Perturbações de Personalidade do Cluster B

As perturbações de personalidade são comportamentos ego-sintónicos que começam na infância/adolescência e são classificados em 3 clusters: A, B e C. Estas perturbações podem interferir consideravelmente com a adesão do doente ao tratamento médico. É importante descartar causas orgânicas de uma perturbação mental (e.g., desequilíbrios hormonais endócrinos, efeitos adversos de fármacos, uso de álcool e/ou substâncias e outras comorbilidades de saúde mental) para se poder atribuir um diagnóstico de perturbação de personalidade. O cluster B inclui a perturbação de personalidade antissocial, a borderline, a histriónica e a narcisista, que podem ser comportamentalmente descritas como dramáticas, erráticas e ameaçadoras/perturbadoras.

Última atualização: Oct 31, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Perturbação de Personalidade Antissocial

Características principais

  • < 18 anos de idade: perturbação de conduta
  • > 18 anos de idade: perturbação de personalidade antissocial, caracterizada pelos seguintes comportamentos, que começam aos 15 anos de idade:
    • Comportamento desonesto: mentir, manipular e enganar os outros
    • Repetição de comportamentos criminosos e aversão às normas sociais
    • Incapacidade de cumprir com as responsabilidades do trabalho ou honrar as obrigações financeiras
    • Impulsividade e imprudência: falta de consideração pela segurança dos outros e pela própria
    • Agressividade:
      • Irritabilidade
      • Envolvimento frequente em lutas físicas
    • Ausência de remorso: indiferença pelos sentimentos dos outros e como são afetados pelas ações do doente

Fatores de risco

  • História familiar de perturbação de personalidade antissocial
  • Associada a perturbações do humor
  • Associada a perturbações de abuso de substâncias
  • Muito mais frequente nos homens do que nas mulheres (alta prevalência nas prisões)

Tratamento

  • Os doentes antissociais acabam normalmente presos antes de receberem tratamento médico devido à sua condição.
  • Psicoterapia (primeira linha, especialmente no controlo da raiva)
  • A farmacoterapia geralmente não é recomendada, a menos que o doente seja excessivamente agressivo (os antipsicóticos de segunda geração podem ser benéficos).

Associações clínicas

  • O “acting out” é o mecanismo de defesa predominante.
  • > 18 → perturbação de personalidade antissocial
  • < 18 → perturbação de conduta
  • < 18 sem danos a terceiros ou bens → perturbação de oposição e de desafio
  • Deve ser distinguido da perturbação explosiva intermitente
  • Deve ser distinguido da perturbação de desregulação do humor disruptivo
  • Distinção: “Antissocial” significa “contra a sociedade”, enquanto que “associal” significa “longe da sociedade”. Portanto, quando alguém é descrito coloquialmente como sendo antissocial, essa pessoa é, na verdade, uma pessoa associal.

Perturbação de Personalidade Borderline

Características principais

  • Intenso medo de abandono, relações instáveis
  • Perturbação da perceção de si mesmo:
    • Instabilidade da autoimagem
    • Possíveis sintomas graves de dissociação
  • Comportamentos suicidas /comportamentos automutilantes recorrentes
  • Falta de controlo dos impulsos
  • Sentimentos de vazio
  • Capacidade emocional:
    • Dificuldade em controlar a raiva
    • Episódios de intensa ansiedade ou disforia

Fatores de risco

  • História familiar de perturbação de personalidade borderline
  • Associada a perturbações do humor
  • Associada a perturbações de abuso de substâncias
  • Afeta mais frequentemente o sexo feminino do que o sexo masculino

Tratamento

  • Terapia comportamental dialética: uma forma específica de terapia cognitiva comportamental
  • Farmacoterapia para sintomas que resultam em prejuízo funcional (e.g., ansiedade, depressão, instabilidade do humor)

Associações clínicas

  • A clivagem (ou seja, ver as coisas como “boas” ou “más”, sem área cinzenta) é o mecanismo de defesa predominante.
  • O “acting-out” é outro mecanismo de defesa prevalente (cortar-se ou outras formas de automutilação são patognomónicas).
  • Aumento do risco de suicídio
  • Muito comum em populações clínicas (em conjunto com a perturbação de personalidade evitante [cluster C])
  • Deve ser distinguida da perturbação afetiva bipolar (alterações do humor de episódios maníacos para depressivos)

Perturbação de Personalidade Histriónica

Características principais

  • Comportamento de procura de atenção:
    • Expressão exagerada das emoções
    • Através da aparência física
    • Ações drásticas quando não estão no centro das atenções
  • Comportamento sedutor inadequado ou provocativo
  • O doente avalia mal o grau de intimidade nos relacionamentos, ou seja, acredita que a relação é mais íntima do que é na realidade.

