Bulimia Nervosa

Bulimia nervosa é uma perturbação alimentar marcada por episódios recorrentes de ingestão alimentar compulsiva acompanhados de comportamentos compensatórios inadequados (uso de laxantes ou diuréticos, vómitos autoinduzidos, jejum ou exercício excessivo) para neutralizar os efeitos da compulsão alimentar e prevenir o ganho de peso. Comportamentos que ocorrem pelo menos 2x/semana durante 3 meses Os doentes têm peso corporal normal (ou ligeiramente elevado). O tratamento consiste numa combinação de psicoterapia e medicamentos antidepressivos.

Última atualização: Oct 31, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Definição

Bulimia nervosa é uma perturbação alimentar caracterizada por episódios recorrentes de ingestão alimentar compulsiva (consumo de uma grande quantidade de alimentos num determinado período) acompanhados de comportamentos compensatórios inapropriados.

Epidemiologia

  • Prevalência vitalícia: 1%
  • Mulheres de 18 a 35 anos são as mais frequentemente afetadas
  • Mais prevalente em mulheres
  • Surge mais tarde do que na anorexia nervosa

Fisiopatologia

  • Não há consenso sobre a fisiopatologia
  • Pode estar relacionado com o funcionamento anormal dos circuitos corticolimbicos (envolvidos no apetite)
  • A eficácia dos antidepressivos bem como a já estabelecida ligação entre a serotonina e saciedade sugerem o envolvimento da serotonina e da norepinefrina na fisiopatologia da bulimia.

Diagnóstico

História

  • O diagnóstico é clínico, com base em critérios específicos:
    • Episódios repetidos de compulsão alimentar seguidos de sentimentos de repulsa e de culpa
    • Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes para impedir o ganho ponderal, incluindo:
      • Uso de laxantes ou diuréticos
      • Vómitos autoinduzidos
      • Jejum
      • Exercício excessivo
    • Ênfase excessivo na forma corporal ou no peso
  • Pelo menos 2 episódios por semana durante 3 meses
  • Os episódios de compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios não ocorrem exclusivamente durante os episódios de anorexia nervosa.

Exame físico

Os resultados de exames específicos podem ser sugestivos de perturbações do comportamento alimentar:

  • IMC > 18.5 kg/m2
  • Fadiga fácil
  • Hipotensão ortostática
  • Sinais físicos consistentes com o vómito autoinduzido:
    • Hipertrofia das glândulas salivares
    • Cáries dentárias
    • Cicatrizes ou calos no dorso da mão devido ao contacto com os dentes (sinal de Russell)
  • Desidratação
  • Irregularidades menstruais
  • Síndrome de Mallory-Weiss
  • Inchaço intestinal
  • Obstipação
Effects of bulimia on different systems in the body

Representação dos efeitos da bulimia em diferentes sistemas do corpo

Imagem por Lecturio.

Achados laboratoriais

Embora não sejam caraterísticas diagnósticas, alguns achados laboratoriais podem sugerir bulimia:

  • Aumento da amilase sérica devido à hipertrofia da glândula parótida
  • Anormalidades eletrolíticas (hipocalemia, hipocloremia), que surgem pelos vómitos recorrentes e pela perda renal excessiva de potássio
  • Alcalose metabólica (devido à perda recorrente de ácido no vómito)

Tratamento

Tratamento

O tratamento de 1ª linha é uma combinação de psicoterapia e farmacoterapia.

  • Psicoterapia:
    • A base do tratamento é a TCC.
    • O objetivo é a normalização dos comportamentos alimentares do doente e evitar os episódios destrutivos de compulsão alimentar.
    • A TCC isolada apresenta melhores resultados que o uso de farmacoterapia isolada.
  • Farmacoterapia:
    • Os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (SSRIs; por exemplo, fluoxetina) são os fármacos de primeira linha.
    • Outras opções:
      • Antidepressivos tricíclicos
      • Inibidores da monoamina oxidase
      • Estabilizadores do humor
    • A bupropiona está contraindicada na bulimia nervosa (pode induzir convulsões).
  • Terapias adjuvantes:
    • Reabilitação nutricional: necessita de um nutricionista como guia para ajudar na reeducação dos pilares da nutrição
  • A hospitalização pode ser necessária se:
    • Falha do tratamento em ambulatorio
    • Comportamentos autolesivos
    • Elevado risco de suicídio
    • Alterações eletrolíticas ou metabólicas graves

Prognóstico

  • Taxas de remissão e recuperação mais elevadas do que na anorexia nervosa
  • Doentes com abuso de substâncias geralmente têm piores resultados.

Diagnóstico Diferencial

  • Anorexia nervosa: perturbação alimentar caracterizada pelo medo intenso de ganhar peso, hábitos alimentares restritos e imagem corporal distorcida. Os doentes com anorexia nervosa estão geralmente abaixo do peso e relutantes na procura de ajuda médica. O tratamento envolve TCC e medicação antidepressiva. Os casos mais graves podem exigir hospitalização.
  • Perturbação de Ingestão Alimentar Compulsiva: perturbação alimentar marcada por episódios recorrentes de compulsão sem comportamento compensatório inadequado o que resulta em flutuações no peso corporal. Os episódios ocorrem pelo menos semanalmente durante 3 meses. O tratamento consiste numa combinação de psicoterapia e medicamentos antidepressivos.
  • Perturbação de ruminação: regurgitação repetida de alimentos (que podem ser mastigados de novo, redeglutidos ou cuspidos) e que não se deve a nenhuma condição médica identificável (por exemplo, DRGE). O tratamento envolve múltiplas técnicas de TCC, incluindo psicoterapia de biofeedback e terapêutica médica quando apropriada (por exemplo, inibidores da bomba de protões).
  • Síndrome de Kleine-Levin (KLS): também conhecida como “Doença da bela adormecida”, é uma condição rara do sono que inclui episódios recorrentes de hipersónia e apresenta anormalidades comportamentais ou cognitivas, incluindo alimentação compulsiva e hipersexualidade. Os doentes com KLS não têm este medo intenso de aumentar de peso nem direcionam grande parte da sua autoestima para a forma corporal, ao contrário dos doentes com bulimia nervosa.

Referências

  1. Kessler RC, et al. (2013). The prevalence and correlates of binge eating disorder in the World Health Organization World Mental Health Surveys. Biol Psychiatry. 73(9), 904–914. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23290497/
  2. Norris M., et al. (2014). Exploring avoidant/restrictive food intake disorder in eating disordered patients: a descriptive study. Int J Eat Disord. 47(5), 495–499. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24343807/
  3. Mitchell, JE, Crow S. (2006). Medical complications of anorexia nervosa and bulimia nervosa. Curr Opin Psychiatry. 19(4), 438–43. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/16721178/
  4. Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. (2014). Kaplan and Sadock’s synopsis of psychiatry: Behavioral sciences/clinical psychiatry (11th ed.). Chapter 15, Feeding and Eating Disorders. Philadelphia, PA: Lippincott Williams and Wilkins. pp. 509–532.
  5. Westmoreland P. (2017). Feeding and eating disorders. Retrieved May 27, 2021, from https://doi.org/10.2310/im.13038
  6. Westmoreland P. (2018). Clinical management of feeding and eating disorders. Retrieved May 27, 2021, from https://doi.org/10.2310/im.13039

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