Klebsiella

Klebsiella são bacilos gram-negativos encapsulados, que formam colónias rosa no agar MacConkey, devido à fermentação da lactose. O principal fator de virulência é a cápsula polissacarídica. Klebsiella pneumoniae (a espécie patogénica mais importante) está associada à pneumonia de aspiração lobar em pacientes com perturbação de uso de álcool. Também é responsável por infeções nosocomiais, como a pneumonia adquirida no hospital e infeções do trato urinário, assim como abcessos destruidores de tecidos (fígado, pulmão, baço). O tratamento é feito com cefalosporinas nas estirpes sensíveis. No entanto, muitas espécies de Klebsiella possuem plasmídeos que conferem resistência a múltiplos antibióticos.

Última atualização: Sep 6, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Classificação

Fluxograma de classificação de bactérias gram negativas

Bactérias gram-negativas:
A maioria das bactérias pode ser classificada de acordo com um procedimento de laboratório chamado coloração de Gram.
As paredes celulares bacterianas com uma camada fina de peptidoglicanos não retêm a coloração cristal violeta utilizada na técnica coloração de Gram. No entanto, as bactérias gram-negativas retêm a coloração de contraste de safranina e aparecem com cor vermelho-rosado. Estas bactérias podem ainda ser classificadas de acordo com a sua morfologia (diplococos, bastonetes curvos, bacilos e cocobacilos) e capacidade de crescerem na presença de oxigénio (aeróbios versus anaeróbios). As bactérias Gram-negativas podem ser identificadas com precisão através de culturas em meios específicos (Agar Tríplice Açúcar Ferro (TSI)), com a identificação das enzimas (urease, oxidase) e determinação da capacidade de fermentar a lactose.
* Cora pouco com coloração de Gram
** Bastonete pleomórfico/cocobacilos
*** Requer meios de transporte especiais

Imagem por Lecturio.

Características Gerais

Características gerais

  • Bacilos gram-negativos
  • Anaeróbios facultativos
  • Imóveis
  • Encapsulados (cápsula de polissacarídeo)
  • Organização em pares ou em cadeias curtas
  • Forma grandes colónias mucoides
  • Principais espécies patogénicas: Klebsiella pneumoniae

Bioquímica

  • Fermentadores de lactose:
    • Fermentam lactose em ácido lático
    • Colónias rosas em agar MacConkey
  • Urease positivo: hidrólise da ureia em amónia e dióxido de carbono
  • Oxidase negativo
  • O citrato e a glicose são as únicas fontes de carbono
  • A amónia é a única fonte de nitrogénio

Habitats/reservatórios

  • Água/solo
  • Plantas, animais e insetos
  • Flora normal do nariz, boca e trato gastrointestinal humanos

Fatores de virulência

  • Cápsula de polissacarídeo:
    • Evita a fagocitose
    • 77 serotipos de cápsulas diferentes
    • Os tipos K1 e K2 são os mais virulentos.
  • Fenótipo de hipermucoviscosidade:
    • Produção de teia de exopolissacarídeo mucoviscoso
    • Associado a abcessos hepáticos e outros abcessos teciduais destrutivos
    • Teste da corda: Fio viscoso > 5 mm quando a colónia na placa de agar é esticada com uma alça bacteriológica
  • Lipopolissacarídeo:
    • Cadeia lateral de lipopolissacarídeo tipo O
    • Protege as bactérias de danos à membrana mediados pelo complemento
  • Sideróforos:
    • Quelantes de ferro
    • Aumentam a absorção de ferro, essencial para o crescimento de Klebsiella
  • Pili (fímbrias):
    • Aderência mediada às superfícies epiteliais e mucosas
    • Formação de biofilmes resistentes ao tratamento

Relevância Clínica

Epidemiologia e transmissão

  • Taxas de colonização:
    • 5%–38% colonização intestinal
    • 1%–6% colonização na nasofaringe
    • São mais elevadas em:
      • Indivíduos com perturbação de uso de álcool (nasofaringe)
      • Indivíduos de etnia chinesa (intestinal)
      • Doentes hospitalizados
  • Transmissão:
    • Infeção hospitalar mais comum
    • Adquirida na comunidade menos frequente
    • Pessoa para pessoa
    • Associado à aspiração (pneumonia)
    • Contaminação do meio ambiente (raro)
  • Fatores de risco:
    • Perturbação de uso de álcool (pneumonia adquirida na comunidade)
    • Defesas do hospedeiro prejudicadas:
      • Hospitalização, sobretudo indivíduos algaliados ou intubados
      • Diabetes
      • Doença pulmonar obstrutiva crónica grave

