Bacia: Anatomia

A bacia consiste na cintura pélvica óssea, no pavimento pélvico muscular e ligamentos e na cavidade pélvica, que contém vísceras, vasos e múltiplos nervos e músculos. A cintura pélvica, composta por 2 ossos da anca e o sacro, é uma estrutura óssea em forma de anel do esqueleto axial que liga a coluna vertebral às extremidades inferiores. As articulações do anel pélvico incluem a sínfise púbica anteriormente e as articulações sacroilíacas posteriormente. Os ossos da anca são compostos de 3 ossos fundidos: o púbis, o ísquio e o ílio. A cavidade pélvica abriga várias estruturas gastrointestinais, urinárias e reprodutivas, sustentadas pelos músculos e tecido conjuntivo do pavimento pélvico. A bacia feminina, com acomodações para o parto, geralmente é mais larga e maior que a bacia masculina.

Última atualização: Jan 15, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Estrutura da Bacia

Ossos

A bacia é uma estrutura em forma de anel que envolve e protege a cavidade pélvica. A bacia é composta pelos seguintes ossos:

  • Ossos íliacos (2), que consistem em 3 ossos cada; estes 3 ossos são separados no nascimento, unidos por cartilagem hialina, e fundem-se completamente no final da adolescência:
    • Ílio:
      • O maior dos 3 ossos
      • Compõe a parte superior do acetábulo
      • A espinha ilíaca anterossuperior, espinha ilíaca anteroinferior, crista ilíaca e espinha ilíaca posterossuperior são pontos de referência anatómicos ao exame físico.
    • Ísquio:
      • Face inferior da bacia e face posteroinferior do acetábulo
      • A projeção óssea inferior é a tuberosidade isquiática, o local de inserção dos isquiotibiais proximais.
    • Púbis:
      • Porção anteromedial da bacia
      • Une-se como sínfise púbica na direção anteromedial
    • Acetábulo:
      • Formado a partir de partes do ílio, ísquio e púbis
      • Depressão em forma de taça para a articulação da anca (forma a articulação acetabulofemoral com a cabeça do fémur)
  • Sacro:
    • Osso em forma de borboleta formado pela fusão das 5 vértebras sagradas
    • Articula-se com os 2 ossos íliacos posteriormente
    • Cada lado se articula com o ílio através das articulações sacroilíacas.
  • Cóccix:
    • Extremidade terminal da coluna
    • Inferior ao sacro
    • Um acessório para vários músculos, tendões e ligamentos da bacia

Articulações

Existem 4 articulações primárias dentro da bacia:

  • Sacroilíaca:
    • Articulação sinovial
    • Composta pelas superfícies articulares do sacro e do ílio
    • Transmite o peso da coluna vertebral para os ossos da anca e membros inferiores
  • Sacrococcígea:
    • Articulação cartilaginosa
    • Composta pela base do cóccix e superfície oval no ápex do sacro
  • Sínfise púbica:
    • Articulação cartilaginosa
    • Composta pelos ramos superiores esquerdo e direito do púbis
  • Articulação lombossagrada:
    • Localizada entre a coluna lombar (L5) e o sacro
    • Estabilizada pelos ligamentos iliolombares
Visão superior da cintura pélvica, 4 articulações primárias da pelve

Visão superior da cintura pélvica, com as 4 articulações primárias da bacia

Imagem por BioDigital, editada por Lecturio.

Ligamentos

A parte óssea da bacia é estabilizada principalmente pelos seguintes ligamentos:

  • Ligamento sacroilíaco anterior e posterior: suporta a articulação sacroilíaca
  • Ligamento sacrotuberoso:
    • Vai do sacro até a tuberosidade isquiática
    • Forma o forámen isquiático menor
  • Ligamento sacroespinhoso:
    • Vai do sacro até a espinha isquiática
    • Cria o forámen isquiático maior
  • Ligamentos da articulação da anca
Vista anterior da pelve

Vista anterior da bacia, com os ligamentos de suporte das articulações da cintura pélvica

Imagem por BioDigital, editada por Lecturio.

Cavidade Pélvica

A cavidade pélvica é delimitada pelos ossos da cintura pélvica e contém principalmente os órgãos reprodutivos, os órgãos urinários e o reto. Como a cavidade peritoneal repousa na cavidade pélvica, os espaços desta região também são considerados como parte do espaço da cavidade pélvica. Usando marcos ósseos e ligamentos, a bacia pode ser dividida em várias aberturas, forámen e espaços.

