Acromegalia e Gigantismo

A acromegalia e o gigantismo são provocados por uma produção excessiva da hormona do crescimento (GH, pela sigla em inglês) pela hipófise. O gigantismo geralmente ocorre em crianças e resulta do excesso de GH antes do encerramento das placas de crescimento, nas crianças. A acromegalia geralmente resulta do excesso de GH após o encerramento das placas epifisárias. A alta estatura é um sinal clínico observado em alguns doentes com gigantismo. O aumento da GH e do fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1, pela sigla em inglês) são responsáveis pela indução do hipersomatotropismo. A acromegalia é geralmente causada por tumores hipofisários que secretam GH ou, menos frequentemente, por distúrbios extra-hipofisários. O diagnóstico é realizado por neuroimagem da hipófise e com o auxílio de exames laboratoriais para avaliar o eixo hipotálamo-hipófise. O tratamento depende do estado cirúrgico do tumor (se existir) ou pode ser adotada uma estratégia não cirúrgica.

Última atualização: Jul 6, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Epidemiologia e Etiologia

Epidemiologia

  • Acromegalia:
    • Incidência nos Estados Unidos da América: 10 novos casos, anualmente, por milhão de habitantes
    • Sem predominância de género
    • A idade média de diagnóstico é de 40 anos, com um intervalo de tempo de 10 anos desde o início da apresentação até ao diagnóstico.
    • A doença mais grave é típica em indivíduos diagnosticados numa idade mais jovem.
    • A esperança média de vida é encurtada em aproximadamente 10 anos.
    • Crianças tratadas precocemente podem ter uma esperança média de vida normal.
  • Gigantismo:
    • Extremamente raro (apenas relatados na literatura cerca de 100 casos)
    • Encontrado em todas as idades
    • Predominante nos homens

Etiologia

Tanto para a acromegalia como para o gigantismo, as etiologias podem ser divididas em 3 categorias conceptuais:

  • Excesso de produção de GH devido a uma perturbação da hipófise primária:
    • Adenoma hipofisário benigno, produtor de GH, em > 95% dos casos
    • Adenoma da hipófise plurihormonal
    • Síndromes familiares tais como MEN-1, síndrome de McCune-Albright e acromegalia familiar
  • Produção de hormonas de crescimento ectópicas
    • GH- e hormona de crescimento que liberta hormonas (GHRH) – tumores secantes do pâncreas, pulmões e glândulas supra-renais (raros)
  • Sobreprodução de GHRH induzindo a sobreprodução de GH hipofisária:
    • Produção central ectópica:
      • Hamartoma hipotalâmico
      • Ganglioneuroma
    • Produção periférica ectópica:
      • Pulmões: carcinoide brônquico, cancro do pulmão de pequenas células
      • Pâncreas: tumor de células das ilhotas pancreáticas
      • Suprarrenais: adenoma, feocromocitoma

Fisiopatologia

Fisiopatologia

  • A acromegalia e o gigantismo resultam do excesso de GH:
    • Também conhecida como somatotrofina, é secretada pela hipófise anterior.
    • Controla o crescimento e as funções metabólicas.
    • Interage com a insulina para controlar o metabolismo da gordura, glicose e proteína durante os estados de jejum e prandiais.
  • Principais efeitos:
    • Lipólise no tecido adiposo
    • Promove a gluconeogénese (no fígado) e estimula a secreção do fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1, pela sigla em inglês), que resulta no aumento dos níveis de glicose
    • O músculo aumenta a absorção de aminoácidos e a síntese de proteínas.
    • Os ossos promovem o crescimento linear pela proliferação da cartilagem epifisária em crianças (gigantismo).

Regulação

A regulação é um processo passo a passo:

  1. O hipotálamo secreta GHRH, para promover a produção de GH, e somatostatina (hormona que inibe a hormona do crescimento), que inibe a produção de GH.
  2. A adenohipófise responde à GHRH secretando GH.
  3. O fígado produz IGF-1.
  4. Efeitos proliferativos no osso, cartilagem, músculo esquelético, pele, tecido mole, órgãos e tolerância à glicose:
    • Estimulação: hipoglicemia, stress, esforço físico, sono profundo, puberdade
    • Inibição: glicose, somatostatina, somatomedina (do fígado)
Diagrama esquemático dos efeitos diretos e indiretos da hormona do crescimento

Diagrama esquemático dos efeitos diretos e indiretos da hormona do crescimento (GH)

