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Perturbação do Uso de Alucinogénios

A perturbação por uso de alucinogénios define-se pelo consumo patológico de substâncias alucinogénias que provocam alterações da perceção (visuais ou auditivas). Como exemplos existe a psilocibina (cogumelos), a dietilamida do ácido lisérgico (LSD) e a fenciclidina (PCP). Estas drogas são utilizadas devido aos seus efeitos psicadélicos, ou seja, para conseguir uma alteração temporária do estado de consciência. A maioria dos alucinogénios provoca náuseas, vómitos e efeitos simpático-miméticos ligeiros, como taquicardia, hipertensão, midríase, hipertermia e sudorese. Embora os alucinogénios possam provocar hipertermia nos casos graves, habitualmente não causam sintomas de dependência ou de abstinência.

Última atualização: Dec 10, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

Definição

A perturbação do uso de alucinogénios caracteriza-se por um padrão de uso crónico (> 12 meses) e problemático, que causa sofrimento significativo. Os alucinogénios são substâncias intoxicantes naturais ou sintéticas que alteram múltiplas perceções sensoriais.

Classificação

Intoxicação:

A intoxicação aguda leva a agitação ou agressão, bem como a sintomas psicóticos, como distúrbios de perceção ou mudanças do humor.

Abstinência:

  • Desenvolvimento de uma síndrome específica da substância devido à cessação (ou redução) do uso dessa mesma substância
  • Os pacientes apresentam sintomas físicos (náuseas, diarreia, calafrios e mialgias) e / ou psicológicos (compulsão ou sensação de necessidade de usar a substância).
  • Os alucinogénios não provocam síndrome de abstinência.

Tolerância:

Tolerância é a necessidade de aumentar a dose da substância para atingir o efeito desejado (efeito diminuído se usar a mesma quantidade da substância).

Epidemiologia

Prevalência:

  • 10% das pessoas consomem, ao longo da vida, nos Estados Unidos
  • Consumo mais prevalente nos homens

O uso de alucinogénios está associado a uma menor morbidade e mortalidade quando comparado com outras substâncias.

Farmacologia

Mecanismo de ação

  • O mecanismo de ação exato ainda não é bem conhecido.
  • Pode envolver a interação de vários neurotransmissores (serotonina, dopamina e glutamato)
  • Modos de ingestão: sobretudo oral, mas também através do fumo, inalação e injeções IV
Tabela: Diferentes tipos de drogas alucinogénias
Alucinogénio Características Exemplos
Psicadélicos
  • Funcionam através da ativação dos recetores da serotonina 2A (5-HT2A)
  • Os principais efeitos incluem alterações do pensamento, humor e perceção.
  • Afeção intelectual e de memória mínimas
  • Sem estupor ou efeitos narcóticos
  • Dietilamida de ácido lisérgico (LSD; “ácido”)
  • Fenciclidina (PCP; “pó de anjo”)
  • Psilocibina (“cogumelos”)
  • N, N-dimetiltriptamina (DMT)
  • Mescalina
Empatógeno
  • Atua através da combinação da inibição e libertação da recaptação de serotonina e dopamina
  • Provoca experiências de empatia emocional e prazer
MDMA (”ecstasy”)
Fármacos dissociativas
  • Atuam através do N-metil-d-aspartato (receptor NMDA)
  • Provocam analgesia, amnésia, desrealização e perceção dissociativa
  • Nistagmo horizontal e vertical, hipertensão marcada e convulsões
  • Cetamina (“special K”)
  • Dextrometorfano

Apresentação Clínica e Diagnóstico

Intoxicação por alucinogénios

Os efeitos da intoxicação aguda podem ser referidos como uma “trip”. Os sintomas de “bad trip” podem incluir ansiedade, pânico e sintomas psicóticos (paranoia, alucinações).

Podem distinguir-se quatro fases diferentes:

  1. Fase inicial:
    • Agitação interna
    • Taquicardia
    • Vertigem
  2. Fase delirante (efeitos psicadélicos; por exemplo, a sensação de poder voar)
  3. Fase de relaxamento
  4. Fase pós-efeito:
    • Exaustão
    • Ansiedade
    • Estado depressivo

Sintomas gerais:

  • Alterações da perceção:
    • Ilusões
    • Alucinações
    • Distorções da imagem corporal
    • Sinestesia
  • Humor lábil
  • Pupilas dilatadas
  • Taquicardia
  • Hipertensão arterial
  • Hipertermia
  • Tremores
  • Descoordenação
  • Sudação
  • Palpitações
  • Nota: O LSD pode causar síndrome serotoninérgico se for combinado com outras drogas que aumentam os níveis de serotonina.
    • Inibidores seletivos de recaptação de serotonina (SSRIs, pela sigla em inglês)
    • Inibidores de recaptação de serotonina-norepinefrina (SNRIs, pela sigla em inglês)
    • Antidepressivos tricíclicos (TCAs, pela sigla em inglês)
    • Tramadol

Sintomas específicos:

  • PCP:
    • Comportamento violento, impulsividade, hipertermia grave
    • Nistagmo
    • Convulsões
  • LSD:
    • Alucinações visuais
    • Despersonalização

Abstinência de alucinogénios

Geralmente não ocorre síndrome de abstinência.