Manifestações infeciosas

Pneumonia:

  • 7,6% das pneumonias adquiridas no hospital (pacientes intubados e não intubados)
  • Nos casos adquiridos na comunidade há predileção por segmentos posteriores do lobo superior direito
  • Expetoração em “geleia de groselha
  • Febre, tosse, dispneia, dor torácica pleurítica
  • Complicações:
    • Abcesso pulmonar (pode simular tuberculose na radiografia do tórax)
    • Empiema

Infeções do trato urinário (ITUs):

  • 3ª causa de ITUs
  • Pode causar ITU inferior (cistite) e superior (pielonefrite)
  • Pode estar associado a cálculos renais de fosfato de amónia e magnésio (cálculos de estruvite)
  • Em pacientes hospitalizados com cateteres urinários

Bacteriemia relacionada com cateteres:

  • Associado a cateteres venosos centrais
  • Causa relativamente infrequente (cerca de 5%)

Infeções menos frequentes:

  • Intra-abdominal:
    • Abcesso hepático
    • Abcesso esplénico
    • Peritonite bacteriana espontânea
  • Meningite: geralmente associada a procedimentos neurocirúrgicos
  • Endocardite
  • Endoftalmite
  • Infeções da pele e dos tecidos moles
Radiológico (a) e patológico (b) representação de klebsiella pneumonia

Klebsiella pneumoniae representada em radiografia (A) e lâmina histopatológica (B): consolidação pulmonar bilateral simétrica e infiltração maciça de neutrófilos no interstício e espaços intra-alveolares

Imagem: “Fulminant Klebsiella pneumoniae pneumonia in an immunocompetent patient without alcohol-use disorder” por Benyashvili Z, Djirbe A, Assy N. Licença: CC BY 3.0

Mnemónica

Para ajudar a lembrar as manifestações clínicas de Klebsiella, memorize “os 5 A de KlebsiellA:”

  • Aspiration pneumonia – Pneumonia de aspiração
  • Alcohol-use disorder – Perturbação de uso de álcool
  • Abscesses in lungs and liver – Abcessos pulmonares e hepáticos
  • Di-A-betes
  • “Curr-A-nt jelly” sputum – Expetoração em “geleia de groselha”

Resistência a antibióticos

  • Algumas estirpes produzem beta-lactamases de espectro alargado (ESBL).
  • Resistência à maioria dos antibióticos beta-lactâmicos: cefalosporinas, penicilinas, monobactâmicos, carbapenems
  • Algumas estirpes são também resistentes a outros antibióticos (resistência a múltiplos fármacos).
  • Principal fator de risco: exposição prévia a antibióticos
  • Mediada por plasmídeos que codificam beta-lactamases e outras enzimas modificadoras
  • Plasmídeos trocados via pili
Troca de plasmídeo em klebsiella

Troca de plasmídeos na Klebsiella
As pili permitem a troca de plasmídeos replicados entre 2 células. O plasmídeo é replicado e então transferido via pili do doador para a célula recetora.

Imagem por Lecturio.

Identificação

  • Coloração de Gram:
    • Expetoração: sensibilidade cerca de 50%
  • Culturas:
    • Sangue
    • Urina
    • Fluidos corporais
    • Aspirado do abcesso

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Referências

  1. Wen-Liang Y., Yin-Ching C. (2019). Clinical features, diagnosis, and treatment of Klebsiella pneumoniae infection. Retrieved 1 January 2021, from https://www.uptodate.com/contents/clinical-features-diagnosis-and-treatment-of-klebsiella-pneumoniae-infection
  2. Wen-Liang Y., Yin-Ching C. (2019). Microbiology and pathogenesis of Klebsiella pneumoniae infection. Retrieved 1 January 2021, from https://www.uptodate.com/contents/microbiology-and-pathogenesis-of-klebsiella-pneumoniae-infectioniella-pneumoniae-infection

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