Imagem por Lecturio. Licença: CC BY-NC-SA 4.0

Apresentação Clínica

Achados clínicos

  • Em crianças, que ainda não apresentam fusão das placas de crescimento, provoca gigantismo:
    • Caracterizado pelo aumento simétrico dos tecidos do corpo, o que leva a um crescimento excessivo dos ossos longos
    • Os pacientes geralmente apresentam mais de 1,98 metros de altura.
  • Em adultos, em que já ocorreu a fusão das placas de crescimento, provoca acromegalia com um crescimento excessivo de áreas características:
    • Nariz
    • Protuberâncias supraorbitárias
    • Mandíbula
    • Mãos
    • Crânio
  • Visceromegalia:
    • Bócio
    • Cardiomiopatia
    • Pólipos do cólon
  • Voz grave
  • Espessamento da derme (paquidermia)
  • Hipoestesia ou parestesias
  • Macroglossia
  • Separação dos dentes e sulcos interdentários alargados
  • Prognatismo
  • Cefaleias
  • Fadiga
  • Transpiração
  • Dor óssea
  • Defeitos dos campos visuais

Complicações

  • Distúrbios do campo visual
  • Paralisia de nervos cranianos
  • Alterações do ciclo menstrual
  • Galactorreia
  • Disfunção erétil
  • Diminuição da líbido
  • Osteoartrose
  • Síndrome do túnel cárpico
  • Apneia do sono
  • Diabetes mellitus
  • Hipertensão arterial
  • Cardiomiopatia e insuficiência cardíaca
  • Hipogonadismo secundário
  • Aumento da incidência de cancro colorretal

Diagnóstico

A apresentação clínica é normalmente o ponto mais importante do diagnóstico.

  • Análises laboratoriais: valor mais baixo de GH maior do que 0,4 µg/L ou 1 µg/L (dependendo do valor standard de GH) durante a prova de tolerância oral à glicose e nível elevado de IGF-1 ajustado para a idade
  • Imagiologia:
    • Ressonância magnética (RM):
      • Pode revelar uma massa hipofisária
      • Se não estiver presente um adenoma hipofisário, examinar o tórax e o abdómen à procura de outros tumores.
    • Tomografia computorizada (TC):
      • Abdómen e pelve: avaliar a presença de tumores pancreáticos, suprarrenais e ováricos que secretam GH/GHRH.
      • Tórax: avaliar a presença de carcinoma broncogénico secretor de GH/GHRH.

Tratamento

  • Opção cirúrgica: adenomectomia transesfenoidal através de acesso endonasal (adenomas hipofisários)
  • Opções não cirúrgicas:
    • Não farmacológicas:
      • Radiocirurgia estereotáxica
      • Terapia de protões
      • Radioterapia convencional
    • Farmacológicas:
      • Os agonistas dopaminérgicos D2 (bromocriptina) inibem a produção de GH pelo adenoma hipofisário.
      • Os antagonistas do recetor da GH (pegvisomant) normalizam os níveis elevados de IGF-1.
      • Os análogos da somatostatina (octreótido) diminuem o tamanho do adenoma e normalizam o nível de GH.

Diagnóstico Diferencial

  • Síndrome de McCune-Albright: uma síndrome hipersecretora rara que consiste em displasia fibrosa poliostótica, pigmentação cutânea, puberdade precoce, hipertiroidismo, hipercortisolismo, hiperprolactinemia e acromegalia devido à hiperplasia somatotrófica. Os pacientes são distinguidos por diversos sinais e sintomas adicionais.
  • Neoplasia endócrina múltipla: o adenoma hipofisário de células GH é um componente da síndrome de neoplasia endócrina múltipla (MEN, pela sigla em inglês) tipo 1, autossómica dominante, que também inclui tumores da paratiróide e pancreáticos. Além do excesso de GH, os pacientes apresentam outras anomalias endócrinas.
  • Acromegaloidismo: alterações nos tecidos moles e na pele geralmente associadas a acromegalia, com níveis de GH/IGF1 basais e dinâmicos normais e nenhum tumor hipofisário ou extra-hipofisário. O acromegaloidismo é raro.
  • Paquidermoperiostose: os pacientes apresentam aumento dos dedos das mãos e dos pés, edema ou dor nas grandes articulações, características faciais típicas e sulcos/depressões no couro cabeludo. A paquidermoperiostose é causada por mutações no HPGD, que codifica a 15-hidroxiprostaglandina desidrogenase, a enzima chave da degradação da prostaglandina. Os sulcos/depressões do couro cabeludo ajudam a diferenciar a paquidermoperiostose da acromegalia.

Referências

  1. Melmed, S. (2020). Treatment of acromegaly. In Snyder, P.J. (Ed.), UpToDate. Retrieved June 2, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/treatment-of-acromegaly
  2. Melmed, S. et al. (2018). Primary Immune Deficiency Diseases. In Jameson J., et al. (Ed.), Harrison’s Principles of Internal Medicine (20th ed. Chapter 373). McGraw-Hill.

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