Exame Abdominal

O exame abdominal é um componente do exame físico que avalia o abdómen à procura de sinais de doença. Este consiste na inspeção, auscultação, percussão e palpação. Os achados do exame físico do abdómen, em conjunto com as informações da história clínica, são importantes para a formação de diagnósticos diferenciais e planos de tratamento para o paciente.

Última atualização: Jul 12, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Introdução

1.º passos:

  • Explicar os passos ao paciente e obter consentimento.
  • Posicionar o paciente em decúbito dorsal, braços ao lado do corpo, com o abdómen exposto.
  • Garantir uma boa iluminação, privacidade e higiene.
  • Cobrir o paciente com um lençol para preservar o calor.
  • Convencionalmente, o exame físico é realizado com o profissional de pé do lado direito do paciente.

Os componentes do exame abdominal:

  • Inspeção
  • Auscultação
  • Percussão
  • Palpação

Numa ordem diferente (auscultação antes da percussão), os mesmos elementos compõem as outras secções do exame físico, mas apresentam diferentes graus de importância.

Os exames pélvico, genital e retal devem complementar o exame abdominal para um diagnóstico completo da patologia abdominal.

Anatomia:

O abdómen é dividido em 4 quadrantes: superior direito, inferior direito, superior esquerdo e inferior esquerdo. Os quadrantes correspondem a órgãos e estruturas específicas.

Inspeção

  • Observar o nível de desconforto do paciente:
    • Deitado parado: pode ser um sinal de peritonite
    • Inquieto: pode ser um sinal de cólica renal
  • Verificar a superfície, o contorno e os movimentos do abdómen.
  • Achados:
    • Cicatrizes de cirurgias prévias ou outras alterações cutâneas:
      • Icterícia na insuficiência hepática
      • Sinal de Grey Turner: hematomas nos flancos (um sinal de hemorragia retroperitoneal) ou hemorragia atrás do peritoneu
      • Sinal de Cullen: edema superficial e hematoma no tecido adiposo subcutâneo à volta do umbigo, indicativo de pancreatite aguda, hemorragia por trauma abdominal fechado, hemorragia por rutura aórtica ou hemorragia por rutura de gravidez ectópica
    • Observar a forma abdominal: plana, redonda, distendida, simétrica ou assimétrica
    • Estrias abdominais, observadas em:
      • Síndrome de Cushing
      • Gravidez
      • Aumento de peso
    • Alterações vasculares:
      • Caput medusae (sinal de hipertensão portal)
      • Angiomas em cereja (angiomas senis):
        • Tumor benigno inócuo
        • Proliferação anormal de vasos sanguíneos
        • Comum em pacientes idosos
    • Distribuição capilar (pode ser indicativa de fornecimento vascular)
    • Protusões (massas, hérnias)

Auscultação

Como as manipulações mecânicas do abdómen podem alterar a regularidade dos sons intestinais, a auscultação é realizada previamente à percussão ou palpação.

Passos:

  • Ouvir durante 2 minutos.
  • Auscultar todos os 4 quadrantes.

Achados:

  • Sopros:
    • Um som anormal gerado pelo fluxo sanguíneo turbulento numa artéria devido a obstrução parcial
    • Podem ser indicativos de aterosclerose ou doença aneurismática
    • Ouvir sobre a aorta, artérias renais e artérias ilíacas.
  • Ruídos intestinais:
    • Sons intestinais gorgolejantes, de baixa a média frequência, a cada 5 – 15 segundos são indicativos de peristaltismo normal.
    • Sons de borborigmo: gorgolejo estomacal (normal)
    • Ruídos intestinais hiperativos:
      • Alta frequência (metálico): obstrução intestinal
      • Gastroenterite, síndrome do intestino irritável, uso de laxantes, diarreia e hemorragia gastrointestinal (GI)
    • Ruídos intestinais ausentes/hipoativos:
      • Peritonite
      • Obstrução intestinal avançada
      • Isquemia intestinal
      • Íleo
Auscultação do abdome - ouvindo sons intestinais

Auscultação do abdómen: ouvir os ruídos intestinais

Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0
Auscultação do abdome - ouvir os sopros sobre a aorta, artérias ilíacas e renais

