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Fratura Supracondiliana

As fraturas supracondilianas são as fraturas de cotovelo mais comuns na população pediátrica. O mecanismo mais comum de lesão envolve uma queda com a mão estendida, resultando numa fratura do úmero distal. Os doentes geralmente apresentam dor, deformidade visível e limitação da amplitude do movimento do cotovelo lesionado. Esta fratura requer muitas vezes uma avaliação imediata por ortopedia devido ao desvio da fratura e à frequência de lesão neurovascular associada.

Última atualização: Jun 28, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

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Descrição Geral

Definição

A fratura supracondiliana acomete o úmero distal, logo acima do cotovelo, e ocorre com frequência na população pediátrica.

Epidemiologia

  • 15% de todas as fraturas pediátricas
  • Fratura pediátrica do cotovelo mais comum (60%)
  • Pico de incidência aos 2-7 anos de idade
  • O braço não dominante é mais frequentemente fraturado
  • Predominância masculina

Etiologia

  • Quedas:
    • Queda sobre a mão estendida em 70% dos casos
    • < 3 anos: queda de < 1 m
      • Muda-fraldas
      • Cama
      • Colo dos pais
    • > 3 anos: queda de > 1 m
      • Estruturas do parque infantil
  • Impactos diretos no cotovelo nos doentes mais velhos.

Fisiopatologia

A área supracondiliana do úmero distal nas crianças é composta por osso fino e estruturalmente fraco em desenvolvimento, tornando-se um local comum de fratura.

  • Fraturas de extensão (95%):
    • Queda sobre a mão estendida
    • Luxação posterior do cotovelo
  • Fraturas de flexão (5%):
    • Força anterior sobre o cotovelo em flexão (geralmente por trauma direto)
    • Luxação anterior do cotovelo
  • 5%–10% das fraturas supracondilianas estão associadas a danos nas estruturas neurovasculares:
    • Artéria braquial:
      • Superior ao músculo braquial
      • Risco de lesão durante a fratura e a redução, especialmente se luxação posterolateral
    • Nervo mediano:
      • Localiza-se junto à artéria braquial
      • Risco de lesão com um desvio posterolateral da fratura
      • Nervo interósseo anterior (NIA) : ramo do nervo mediano; nervo mais frequentemente lesado.
    • Nervo radial: lesado com a mesma frequência que o nervo mediano
    • Nervo cubital: muito menos comum, pode ser lesado com fraturas em flexão

Classificação

A classificação de Gartland baseia-se no grau de desvio:

  • Gartland tipo 1: fratura oculta ou com desvio mínimo
  • Gartland tipo 2: fratura desviada com córtex posterior intacto
  • Gartland tipo 3: fratura completamente desviada com rotura cortical, os subtipos baseiam-se na direção do desvio
  • Gartland tipo 4: instabilidade multidirecional com rotura circunferencia do periósteo; diagnóstico feito durante o exame sob anestesia/intra-operatório
Classificação gartland

Classificação de Gartland das fraturas supracondilianas:
O sistema de classificação de Gartland das fraturas supracondilianas do cotovelo é baseado no grau de desvio das fraturas. Gartland tipo I é uma fratura com desvio mínimo. Gartland tipo II apresenta mais desvio, mas o córtex posterior permanece intacto. Gartland tipo III é uma fratura completamente desviada.

Imagem de Lecturio.

Apresentação Clínica e Diagnóstico

As fraturas supracondilianas são o tipo mais comum de fratura do cotovelo encontrada nas crianças. Estas fraturas geralmente requerem um tratamento emergente devido às lesões neurovasculares associadas.

Sinais e sintomas

  • Os doentes geralmente apresentam-se após queda sobre a mão estendida ou após trauma direto.
    • A queda sobre a mão estendida leva a lesão do tipo extensão (97% – 99%).
    • A queda sobre o cotovelo posterior pode levar a lesão do tipo flexão .
  • Dor localizada na área supracondiliana com diminuição da amplitude do movimento
  • Geralmente apresentam edema, equimose e deformidade óbvia do cotovelo associados
  • A presença de qquimose e enrugamento da pele da face anterior do cotovelo (“sinal do braquial”) podem indicar lesão neurovascular e síndrome compartimental.

Exame neurovascular

Avaliar repetidamente a função nervosa motora e sensitiva, bem como a insuficiência vascular.

  • Exame neurológico:
    • Nervo mediano: Avaliar a abdução do polegar ou a flexão da falange distal do polegar.
    • Nervo interósseo anterior (NIA): Avaliar a flexão da falange distal do polegar.
    • Neuropraxia do nervo radial: Avaliar a extensão do punho e a extensão da articulação interfalângica do polegar.
    • Nervo cubital: Avaliar o primeiro músculo interósseo dorsal.
  • Exame vascular:
    • Avaliar a cor da pele, a temperatura do membro e o tempo de preenchimento capilar (TPC).
    • Palpar as artérias radial e cubital.
    • O doppler pode ser útil
    • A mão fria, pálida e sem pulso requer avaliação cirúrgica imediata e redução da fratura .
    • Pode necessitar de exploração vascular
    • Aproximadamente 10 a 20% das fraturas supracondilianas desviadas apresentam alterações vasculares. A redução da fratura pode ser usada para restaurar a perfusão.

