAE analisa automaticamente o ritmo do paciente e sugere a administração e voltagem de choque.
  • Repetir a análise a cada ciclo de 2 minutos.

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Diferenças nas Crianças

Ventilações de resgate

  • Ordem de RCP:
    • A paragem cardíaca em crianças é muitas vezes causada por hipóxia.
    • Executar 2 ventilações de resgate antes de iniciar as compressões.
  • Diferenças na técnica:
    • Se houver suspeita de engasgamento, não usar a manobra de Heimlich:
      • Efetuar pancadas interescapulares em crianças.
      • Efetuar compressões torácicas em lactentes.
    • Posicionamento da boca:
      • Em bebés/lactentes, colocar a boca do reanimador sobre o nariz e a boca da vítima.
      • Em crianças mais velhas, apertar o nariz e colocar a boca do reanimador sobre a da vítima.
Golpes nas costas e compressões no peito

Pancadas interescapulares e compressões torácicas (RCP em crianças)

Imagem por Lecturio.

Compressões torácicas

  • Em bebés/lactentes, usar a técnica de 2 dedos ou a técnica de 2 polegares (quando as mãos conseguem encaixar ao redor da criança).
  • Em crianças mais velhas, usar a técnica de 1 mão no centro do tórax.

Desfibrilhação

  • Elétrodos autocolantes pediátricos devem ser utilizados:
    • Tamanho e forma diferentes
    • Posicionamento diferente
  • A voltagem deve ser reduzida, conforme especificado nas instruções do desfibrilhador.

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Decisão de Não Reanimar (DNR)

A DNR é uma ordem médica, parte das diretrizes antecipadas de um paciente.

As ordens ou decisões de não reanimar impedem, em caso de paragem cardíaca ou respiratória, a execução dos seguintes procedimentos por profissionais de saúde:

  • RCP (compressões torácicas, ventilação artificial)
  • Cardioversão elétrica
  • Administração de fármacos antiarrítmicos ou fármacos utilizados na reanimação cardíaca (e.g., epinefrina)

Diretivas antecipadas:

  • Capacidade do paciente de decidir e refletir sobre seus desejos sobre cuidados médicos futuros
  • Podem ser concedidas por familiares (procurador de cuidados de saúde)
  • Geralmente inclui mais do que uma DNR (e.g., diretivas de estado vegetativo)

Estar sob uma DNR não proíbe os pacientes de receberem cuidados médicos adequados (cirurgias, biópsias, diálise, amostras de sangue, transferência para unidade de cuidados intensivos (UCI), etc.).

Referências

  1. Pozner, C. (2020). Basic life support (BLS) in adults. UpToDate. Retrieved December 10, 2020, from https://www.uptodate.com/contents/basic-life-support-bls-in-adults?search=CPR&source=search_result&selectedTitle=1~96&usage_type=default&display_rank=1
  2. Ralston, M. (2020). Pediatric basic life support (BLS) for health care providers. UpToDate. Retrieved December 10, 2020, from https://www.uptodate.com/contents/pediatric-basic-life-support-for-health-care-providers?search=CPR&usage_type=default&source=search_result&selectedTitle=3~96&display_rank=3#H16
  3. Silveira, M. (2020). Advance care planning and advance directives. UpToDate. Retrieved on December 10, 2020, from https://www.uptodate.com/contents/advance-care-planning-and-advance-directives?search=do-not-resuscitate&source=search_result&selectedTitle=1~71&usage_type=default&display_rank=1
  4. Brown III, C. (2020). The decision to intubate. UpToDate. Retrieved December 10, 2020, from https://www.uptodate.com/contents/the-decision-to-intubate?search=do-not-resuscitate&source=search_result&selectedTitle=3~71&usage_type=default&display_rank=3
  5. Tintinalli JE, et al. (2016). Resuscitation of children. In: Tintinalli’s Emergency Medicine: A Comprehensive Study Guide. 8th ed. New York, N.Y.: The McGraw Hill Companies.
  6. Kleinman ME, et al. (2015). Part 5: Adult basic life support and cardiopulmonary resuscitation quality — 2015 American Heart Association guidelines update for cardiopulmonary resuscitation and emergency cardiovascular care. Circulation.
  7. Kong MH et al. (2011). Systematic review of the incidence of sudden cardiac death in the United States. J Am Coll Cardiol.
  8. McNally B et al. (2005–2010). Centers for Disease Control and Prevention. Out-of-hospital cardiac arrest surveillance — Cardiac Arrest Registry to Enhance Survival (CARES), United States.
  9. Berg RA et al. (2010). Part 5: Adult basic life support: 2010 American Heart Association Guidelines for Cardiopulmonary Resuscitation and Emergency Cardiovascular Care. Circulation.

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