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Perturbação do Uso de Anfetaminas

A perturbação do uso de anfetaminas (PUA) caracteriza-se pelo uso patológico de psicoestimulantes. As anfetaminas produzem o seu efeito através do aumento da libertação e do bloqueio da recaptação de neurotransmissores (dopamina, norepinefrina, serotonina). Na prática médica, são utilizadas no tratamento da PHDA e da narcolepsia. As metanfetaminas e as chamadas drogas sintéticas não têm uso clínico. A intoxicação leva a euforia, midríase, hipertensão, escoriações da pele, paranoia e agressão severa. Podem surgir complicações fatais tais como enfarte do miocárdio e coma. O prognóstico da PUA é mau, dado que não existem fármacos aprovados pela FDA, no entanto, as intervenções psicossociais foram associadas a melhores outcomes.

Última atualização: Dec 3, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Definição e Epidemiologia

Definição

A perturbação do uso de anfetaminas (PUA) define-se como o uso crónico (> 12 meses) e inadequado de anfetaminas ou outros estimulantes.

  • As substâncias mais utilizadas: medicamentos prescritos como dextroanfetamina e drogas recreativas como metanfetaminas e metilenodioximetanfetamina (MDMA)
  • Intoxicação:
    • Aumento da energia e euforia
    • Agitação psicomotora, agressão
    • Também podem ocorrer perturbações psicóticas induzidas por estimulantes e delírio.
  • Abstinência:
    • Desenvolvimento de uma síndrome específica da substância devido à cessação (ou redução) do uso dessa mesma substância
    • Os pacientes podem apresentar sintomas físicos (náuseas, diarreia, calafrios e mialgias) e / ou psicológicos (desejo ou sensação de necessidade de usar a substância).
  • Tolerância:
    • A necessidade de aumentar a dose da substância para atingir o efeito desejado (efeito diminuído se usar a mesma quantidade da substância)

Epidemiologia

  • Os homens e as mulheres são igualmente afetados pela PUA.
  • Os estimulantes do tipo anfetamina são a segunda substância ilícita mais utilizada, a seguir à marijuana.
  • Cria grandes problemas de saúde pública e judiciais secundários ao consumo

Farmacologia

Tipos de anfetaminas

  • Anfetaminas clássicas:
    • Dextroanfetamina, metilfenidato e metanfetamina
    • Detetadas na pesquisa de drogas no rastreio urinário de rotina (podem surgir falso-positivos com o uso de pseudoefedrina, bupropiom ou beta-bloqueantes na tira teste urinária (imunoensaio) com uma variedade de preparações de venda livre que se provou serem negativas após confirmação de espectroscopia em massa)
  • Anfetaminas não clássicas: quimicamente classificadas como anfetaminas, mas clinicamente são consideradas alucinogénios
    • Anfetaminas substituídas ou drogas “sintéticas”:
      • Inclui MDMA (“ecstasy”, “molly” ou “droga das festas”)
      • Muitas vezes fabricadas com ingredientes “de venda livre”.
      • Podem ser detetadas através de rastreio urinário
    • Sais de banho:
      • Catinonas sintéticas (numerosa família de análogos das anfetaminas)
      • O mecanismo de ação é semelhante ao das anfetaminas.
      • Duração de efeito prolongada (dias a semanas)
      • Não detetadas na pesquisa de drogas na urina de rotina

Propriedades farmacológicas

  • Anfetaminas clássicas: bloqueiam a recaptação e facilitam a libertação de catecolaminas, como a dopamina e a norepinefrina
  • Anfetaminas não clássicas: têm o mesmo efeito das anfetaminas clássicas e libertam serotonina
  • Rápida absorção oral e rápido início de ação
  • Vias de administração mais comuns:
    • Fumar (68%)
    • Cheirar (31%)
    • Injeção IV para ativação mais rápida

Apresentação Clínica e Diagnóstico

O diagnóstico de intoxicação e abstinência por anfetaminas é feito com base nos sintomas, nos antecedentes de consumo e na pesquisa de drogas na urina.

Intoxicação por anfetaminas

  • Gerais: hiperatividade, euforia, xerostomia (podendo provocar cáries dentárias), agitação, psicose
  • SNC: hiperreflexia, convulsões
  • Sistema cardiovascular: ↑ tensão arterial, taquicardia, arritmia
  • GI: náuseas, colite isquémica
  • Músculo-esquelético: escoriações cutâneas, bruxismo (ranger de dentes)
  • Oftalmológica: midríase

Abstinência de anfetaminas

  • É importante obter uma história clínica detalhada relativamente aos antecedentes de consumo de anfetaminas, incluindo o consumo mais recente
  • Gerais: mal-estar, perturbações do sono, irritabilidade
  • SNC: fadiga, cefaleia, tremores
  • GI: aumento do apetite
  • Oftalmológico: miose
  • O paciente entra num estado de depressão severa após a intoxicação (fase de “colapso”).
  • A abstinência não é fatal; no entanto, os pacientes podem desenvolver ideação suicida.

Tratamento e Complicações

Intoxicação por anfetaminas

As principais etapas no tratamento consistem no controlo da agitação e da hiperatividade simpática. A abordagem para a intoxicação por anfetaminas inclui:

  • Medidas gerais:
    • Rehidratação.
    • Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos.
    • Tratar a hipertermia (sedação agressiva, paralisia neuromuscular e ressuscitação com fluidoterapia).
    • Tratar a hiperatividade simpática (anti-hipertensivos).
  • Fármacos:
    • Benzodiazepinas: opção de 1.ª linha para diminuir a agitação e a TA
    • Os antipsicóticos podem ser úteis, sobretudo em pacientes agressivos.
    • Para intoxicação por ecstasy: ponderar o uso de dantroleno (relaxante muscular pós-sináptico).