Auscultação do abdómen: ouvir os sopros sobre a aorta, artérias ilíacas e renais

Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Percussão

  • Percutir todos os 4 quadrantes.
  • A técnica de percussão abdominal é a mesma do exame pulmonar:
    • Colocar a mão esquerda firmemente contra a parede abdominal apoiando apenas o dedo médio na pele.
    • Percutir a articulação interfalângica distal do dedo médio esquerdo 2-3x com a ponta do dedo médio direito.
  • Achados normais:
    • Som timpânico sobre estômago e intestinos cheios de ar
    • Som maciço e abafado sobre órgãos cheios de líquido ou sólidos (fígado, baço)
  • Determinação do tamanho do fígado:
    • Comece logo acima da mama direita (~ 3º espaço intercostal), na linha medioclavicular, para produzir um som ressonante.
    • Mover a mão alguns centímetros para baixo e repetir.
    • Após várias vezes, atinge-se a área hepática, produzindo um som maciço → recordar qual é o local (ponderar assinalar no paciente)
    • Continuar a descer até que o som altere novamente, quando é atingida a margem inferior do fígado → marcar o local
    • Utilizar uma régua para medir a distância entre os pontos.
    • A extensão total do fígado normal é de 6 a 12 cm.
  • Avaliar a presença de ascite:
    • Teste da onda ascítica:
      • Instruir o paciente a empurrar as mãos para baixo na linha média do abdómen.
      • O resultado é positivo se a vibração for sentida do lado contralateral do abdómen.
    • Teste da macicez variável:
      • Percutir a linha média do abdómen para obter uma área de percussão ressonante.
      • Percutir lateralmente (afastado do examinador).
      • Instruir o paciente a inclinar-se para o lado lateral direito.
      • Aguardar 30 segundos para que seja possível a deslocação de qualquer fluido.
      • O teste é positivo se a área de macicez se tornar ressonante.
Avaliando para o embotamento de mudança

Teste da macicez variável

Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Palpação

  • Perguntar ao paciente qual a área de maior dor; começar pela zona mais afastada da área dolorosa.
  • Manter contacto visual durante a palpação (principal indicador de dor ou desconforto).
  • Começar com a palpação superficial para avaliar:
    • Tónus muscular
    • Dor superficial
  • Palpação profunda para avaliar:
    • Dor profunda
    • Massas abdominais, incluindo aneurisma da aorta (pulsátil)
    • Defesa voluntária ou involuntária (contração muscular à medida que é aplicada pressão)
    • Rigidez (espasmos involuntários, sinal de peritonite)
    • Dor de rebound:
      • Dor que ocorre quando o examinador, repentinamente, deixa de exercer compressão na parede abdominal.
      • Sinal de peritonite
  • Palpação de órgãos:
    • Fígado:
      • Palpação com início no quadrante inferior direito (QID) em direção ao quadrante superior direito (QSD).
      • Pedir ao paciente para respirar fundo de forma a facilitar a palpação hepática.
    • Baço:
      • Palpação com início no quadrante inferior esquerdo (QIE) em direção ao quadrante superior esquerdo (QSE).
      • Pedir ao paciente para respirar fundo de forma a facilitar a palpação esplénica.
    • Rins:
      • Colocar 1 mão sob o flanco do paciente; pressionar as pontas dos dedos da outra mão contra o mesmo flanco a partir de cima.
      • Sentir um aumento renal entre os dedos.
  • Estruturas palpáveis normais:
    • Borda hepática (especialmente em pacientes magros e na faixa etária pediátrica)
    • Lobo inferior do rim direito
    • Aorta (em pessoas magras)
    • Bexiga
    • Gânglios linfáticos inguinais
    • Fezes no cólon descendente
Palpação para sensibilidade abdominal em 4 quadrantes

Palpação à procura de dor abdominal nos 4 quadrantes

Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Testes Especiais

  • Sinal de Murphy:
    • Desencadeado ao pedir ao paciente que inspire e respire fundo enquanto se realiza a palpação do quadrante superior direito
    • Se existir dor na inspiração, o sinal de Murphy é positivo.
    • Indicativo de inflamação da vesícula biliar (colecistite)
  • Dor no ângulo costovertebral: bater suavemente na área do ângulo costovertebral para avaliar a existência de patologia renal.
  • Sinais de apendicite:
    • Dor no ponto de McBurney: dor máxima na área localizada a 3 – 4 cm da espinha ilíaca anterior até o umbigo
    • Sinal de Rovsing: dor no QID à palpação do QIE
    • Sinal do psoas: dor no QID com extensão passiva do quadril (característico do apêndice retrocecal)
    • Sinal do obturador: dor no QID com rotação interna do quadril e joelho em flexão (apêndice pélvico)
  • Completar o exame abdominal com a realização de:
    • Exame geniturinário:
      • Exame testicular
      • Exame pélvico
    • Exame do toque retal:
      • Avaliar a presença de hemorragia retal.
      • Avaliar a presença de massas retais.
      • Avaliar a próstata.

Referências

  1. Rabinowitz, S. (2020). Abdominal Examination. Emedicine. Retrieved April 16, 2021, from https://emedicine.medscape.com/article/1909183-overview
  2. Kiev J, Eckhardt A, Kerstein MD. (1993). Reliability and accuracy of physical examination in detection of abdominal aortic aneurysms. Vascular Surgery 31: 143–46.
  3. McClouglin MJ, Colapinto RF, Hobbs BB. Abdominal bruits: Clinical and angiographic correlation. JAMA 1975; 232: 1238–42.
  4. Naylor CD. (1994). Physical examination of the liver. JAMA. 271: 1859–65.
  5. Sapira JD. (1990). The Art and Science of Bedside Diagnosis. 1st edition, Baltimore; Williams and Wilkins. 371–90.

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