Radiografias

  • Considerações gerais:
    • A analgesia adequada e a imobilização devem ser realizadas antes da imagem para evitar o agravamento do desvio e mais lesões.
    • Devem ser obtidas pelo menos 2 incidências (anteroposterior e lateral): a lateral verdadeira é essencial.
    • A imagem do lado não afetado pode ser obtida para distinguir entre centros de ossificação e fraturas verdadeiras nos doentes pediátricos.
  • Achados nas radiografias alteradas:
    • Coxim adiposo posterior visível (sinal de derrame no cotovelo)
    • Coxim adiposo anterior largo (sinal da vela)
    • A linha umeral anterior passa pelo terço anterior do capítulo ou não se cruza com ele devido ao desvio posterior do úmero distal.
The baumann angle

O ângulo de Baumann (medido na incidência AP) avalia a adequação da redução no plano coronal e pode ser comparado com o cotovelo contralateral. O ângulo de Baumann é o ângulo entre a linha perpendicular ao eixo longo do úmero e a linha ao longo da epífise do côndilo lateral.

Imagem de Lecturio.

Complicações potenciais

  • Agudas:
    • Comprometimento vascular
    • Síndrome compartimental
      • Edema dos tecidos moles à volta da fratura que resulta numa pressão excessiva dentro de um compartimento muscular fechado
      • Resulta em isquemia do tecido muscular e nervoso
  • A longo prazo:
    • Desenvolvimento da contratura isquêmica de Volkmann
    • Lesão neurológica permanente
    • Perda da amplitude de movimento do cotovelo
    • Cubitus varus (deformidade em coronha da arma)

Vídeos recomendados

Tratamento

O tratamento das fraturas supracondilianas baseia-se no grau de desvio da fratura.

  • Abordagem inicial:
    • Imobilização do cotovelo com uma tala de braço longo a 30°–40°
    • Controlar a dor.
    • Evitar mais lesões neurovasculares e diminuir o risco de síndrome compartimental.
    • A reavaliação frequente e a monitorização do estado neurovascular é essencial (antes e após a aplicação da tala inicial)
  • Tratamento adicional com base no grau:
    • Gartland tipo I: geralmente trata-se com uma tala de braço longo ou com gesso a < 90° de flexão
    • Gartland tipo II: a maioria é tratada com redução fechada e fixação cirúrgica
    • Gartland tipo III e IV:
      • Redução fechada e fixação cirúrgica
      • As lesões do tipo IV só são diagnosticadas sob anestesia.

Relevância Clínica

Outras lesões esqueléticas pediátricas importantes:

  • Fratura em fivela ou em tórus: fratura que afeta o crescimento do osso metafisário e que resulta de uma carga em compressão, na qual o osso se dobra ou é comprimido. Esta fratura é geralmente considerada uma fratura estável. É tratada por imobilização com bom prognóstico.
  • Fratura em galho verde: fratura de espessura parcial, que envolve a rotura completa do córtex e do periósteo apenas num dos lados do osso. Esta fratura é denominada em “galho verde” porque se assemelha a um ramo “verde” vivo partido, na qual 1 dos lados da haste permanece intacto. Apresenta um elevado risco de refratura e deve ser completamente imobilizada. Raramente requer redução, no entanto, deve ser manuseada com cautela para evitar a consolidação viciosa ou deformidades de angulação. Esta fratura geralmente deve ser referenciada para seguimento em ortopedia.
  • Fratura de avulsão apofisária: a apófise é um centro de ossificação secundário encontrado nos segmentos ósseos que não suportam peso e é o local de inserção de ligamentos ou tendões. A fratura de avulsão aguda da apófise ocorre quando uma porção da apófise é arrancada pelo ligamento, geralmente devido a movimentos explosivos e contrações musculares excêntricas. Est fratura é tratada sobretudo de forma conservadora, com repouso e controlo da dor, mas pode necesistar de reparação cirúrgica se existir um fragmento grande de osso avulso, com um desvio significativo.

Referências

  1. Holt JB, Glass NA, Shah AS. (2018). Understanding the Epidemiology of Pediatric Supracondylar Humeral Fractures in the United States: Identifying Opportunities for Intervention. J Pediatr Orthop. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29462120/ 
  2. Lins RE, Simovitch RW, Waters PM. (1999). Pediatric elbow trauma. Orthop Clin North Am. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9882730/ 
  3. Farnsworth CL, Silva PD, Mubarak SJ. (1998). Etiology of supracondylar humerus fractures. J Pediatr Orthop. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/9449099/ 
  4. Shrader MW. (2008). Pediatric supracondylar fractures and pediatric physeal elbow fractures. Orthop Clin North Am. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18374807/ 

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