Mastite

Uma mastite corresponde à inflamação do tecido mamário com ou sem infeção. A forma mais comum de mastite associa-se à lactação nas primeiras semanas após o nascimento. A mastite não lactacional inclui a mastite periductal e a mastite granulomatosa idiopática (MGI). A mastite lactacional é causada mais frequentemente por Staphylococcus aureus, introduzido no leite materno durante a amamentação. A etiologia da mastite não lactacional é pouco compreendida, mas a mastite periductal associa-se frequentemente ao tabagismo, e a MGI é frequentemente associada à Corynebacterium. As doentes apresentam edema, eritema, dor e, possivelmente, uma massa na mama. O diagnóstico é tipicamente clínico, embora, nalguns casos, a ecografia, culturas e biópsia possam ser necessárias. O tratamento envolve antibióticos, analgésicos, drenagem na presença de abcesso e excisão cirúrgica do ducto na mastite periductal.

Última atualização: May 11, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Definição

O termo mastite refere-se à inflamação da mama que pode ou não estar associada a infeção.

Classificação

  • Mastite lactacional (mais comum)
  • Mastite não lactacional:
    • Mastite periductal :
      • Inflamação dos ductos mamários subareolares
      • Diferente da ectasia ductal mamária, que envolve dilatação ductal e afeta principalmente mulheres na pós-menopausa
    • Mastite granulomatosa idiopática (MGI): massa mamária periférica com sinais inflamatórios

Epidemiologia

  • Mastite lactacional:
    • Afeta até 10% das mães que amamentam
    • Mais comum nos primeiros 3 meses de aleitamento
  • Mastite não lactacional:
    • Mastite periductal:
      • Mais comum em mulheres jovens
      • Associada ao tabagismo
    • MGI:
      • Rara
      • Mais comum em mulheres jovens e multíparas
      • Pode ocorrer em mulheres nulíparas e homens
      • Nos Estados Unidos, associada à etnia hispânica

Etiologia e Fisiopatologia

Mastite lactacional

  • Associa-se mais frequentemente a uma infeção estafilocócica
  • Uma drenagem inadequada do leite provoca estase e crescimento de microorganismos.
  • Patogénios:
    • São introduzidos nos ductos lactíferos durante a amamentação (o leite materno não é estéril)
    • Geralmente provêm da pele da mãe ou da boca/nariz do lactente
    • Agentes infecciosos mais comuns:
      • Staphylococcus aureus (o mais comum); pode ser um S. aureus resistente à meticilina (MRSA, pela sigla em inglês)
      • Streptococcus do Grupo A ou B
      • Escherichia coli
      • Corynebacterium
      • Bacteroides
  • A drenagem inadequada do leite ou o ingurgitamento podem resultar de:
    • Excesso de leite
    • Alimentação/bombeamento pouco frequentes
    • Diversificação alimentar precocemente
    • Bloqueio parcial do ducto
  • Fatores de risco adicionais:
    • Fissuras/escoriações mamilares
    • Doença da mãe ou do lactente
    • Stress e fadiga materna
    • Imunodepressão materna:
      • Vírus da imunodeficiência humana (VIH)/síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA)
      • Diabetes mellitus
      • Cancro

Mastite não lactacional

Mastite periductal:

  • Inflamação dos ductos subareolares
  • Associada ao tabagismo
  • A etiologia exata é desconhecida; possibilidades incluem:
    • Tabagismo, que causa lesões nos ductos subareolares diretamente ou por hipóxia localizada
    • Metaplasia escamosa associada à mastite → bloqueio parcial do ducto
    • Organismos patogénicos; isolados em 60%–85% dos casos
    • Os patogénios incluem:
      • Staphylococci (mais comum)
      • Enterococci
      • Bacteroides
      • Proteus

MGI:

  • Massa mamária periférica com sinais inflamatórios
  • Geralmente unilateral
  • Não se associa a cancro da mama
  • A etiologia é desconhecida.
  • Associada a Corynebacterium (embora não esteja claro que seja causador)

Apresentação Clínica

Geral

  • Uma mastite apresenta-se com edema e eritema da área afetada.
  • Podem desenvolver-se abcessos, que se apresentam como massas dolorosas e flutuantes.