Perturbação do uso de alucinogénios

  • Muitas pessoas utilizam inalantes de forma temporária sem desenvolverem sintomas de dependência ou abstinência.
  • As pessoas podem desenvolver dependência psicológica das alterações sensoriais provocadas pelas drogas.
  • Perturbação da perceção por persistência de alucinogénio: os distúrbios percetuais experienciados durante a intoxicação por alucinogénio surgem de forma contínua enquanto o paciente está sóbrio

Tratamento

Intoxicação por alucinogénios

O tratamento da intoxicação por alucinogénios depende dos sintomas que o doente apresenta.

  • Agitação severa ou psicose:
    • Isolamento do paciente num quarto silencioso
    • 1ª linha: benzodiazepinas e antipsicóticos (por exemplo, haloperidol) para sedação
    • Para a medicação, é preferível a via IV devido ao rápido início de ação.
    • Tratamento sintomático (ou seja, controlar a hipertensão e as arritmias)
    • Tratamento da hipertermia:
      • Banho de gelo
      • Manta de arrefecimento
  • Alterações hemodinâmicas:
    • Tratamento de suporte
    • Hidratação
    • Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos

Abstinência de alucinogénios

Não existe nenhuma terapêutica farmacológica aprovada pela FDA para a abstinência de alucinogénios, uma vez que os sintomas são ligeiros.

Perturbação do uso de alucinogénios

  • Os médicos devem tentar construir uma relação com os pacientes de forma tratar as perturbações de humor ou de personalidade subjacentes.
  • Não existem intervenções psicoterapêuticas específicas indicadas para as perturbações por uso de alucinogénios.

Diagnóstico Diferencial

  • Síndrome serotoninérgica: condição com potencial de risco de vida provocada por elevações marcadas na atividade serotoninérgica. A síndrome pode ser desencadeada pela ingestão de doses elevadas de determinados fármacos serotoninérgicos, ou pela ingestão desses fármacos simultaneamente com outros fármacos que aumentam a sua atividade. A síndrome serotoninérgica é caracterizada por hiperatividade autonómica, instabilidade neuromuscular e alteração do estado mental. Clónus espontâneo e hiperreflexia são alterações altamente específicas da síndrome serotoninérgica, não sendo encontradas na intoxicação por alucinogénios.
  • Intoxicação por anfetaminas: as anfetaminas produzem o seu efeito através do aumento da libertação e do bloqueio da recaptação dos neurotransmissores (dopamina, norepinefrina, serotonina). A intoxicação resulta em euforia, dilatação das pupilas, hipertensão, escoriações da pele, paranoia e agressão severa. Podem surgir complicações fatais tais como enfarte do miocárdio e coma. As alterações encontradas costumam ser semelhantes às da intoxicação por alucinogénios e o tratamento de uma das substâncias deve ter em consideração a outra substância.
  • Intoxicação por cocaína: a cocaína é um simpático-mimético indireto que bloqueia a recaptação de dopamina, epinefrina e norepinefrina na fenda sináptica, provocando um efeito estimulante (euforia, aumento de energia, irritabilidade, psicose, diminuição do apetite, perda ponderal) semelhante ao das anfetaminas. Os sintomas de abstinência incluem depressão severa e fadiga. As opções de tratamento são limitadas e incluem benzodiazepinas nas situações de intoxicação aguda e psicoterapia para tratamento a longo prazo. Os alucinogénios não causam sintomas de abstinência ou dependência, ao contrário da cocaína.

Referências

  1. First Aid for the Psychiatry Clerkship, 4th edition, chapter 7, Substance-related and addictive disorders, pages 80, 91–92.
  2. Le T, Bhusan V, Sochat M, et al. (Eds.) (2020). First Aid for the USMLE Step 1, 30th ed. (p. 559).
  3. Thompson, A. (2021). Clinical management of drug use disorders. DeckerMed Medicine.
  4. Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz, P. (2014). Kaplan and Sadock’s synopsis of psychiatry: Behavioral sciences/clinical psychiatry (11th ed.). Chapter 20, Substance use and addictive disorders, pages 656–659. Philadelphia, PA: Lippincott Williams and Wilkins.
  5. Leikin JB, Krantz AJ, Zell-Kanter M, Barkin RL, Hryhorczuk DO. (1989). Clinical features and management of intoxication due to hallucinogenic drugs. Medical toxicology and adverse drug experience, 4(5), 324–350. https://doi.org/10.1007/BF03259916
  6. Delgado, J. (2024). Intoxication from LSD and other common hallucinogens. UpToDate. Retrieved December 10, 2024, from https://www.uptodate.com/contents/intoxication-from-lsd-and-other-common-hallucinogens

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