Abstinência de anfetaminas

A base do tratamento é de suporte.

Fármacos:

  • Se risco de suícidio, considerar antidepressivos.
  • A toma de benzodiazepinas ou antipsicóticos durante um curto período de tempo pode ajudar a diminuir a irritabilidade e a ansiedade.

Perturbação do uso de anfetaminas

  • Os médicos devem tentar construir uma relação com os pacientes para tratar as perturbações do humor ou de personalidade subjacentes.
  • Psicoterapia e intervenções psicológicas:
    • Gestão de contingência
    • Prevenir episódios de recaída
    • Crystal Meth Anonymous (CMA, pela sigla em inglês) e Narcóticos Anónimos (NA): grupos de apoio integrados num programa de 12 passos
  • Não existem fármacos aprovados pela FDA para dependência de anfetaminas.
  • O bupropriom tem provado ser útil no tratamento de suporte.

Complicações

Complicações cardiovasculares:

  • Principal causa de morte entre os utilizadores de metanfetaminas
  • Arritmia
  • Enfarte agudo do miocárdio
  • Hipertensão maligna

Complicações neurológicas:

  • AVC hemorrágico: risco 5 vezes aumentado
  • Contrações musculares involuntárias, convulsões
  • Coma

Infeções sexualmente transmissíveis (ISTs):

  • As metanfetaminas aumentam a libido e os comportamentos sexuais de risco.
  • As injeções IV aumentam a transmissão de ISTs.

Diagnóstico Diferencial

  • Intoxicação por cocaína: a cocaína é um simpatico-mimético indireto que bloqueia a recaptação de dopamina, epinefrina e norepinefrina na fenda sináptica, provocando um efeito estimulante (euforia, aumento de energia, irritabilidade, psicose, diminuição do apetite, perda ponderal) semelhante ao das anfetaminas. Os sintomas de abstinência incluem depressão severa e fadiga. As opções de tratamento são limitadas e incluem benzodiazepinas para a intoxicação aguda e psicoterapia para tratamento a longo prazo. As anfetaminas e a cocaína costumam ser consumidas em conjunto.
  • Intoxicação por alucinogénios: os alucinogénios são substâncias que provocam distorções percetivas (visuais ou auditivas) e são utilizados devido aos seus efeitos psicadélicos (alteração temporária do estado de consciência). Tal como na intoxicação por anfetaminas, a intoxicação por alucinogénio pode causar náuseas, vómitos e efeitos simpático-miméticos ligeiros (taquicardia, hipertensão, midríase, hipertermia e sudorese). Os alucinogénios não provocam dependência física ou sintomas de abstinência.
  • Intoxicação por inalação: A perturbação por uso de inalantes envolve o abuso de substâncias inalantes (por exemplo, cola, tinta, fluido de isqueiro). Para atingir os efeitos eufóricos, os pacientes administram inaladores pela boca (conhecido como “huffing”) ou pelo nariz. O efeito dura apenas alguns minutos. Os sinais de intoxicação aguda incluem euforia transitória e perda de consciência. A intoxicação pode causar inibição do SNC e arritmias cardíacas. O tratamento é de suporte, no entanto, devem ser evitados fármacos sedativos, dado que agravam a intoxicação.

Referências

  1. First Aid for the Psychiatry Clerkship, 4th ed. Chapter 7, Substance-related and addictive disorders, pages 80, 87–88.
  2. Paulus, M. (2024). Amphetamine use disorder: Epidemiology, clinical features, and diagnosis. UpToDate. Retrieved December 3, 2024, from https://www.uptodate.com/contents/methamphetamine-use-disorder-epidemiology-clinical-features-and-diagnosis
  3. Kampman K. (2024). Stimulant use disorder: Treatment overview. UpToDate. Retrieved December 3, 2024, from https://www.uptodate.com/contents/stimulant-use-disorder-treatment-overview
  4. Boyer, E.W., and Hernon, C. (2024). Methamphetamine: Acute intoxication. UpToDate. Retrieved December 3, 2024, from https://www.uptodate.com/contents/methamphetamine-acute-intoxication
  5. Substance Abuse and Mental Health Services Administration (2018). Key substance use and mental health indicators in the United States: Results from the 2017 National Survey on Drug Use and Health (HHS Publication No. SMA 18–5068, NSDUH Series H-53). Rockville, MD: Center for Behavioral Health Statistics and Quality, Substance Abuse and Mental Health Services Administration.
  6. Sadock BJ, Sadock VA, Ruiz P. (2014). Substance use and addictive disorders. In: Kaplan and Sadock’s synopsis of psychiatry: Behavioral sciences/clinical psychiatry, 11th ed., pages 671–680. Philadelphia: Lippincott Williams and Wilkins.
  7. Bedussi, F., Acerbis, E., Noseda, R., Demagistri, D., Zamprogno, E., Ceschi, A. (2021). False-positive urine screen test for MDMA in a patient exposed to mebeverine. British Journal of Clinical Pharmacology, 87, 2397–2398. https://doi.org/10.1111/bcp.14624

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