Mastite lactacional

  • Edema, eritema e calor
  • Geralmente unilateral
  • Sintomas sistémicos de infeção:
    • Febre/arrepios
    • Fadiga/mal-estar geral
    • Mialgias (dores musculares)
  • Dor durante a amamentação
  • Adenopatia regional (gânglios linfáticos dolorosos e aumentados)
  • Massa flutuante e dolorosa (abcesso em 3%–11% dos casos)
Mastite lactacional

A mastite lactacional apresenta-se como uma mama edemaciada e eritematosa.

Imagem : “atlasofclinicals00bock” pelo Internet Archive Book Images. Licença: Public Domain

Mastite periductal

  • Inflamação periareolar
  • Secreção mamilar
  • Massa flutuante e dolorosa (abcesso); pode romper e drenar na borda da aréola
  • Drenagem de fístula cutânea (por um abcesso crónico/recorrente)

MGI

  • Massa mamária periférica com sinais inflamatórios
  • Também podem desenvolver:
    • Múltiplas áreas de infeção periférica
    • Vários abcessos pequenos
    • Úlceras da pele sobrejacente
  • Muitas vezes mimetiza o cancro da mama:
    • Pele sobrejacente em casca de laranja
    • Adenopatia axilar
    • Retração do mamilo
Igm da mama direita

Mastite granulomatosa idiopática (status pós-biópsia incisional da mama)

Imagem : “IGM of the right breast” pelo Dept. of Radiation Oncology, Johns Hopkins University School of Medicine, Baltimore, MD 21231, USA. Licença: CC BY 2.0

Diagnóstico

Mulheres a amamentar

  • O diagnóstico é estabelecido com base na apresentação clínica.
  • Investigação de apoio ao diagnóstico:
    • Coloração de Gram e cultura do leite:
      • Podem ajudar a identificar os organismos causadores
      • Apenas necessários nos casos refratários ao tratamento
    • Hemocultura: no caso de infeção grave progressiva/sinais de sépsis
    • Ecografia:
      • Para pesquisar a presença de abcesso → aparece como uma massa preenchida por líquido
      • Se houver uma massa no exame objetivo
      • Se não houver melhoria clínica após 48-72 horas de antibioterapia empírica
Abscesso na ultrassonografia no diagnóstico de mastite

Imagem ecográfica de um abcesso mamário:
A: complexo, com limites mal definidos
B: de aspeto homogéneo, com limites bem definidos

Imagem : Abscess” pelo Antônio Arildo Reginaldo de Holanda et al. Licença: CC BY 4.0

Mulheres que não estão a amamentar

Mastite periductal:

  • O diagnóstico baseia-se na apresentação clínica.
  • A ecografia pode ser realizada para excluir a presença de abcesso.

MGI:

  • Apresentação clínica: pode mimetizar o cancro da mama
  • Avaliação laboratorial:
    • Coloração de Gram e cultura da secreção mamilar
    • Prolactina: pode estar ↑ na MGI
  • Imagiologia:
    • Ecografia:
      • Massa sólida
      • Também podem observar-se abcessos únicos ou múltiplos
    • Mamografia: pode não ser capaz de diferenciar de doença maligna
  • Biópsia por agulha grossa (BAG):
    • Biopsar massas suspeitas encontradas na avaliação por ecografia
    • Realizar coloração de Gram, cultura e avaliação por histopatologia.
    • Achados na MGI:
      • Inflamação granulomatosa não caseosa e não necrosante
      • Negativa para bacilos álcool-ácido resistentes ou fungos
      • Nas culturas pode crescer a Corynebacterium.

Tratamento

Mastite lactacional

  • Tratamento de suporte:
    • Analgésicos (anti-inflamatórios não esteroides, paracetamol)
    • Compressas frias
    • Esvaziamento frequente e completo da mama através de:
      • Amamentação
      • Extração com bomba
      • Extração manual
  • Antibióticos:
    • Não MRSA:
      • Penicilinas antiestafilocócicas: dicloxacilina
      • Cefalosporinas: cefalexina
      • Eritromicina (hipersensibilidade aos beta-lactâmicos)
    • MRSA:
      • Clindamicina
      • Trimetoprim-sulfametoxazol (evitar em mães a amamentar lactentes com < 1 mês)
      • A vancomicina intravenosa pode ser necessária na apresentação grave/séptica
  • Tratamento cirúrgico: incisão e drenagem dos abcessos associados