Fatores de risco

  • Associada a perturbações do humor
  • Associada a perturbações de abuso de substâncias
  • Afeta mais frequentemente o sexo feminino do que o sexo masculino

Tratamento

  • Psicoterapia (primeira linha)
  • Farmacoterapia se sintomas que resultam em prejuízo funcional (e.g., ansiedade, depressão, instabilidade do humor)

Associações clínicas

  • A regressão é o mecanismo de defesa predominante (e.g. necessidade infantil de ser o centro das atenções).
  • Deve ser distinguida da perturbação afetiva bipolar (e.g. discurso exagerado e delírios de grandeza)

Perturbação de Personalidade Narcisista

Características principais

  • Auto-imagem grandiosa:
    • O doente vê-se como intrinsecamente superior aos outros
    • Dificuldade em lidar com a crítica
  • Apresenta sentimentos de que possui direitos especiais:
    • Espera e precisa de ser admirado
    • Espera um tratamento especial
  • Comportamento egoísta:
    • Falta de empatia
    • Utiliza os outros para alcançar os seus próprios objetivos
    • Tem inveja do sucesso de outros

Fatores de risco

  • Associada a perturbações de abuso de substâncias
  • Associada a perturbações do humor
  • Associada a perturbações de ansiedade

Tratamento

  • Psicoterapia (primeira linha)
  • Farmacoterapia se os sintomas resultam em prejuízo funcional (e.g., ansiedade, depressão, instabilidade do humor)

Associações clínicas

  • O “acting out” é o mecanismo de defesa predominante.
  • A negação é outro mecanismo de defesa, frequentemente utilizado para fazer com que as suas ideias/perspetivas pareçam mais importantes em comparação com as de outros.
  • A regressão é outro mecanismo de defesa (pela necessidade infantil de ser o centro das atenções).
  • Deve ser distinguida da:
    • Perturbação afetiva bipolar (e.g. delírios maníacos de grandeza)
    • Perturbação explosiva intermitente
    • Perturbação de desregulação do humor disruptivo
    • Perturbação delirante

Resumo

Perturbações do cluster B Antissocial Borderline Histriónica Narcisista
Características principais Desrespeito e violação dos direitos dos outros, normas sociais e leis
  • Relações caóticas
  • Medo do abandono
  • Humor lábil
  • Impulsividade
  • Automutilação
  • Dramático
  • Superficial
  • Procura de atenção
  • Ego-cêntrico
  • Grandiosidade
  • Falta de empatia
Mecanismo de defesa “Acting out”
  • Clivagem
  • “Acting out”
  • Regressão
  • “Acting out”
  • “Acting out”
  • Negação
  • Regressão
Diagnósticos diferenciais
  • Perturbação de conduta
  • Perturbação de oposição e de desafio
  • Perturbação explosiva intermitente
  • Perturbação de desregulação do humor disruptivo
Perturbação afetiva bipolar (flutuação entre episódios maníacos e depressivos) Perturbação afetiva bipolar (discurso exagerado e delírios de grandeza)
  • Perturbação afetiva bipolar
  • Perturbação explosiva intermitente
  • Perturbação de desregulação do humor disruptivo
  • Perturbação delirante
Tratamento Psicoterapia (a farmacoterapia geralmente não é recomendada) Terapia comportamental dialética (TCD) (primeira linha) em combinação com fármacos em baixa dose, para o alívio de determinados sintomas (e.g., ansiolíticos, estabilizadores do humor, antidepressivos) Tip: BorDerline gets DBT (Dica: Bordeline recebe TCD) Psicoterapia (primeira linha) em combinação com fármacos em baixa dose para o alívio de determinados sintomas (e.g., ansiolíticos, estabilizadores do humor, antidepressivos) Psicoterapia (primeira linha) em combinação com fármacos em baixa dose para o alívio de determinados sintomas (e.g., ansiolíticos, estabilizadores do humor, antidepressivos)
Epidemiologia ♂>>>♀ ♀>>♂ ♀>>♂ ♂=♀
Exemplo Um homem de 20 anos é apanhado a roubar o seu vizinho e depois mente sobre isso. Não se mostra arrependido. Uma mulher com epilepsia interpreta a demora do médico em a atender como um ataque pessoal e “vinga-se” não tomando a sua medicação para as convulsões. Uma mulher com uma camisa reveladora apresenta-se numa consulta de rotina com um comportamento provocador e pergunta ao médico se é solteiro. Um cirurgião mundialmente famoso com diabetes tipo 2 não controlada recusa-se a tomar a sua medicação porque acredita ser demasiado bom para isso.

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