Aberturas da bacia

  • Entrada pélvica:
    • Abertura superior da bacia
    • Limite entre as cavidades pélvica e abdominal
  • Saída pélvica:
    • Abertura inferior da bacia
    • Circunferência inferior, menor, da bacia
Tabela: Aberturas da bacia
Localização Limites Conteúdo
Entrada pélvica Abertura pélvica superior
  • Anterior: linha pectínea, crista púbica e margem superior da sínfise púbica
  • Posterior: promontório do sacro, bordo anterior da asa do sacro
  • Lateral: linha arqueada
  • Ureter
  • Cordão espermático
  • Ligamento redondo do útero
  • Ligamento suspensor do ovário
  • Vasos sagradas médios
  • Vasos gonadais
  • vasos iliolombares
  • Tronco lombossagrado
  • Tronco simpático
  • Nervo obturador
Saída pélvica Abertura pélvica inferior
  • Anterior: sínfise púbica, ramo isquiopúbico e ligamento púbico arqueado
  • Posterior: sacro e cóccix
  • Laterais: tuberosidades isquiáticas e ligamentos sacrotuberosos
  • Inferior: diafragmas pélvico e urogenital
Partes terminais dos sistemas excretor, reprodutivo e digestivo

Foramen da bacia

  • Foramen isquiático maior:
    • Liga a bacia à região glútea
    • Separado do foramen isquiático menor pelo ligamento sacroespinhoso
  • Foramen isquiático menor: liga a bacia à parte posterior da coxa
  • Foramen obturador:
    • Liga a bacia à coxa
    • Quase completamente coberto pela membrana obturadora
Tabela: Foramen da bacia
Estrutura Limites Conteúdo
Foramen isquiático maior Formado por:
  • Ligamento sacroespinhoso (estende-se do bordo lateral do sacro e do cóccix até a espinha isquiática)
  • Ligamento sacrotuberoso (estende-se do bordo lateral do sacro e do cóccix até a tuberosidade isquiática)
  • Inferior: ligamento sacroespinhoso e espinha isquiática
  • Superior: ligamento sacroilíaco anterior
  • Anterolateral: incisura isquiática maior do ílio
  • Posteromedial: ligamento sacrotuberoso
  • Músculo piriforme
  • Foramen suprapiriforme: vasos e nervos glúteos superiores
  • Foramen infrapiriforme:
    • Nervo pudendo
    • Vasos pudendos internos
    • Nervo ciático
    • Vasos e nervos glúteos inferiores
    • Nervo para o músculo obturador interno
    • Nervo para o músculo quadrado femoral
    • Nervo cutâneo femoral posterior
Foramen isquiático menor
  • Superior: ligamento sacroespinhoso e espinha isquiática
  • Anterior: tuberosidade isquiática
  • Posterior: ligamento sacrotuberoso
  • Nervo pudendo
  • Vasos pudendos internos
  • Tendão e nervo do músculo obturador interno
Foramen obturador
  • Formado pelos ossos ísquio e púbis
  • Limitada por uma margem fina (sulco obturador) à qual a membrana obturadora está ligada, criando o canal obturador
  • Tubérculo obturador anterior (púbis)
  • Tubérculo obturador posterior (ísquio)
  • Artéria obturadora
  • Veia obturadora
  • Nervo obturador

Espaços peritoneais da bacia

A bacia tem múltiplos espaços relacionados com a extremidade caudal da cavidade peritoneal e com as pregas peritoneais no interior das vísceras:

  • Fundo de saco retovesical:
    • Existe apenas no sexo masculino
    • Localizado entre a parte posterossuperior da bexiga urinária e a parte média superior do reto
  • Fundo de saco retouterina de Douglas:
    • Existe apenas no sexo feminino
    • Localizado entre a parte posterior superior do útero e a parte média superior do reto
  • Fossa pararretal:
    • Conecta-se em ambos os lados com a bolsa retovesical/retouterina
    • Localizado em ambos os lados do reto intraperitoneal
    • Limites laterais: pregas uterossagradas/genitossagradas(sexo feminino/masculino)
  • Fundo de saco vesicouterino:
    • Existe apenas no sexo feminino
    • Localizado entre a superfície posterior da bexiga urinária e a superfície anterior do útero
  • Espaço retovesical:
    • Existe apenas no sexo masculino
    • Localizado posteriormente à porção distal da bexiga e à próstata, inferior ao fundo de saco retovesical
  • Fossa isquiorretal: triangular, em ambos os lados do reto inferior e do ânus
  • Espaço retropúbico de Retzius: localizado entre a superfície posterior do púbis e a superfície anterior da bexiga/próstata em homens

Variações anatómicas da porção óssea da bacia

Existem variações anatómicas entre a bacia feminina (ginecóide) e masculina (androide).