Mastite não lactacional

Mastite periductal:

  • Muitas vezes um problema crónico
  • Antibióticos:
    • Amoxicilina-ácido clavulânico (1ª linha)
    • Trimetoprim-sulfametoxazol se existe possibilidade de MRSA
    • A duração do tratamento é geralmente de 5-7 dias
  • Abcesso:
    • Incisão e drenagem
    • Aspiração por agulha
    • Recorre em até 50% dos casos
  • Fístulas e abcessos recorrentes:
    • Excisão cirúrgica dos ductos envolvidos
    • Abrir ou remover o trajeto fistuloso

MGI:

  • Geralmente autolimitada e com resolução espontânea, mas pode levar até 20 meses
  • Se necessário, tratar as infeções secundárias com antibióticos e drenar os abcessos:
    • Empiricamente, podem ser administrados os mesmos antibióticos utilizados na mastite periductal
    • Ajustar os antibióticos com base na cultura e suscetibilidade.
    • Doxiciclina para a Corynebacterium
  • MGI persistente e refratária: Podem utilizar-se corticoides e metotrexato.

Diagnóstico Diferencial

  • Cancro da mama inflamatório: uma neoplasia da mama rara, agressiva e de crescimento rápido, caracterizada por eritema e edema. À apresentação, quase todas as mulheres têm envolvimento ganglionar e até ⅓ têm metástases à distância. Deve suspeitar-se do diagnóstico em mulheres com uma inflamação rapidamente progressiva e sem melhoria com os antibióticos. A imagiologia mamária diagnóstica com mamografia e ecografia, juntamente com a BAG podem confirmar o diagnóstico. O tratamento envolve cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
  • Abcesso mamário: acumulação de conteúdo purulento na glândula mamária, geralmente associado à mastite. Apresenta-se como uma massa unilateral e flutuante numa mama dolorosa, eritematosa e edemaciada. O tratamento é com incisão e drenagem.
  • Galactocelo: coleção quística de líquido geralmente causada por obstrução num ducto lactífero. Os galactocelos apresentam-se como uma massa firme e palpável na região subareolar e pode observar-se um nível líquido-gorduroso clássico na imagiologia. Ao contrário da mastite lactacional, os galactocelos não estão associadas a sintomas sistémicos, como febre, mal-estar ou mialgias. O diagnóstico baseia-se na história clínica e na aspiração, com obtenção de um líquido leitoso. Estas lesões não requerem excisão.
  • Ectasia ductal mamária: dilatação dos ductos subareolares associada a fibrose e secreção mamilar espessa e cremosa. Anteriormente era considerada como parte do mesmo síndrome que inclui a mastite periductal, no entanto, é atualmente considerada um fenómeno relacionado com a idade, sem inflamação ou infeção significativas associadas. A ectasia ocorre geralmente em mulheres na pós-menopausa, enquanto a mastite periductal ocorre tipicamente em mulheres mais jovens, especialmente naquelas que fumam.

Referências

  1. Al-Khaffaf B., Knox F., Bundred N.J. (2008). Idiopathic granulomatous mastitis: a 25-year experience.J Am Coll Surg. 2008;206(2):269. 
  2. Ammari F.F., Yaghan R.J., Omari A.K. (2002). Periductal mastitis. Clinical characteristics and outcome. Saudi Med J. 2002;23(7):819. 
  3. Beckmann C.R.B., Ling, F.W., et al. (Eds.). Obstetric and Gynecology (6th Ed., p. 127).
  4. Dixon, J. M. (2020). Lactational mastitis. In Baron, E. L., and Eckler, K. (Eds.), UpToDate. Retrieved 1 February 2021, from https://www.uptodate.com/contents/lactational-mastitis
  5. Dixon, J. M., Pariser, K. M. (2020). Nonlactational mastitis in adults. In Baron, E. L., and Eckler, K. (Eds.), UpToDate. Retrieved 1 February 2021, from https://www.uptodate.com/contents/nonlactational-mastitis-in-adults
  6. Schoenfeld E.M., McKay M.P. (2009). Mastitis and methicillin-resistant Staphylococcus aureus (MRSA): the calm before the storm? J Emerg Med. 2010;38(4):e31. Epub 2009 Feb 20.

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