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Perturbação Delirante

A perturbação delirante é caracterizada pela presença de um delírio (ou mais) com duração de um mês ou mais, sem quaisquer outros sintomas psicóticos ou mudanças de comportamento e sem prejuízo funcional. O diagnóstico é clínico e o tratamento de 1ª linha inclui fármacos antipsicóticos fornecidos no contexto de uma relação terapêutica de confiança. A psicoterapia de suporte/educação pode ser útil.

Última atualização: Oct 19, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Definição e Epidemiologia

Definição

A perturbação delirante é caracterizada pela presença de crenças falsas que são mantidas por um indivíduo apesar de serem apresentados argumentos racionais e lógicos que sustentam o contrário.

  • As crenças não são partilhadas por pessoas da mesma cultura ou religião
  • Não se podem dever ao nível de inteligência do indivíduo
  • As crenças são tipicamente difíceis de serem compreendidas pelos outros.

Epidemiologia

  • Prevalência vitalícia: 0.05%–0.1%
  • Sem diferenças significativas na incidência entre homens e mulheres.
  • A idade média de início é aos 40 anos.
  • Fatores de risco:
    • História familiar de esquizofrenia ou de perturbação de personalidade esquizotípica
    • Deficiência sensorial, especialmente audição ou visão
    • Fadiga
    • Angústia emocional

Classificação

Tabela: Diferentes tipos de delírios com os respetivos exemplos
Tipo Descrição Exemplo
Delírios do tipo persecutório
  • Mais comum
  • O doente acredita ser prejudicado por algo vivo ou não vivo.
“Os meus colegas de escritório unem-se contra mim porque sou melhor que eles. Eles querem humilhar-me à frente do meu chefe”.
Delírios de grandeza O doente acredita ser muito famoso, rico ou talentoso. “O presidente dos EUA é meu amigo de família”.
Delírios de culpa O doente acredita ser uma pessoa má e que fez algo errado pelo qual merece ser punido. “A culpa da doença do meu pai é minha”.
Delírios de referência O doente experimenta eventos inócuos ou coincidências e acredita que eles têm um forte significado pessoal. “Na TV estão a falar sobre mim”
Alucinações somáticas
  • O doente está preocupado com o seu corpo e com a sua saúde.
  • Apresenta perceções falsas sobre o seu corpo.
“O meu nariz é muito grande. Os meus dentes estão deformados”.
Delírios de ciúme O doente acredita, sem motivo justo ou evidente, que está a ser traído pelo seu cônjuge. “Eu sei que a minha esposa está a ter um caso com o meu melhor amigo porque reparei que as roupas dela estavam enrugadas”.
Delírios religiosos
  • O doente acredita que é Deus, um santo ou um anjo.
  • Está convencido de que tem poderes espirituais ou que nasceu com um propósito divino.
“Eu sou o próximo messias!”
Erotomania O doente acredita que alguém está apaixonado por ele. “Tenho certeza de que a Angelina Jolie está apaixonada por mim”.
Delírios niilistas O doente acredita que o seu corpo, ou parte dele, não existe ou que está morto. “Eu estou morto. Eu não tenho pulmões”.
Delírios de memória O doente lembra-se de eventos que não aconteceram. “Na noite de 9 de junho de 2021, fui raptado da minha casa por extraterrestres”.
Delírios de conteúdo fantástico O doente tem delírios bizarros que não seguem nenhuma lógica ou o senso comum. “Estou a transformar-me lentamente num leopardo”.

Diagnóstico

Critérios clínicos de diagnóstico DSM-V

  • Presença de 1 ou mais delírios
  • Duração de pelo menos 1 mês
  • O doente nunca foi diagnosticado com esquizofrenia.
  • Nota: As alucinações podem estar presentes, mas não são proeminentes e estão relacionadas com o tema do delírio.
  • Não existe um prejuízo funcional significativo
  • Exclusão de outras condições médicas (POC, perturbação dismórfica corporal)
  • Exclusão de perturbações resultantes do abuso de substâncias/ medicamentos

Exames adicionais

  • Avaliação laboratorial: painel metabólico
  • Exame toxicológico da urina para excluir psicose induzida por substâncias
  • TAC e RM do crânio

Tratamento

Abordagem geral

  • O início do tratamento é difícil, visto que os doentes têm um “insight” pobre e frequentemente recusam tratamento médico.
  • É necessário estabelecer uma boa relação médico-doente antes de se questionar a veracidade do delírio.
  • Identificar o fator de stress psicossocial desencadeante do delírio.
  • A psicoterapia de suporte e a educação podem ser úteis.

Farmacoterapia

O tratamento farmacológico de 1ª linha da perturbação delirante são os fármacos antipsicóticos de segunda geração.

  • Fármaco mais utilizado: risperidona
  • Esquemas de curta duração
  • Deve ser interrompido se não se verificarem benefícios após 6 semanas de utilização.

Prognóstico

A perturbação delirante tem geralmente um bom prognóstico, com 50% de recuperação total e 20% com níveis de remissão significativos.

Diagnóstico Diferencial

  • Esquizofrenia: é uma doença mental crónica que se caracteriza por sintomas positivos (delírios, alucinações e fala/comportamento desorganizado) e sintomas negativos (aplanamento afetivo, avolia, anedonia, alogia e diminuição da capacidade de atenção ). A esquizofrenia está associada a um declínio funcional que dura > 6 meses. O declínio funcional, que resulta da gravidade e da duração dos sintomas, distingue a esquizofrenia da perturbação delirante.
  • Perturbação psicótica breve: definida como a presença de 1 ou mais sintomas psicóticos com duração superior a 1 dia e inferior a 1 mês. A condição normalmente tem um início súbito e está muitas vezes relacionada com o stress. Há um retorno completo ao funcionamento básico após o episódio. O diagnóstico é clínico e o tratamento inclui esquemas de curta duração de antipsicóticos de segunda geração, em conjunto com educação e suporte. Ao contrário do que ocorre na perturbação delirante, na perturbação psicótica breve existe um prejuízo funcional significativo.

Referências

  1. Sadock, BJ, Sadock, VA, & Ruiz, P. (2014). Kaplan and Sadock’s synopsis of psychiatry: Behavioral sciences/clinical psychiatry (11th ed.). Chapter 7, Schizophrenia spectrum and other psychotic disorders, pp. 300–346. Philadelphia, PA: Lippincott Williams and Wilkins.
  2. Manschreck, T. (2020). Delusional disorder. UpToDate. Retrieved March 19, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/delusional-disorder
  3. Joseph, SM, & Siddiqui, W. Delusional disorder. [Updated 2020 Nov 20]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2021 Jan-. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK539855/

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