  • Ginecoide:
    • Considerada a “forma clássica da bacia feminina”
    • Geralmente mais larga do que o seu homólogo masculino, com espinhas isquiáticas menos proeminentes, como uma adaptação para o parto
  • Androide: considerada a “forma clássica da bacia masculina”
A pelve ginecóide versus a pelve androide

A bacia ginecóide versus a bacia andróide

Imagem por Lecturio.

Pavimento Pélvico

Descrição Geral

O pavimento pélvico, também conhecido como diafragma pélvico, é um grupo de músculos que sustenta as vísceras abdominais e pélvicas. O pavimento pélvico tem 3 camadas:

  • Camada superficial:
    • Também referida como o períneo ou a camada perineal superficial
    • Região em forma de diamante entre o cóccix e a sínfise púbica
  • Camada intermédia:
    • Diafragma pélvico
    • Separa o períneo da cavidade pélvica
  • Camada profunda:
    • Diafragma urogenital
    • Separa a bacia superior do saco perineal profundo
Tabela: Estruturas do pavimento pélvico
Camada superficial: períneo Camada intermédia: diafragma pélvico Camada profunda: diafragma urogenital
Características Região superficial em forma de diamante entre o cóccix e a sínfise púbica Separa o períneo da cavidade pélvica Separa a bacia superior do saco perineal profundo
Componentes
  • Isquiocavernoso
  • Bulbocavernoso/bulboesponjoso (sexo feminino/masculino)
  • Músculo transverso superficial do períneo
  • Esfíncter anal externo
  • Músculo elevador do ânus
  • Coccígeo
  • Piriforme
  • Obturador interno
  • Músculo transverso profundo do períneo
  • Esfíncter uretral
  • Membrana perineal
  • Músculo compressor da uretra
Inervação Nervo pudendo Raízes nervosas sagradas (S3-S5) Nervo pudendo
Função Apoiar e elevar o pavimento pélvico

Músculos do pavimento pélvico

Os músculos do pavimento pélvico têm várias funções importantes:

  • Fornecer suporte físico às vísceras pélvicas e prevenir o prolapso de órgãos pélvicos
  • Manter a continência urinária e fecal
  • Auxiliar no parto
Tabela: Músculos do pavimento pélvico
Camada Músculo Origem Inserção
Períneo Isquiocavernoso Tuberosidade isquiática Crus do pénis
Bulbocavernoso/bulboesponjoso(sexo feminino/masculino) Rafe mediana tendinosa central do períneo Membrana perineal superficial e aponevrose peniana dorsal/do clitóris
Transverso superficial do períneo Tuberosidade isquiática Músculo transverso do períneo do lado contralateral
Esfíncter anal externo 2 planos musculares achatados circundam o ânus e encontram-se na frente para se inserir no corpo perineal.
Diafragma pélvico Grupo elevador do ânus: puborretal, pubococcígeo e iliococcígeo Puborretal: corpo do púbis (passa ao redor do reto inferior) Puborretal: encontra o seu músculo homólogo na linha média
Pubococcígeo: corpo do púbis e arco tendinoso anterior Pubococcígeo: ligamentos do cóccix e anococcígeo
Iliococcígeo: espinhas isquiáticas e arco tendinoso posterior Iliococcígeo: ligamentos do cóccix e anococcígeo
Coccígeo Espinha isquiática e ligamento sacroespinhoso Sacro inferior e cóccix
Piriforme Sacro anterior e margem superior da incisura isquiática maior Trocânter maior
Obturador interno Ramos isquiopúbicos e membrana obturadora Face medial do trocânter maior
Diafragma urogenital Transverso profundo do períneo Ramos isquiáticos inferiores Contralateral
Esfíncter uretral Esfíncter uretral interno: bexiga inferior à uretra proximal (extensão do músculo detrusor)
Esfíncter uretral externo: ramo isquiopúbico em direção ao plano mediano, onde se insere com o seu músculo homólogo
Músculo compressor da uretra Origina-se do ramo púbico inferior e envolve anteriormente a uretra para se fundir com o seu homólogo

Vídeos recomendados

Vasos e Inervação da Bacia

Vascularização arterial

O sangue para a bacia é fornecido por:

  • Aorta abdominal: bifurca-se nas artérias ilíacas comuns esquerda e direita
  • Artéria ilíaca comum: bifurca-se ao nível da articulação sacroilíaca em artérias ilíacas interna e externa
  • Artéria ilíaca interna: divide-se em tronco anterior (vasculariza as vísceras pélvicas) e posterior (região glútea)
  • Ilíaca externa:
    • Emite as artérias ilíacas epigástrica inferior e circunflexa profunda
    • Torna-se a artéria femoral após passar pelo ligamento inguinal

Drenagem venosa

As 3 veias principais da bacia seguem o curso das artérias, nomeadas da mesma forma:

  • Veia ilíaca comum:
    • União das veias ilíacas externas e internas
    • Une-se à veia ilíaca comum correspondente para se tornar a veia cava inferior
  • Veia ilíaca interna: responsável pela maior parte da drenagem venosa pélvica
  • Veia ilíaca externa:
    • Continuação proximal da veia femoral
    • Drena principalmente as extremidades inferiores
Artérias e veias da pelve

Artérias e veias da bacia

Imagem por BioDigital, editada por Lecturio

Inervação

A inervação da bacia é fornecida por ramos do plexo sagrado, incluindo o nervo pudendo, formado a partir do plexo sagrado, S2-S4. A bacia recebe inervação somática e autonómica.

  • Inervação motora para:
    • Esfíncteres uretral externo e anal
    • Músculo elevador do ânus
    • Músculo bulboesponjoso
    • Músculo isquiocavernoso
  • Inervação sensorial para:
    • Períneo
    • Pénis/clitóris
    • Escroto posterior/lábios
    • Canal anal
  • Ereção reflexa:
    • Nervo pudendo aferente → ativa o arco reflexo
    • Fibras parassimpáticas nas raízes S2-S4
  • Simpático: pénis/clitóris (ejaculação masculina)
Nervos da pélvis

Nervos da bacia

Imagem por BioDigital, editada por Lecturio

Relevância Clínica

  • Fraturas pélvicas: ocorrem mais frequentemente em pacientes envolvidos em lesões de impacto de alta energia, como acidentes de viação ou quedas. Devido à natureza da alta energia do trauma, as fraturas pélvicas são muitas vezes consideradas fraturas instáveis, e os indivíduos podem apresentar comprometimento vascular e lesões concomitantes do sistema genitourinário. Os idosos com osteoporose podem apresentar fraturas pélvicas por lesões de baixo impacto.
  • Hérnia obturadora: herniação do conteúdo pélvico ou abdominal através do forámen obturador. A hérnia obturadora ocorre mais frequentemente no lado direito, pois o cólon sigmóide bloqueia o canal obturador à esquerda. Esta hérnia geralmente apresenta-se com obstrução intestinal ou dor lancinante na região medial da coxa, estendendo-se até o joelho, devido à compressão do nervo obturador.
  • Insuficiência ou disfunção do pavimento pélvico: O pavimento pélvico suporta as vísceras abdominais e pélvicas. Esta estrutura separa o períneo da cavidade pélvica e auxilia no controlo da função esfincteriana dos tratos retal, urinário e genital. O enfraquecimento do tecido conjuntivo e/ou dos músculos pode levar à insuficiência do pavimento pélvico, contribuindo para os distúrbios do pavimento pélvico. A disfunção do pavimento pélvico inclui o prolapso de órgãos pélvicos (por exemplo, prolapso do útero), a incontinência urinária e a incontinência fecal.
  • Parto: O parto começa com contrações que levam à dilatação e apagamento cervical progressivo, resultando no nascimento do bebé e expulsão da placenta através do canal de parto da bacia. O parto vaginal é possível devido às diferenças anatómicas entre a bacia óssea em homens e mulheres.

Referências

  1. Bordoni, B., Sugumar, K., Leslie, S.W. (2021). Anatomy, abdomen and pelvis, pelvic floor. StatPearls. Retrieved November 9, 2021, from https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29489277/
  2. Chaudhry, S.R., Nahian, A., Chaudhry, K. (2021). Anatomy, abdomen and pelvis, pelvis. StatPearls. Retrieved November 9, 2021, from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK482258/
  3. Drake, R.L., Vogl, A.W., Mitchell, A.W.M. (2014). Gray’s Anatomy for Students, 3rd ed. Churchill Livingstone.

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