Deficiência de Adesão Leucocitária Tipo 1

A deficiência de adesão leucocitária tipo 1 (LAD1, pela sigla em inglês) é uma doença hereditária na qual existem mutações genéticas que resultam na ausência de expressão de CD18 em neutrófilos. Estas mutações levam a uma diminuição da capacidade dos neutrófilos em migrarem dos vasos sanguíneos para o local da lesão ou infeção ao serem recrutados. Os pacientes com esta patologia terão infeções recorrentes e uma cicatrização mais lenta das feridas. Na avaliação laboratorial, denota-se uma elevada contagem de neutrófilos. O diagnóstico é confirmado com citometria de fluxo, que demonstra uma deficiência em CD18. O transplante de células estaminais hematopoiéticas é o tratamento de escolha, podendo ser curativo.

Última atualização: May 9, 2022

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Epidemiologia e Etiologia

Epidemiologia

  • < 400 casos nos Estados Unidos da América
  • Afeta todas as raças/etnias.
  • Mortalidade:
    • A maioria dos pacientes com a forma grave (< 1% de expressão de CD18) morre nos 2 primeiros anos de vida.
    • Os que apresentam 1%–30% de expressão de CD18 poderão sobreviver até à idade adulta.

Etiologia

  • Gene: a deficiência de adesão leucocitária tipo 1 (LAD1, pela sigla em inglês) é causada por mutações no gene ITGB2.
  • Padrão hereditário: autossómico recessivo
  • Proteínas codificadas: CD18, a subunidade beta-2 de 3 integrinas:
    • Antigénio 1 associado à função linfocitária (LFA-1, pela sigla em inglês)
    • Antigénio macrófago 1 (Mac-1, pela sigla em inglês)
    • Glicoproteína (GP) 150/95

Fisiopatologia e Apresentação Clínica

Fisiopatologia

  • As integrinas são importantes para:
    • Adesão dos leucócitos às células endoteliais durante a migração
    • Interação com células apresentadoras de antigénios
    • Morte por citotoxicidade
  • Uma deficiência ou mutação nestas integrinas interfere com:
    • Adesão de leucócitos
    • Transmigração
    • Quimiotaxia
    • Fagocitose
    • Burst respiratório
  • Resultado: o sistema imunitário é incapaz de responder adequadamente a uma infeção.
Leukocyte migration leukocyte adhesion deficiency type 1

Passos envolvidos na migração de leucócitos:
A deficiência de adesão leucocitária tipo 1 (LAD1, pela sigla em inglês) ocorre devido a uma mutação no gene codificante para CD18. Essa mutação leva a uma deficiência de integrinas ativas utilizadas na adesão de leucócitos ao endotélio vascular, o que impede a transmigração para o local da infeção.

Imagem de Lecturio.

Apresentação clínica

  • Infeções bacterianas ou fúngicas recorrentes dos tecidos moles
  • A onfalite (infeção do coto do cordão umbilical) é comum pouco depois do nascimento.
  • Outros sinais incluem:
    • Atraso na separação do cordão umbilical
    • Doença periodontal
    • Neutrofilia
    • Cicatrização de feridas deficiente
    • Febre(s)

Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

  • Envolve vários testes preliminares da função imunológica, incluindo a avaliação básica do sistema imunitário humoral e do sistema imunitário mediado por células
  • O leucograma irá revelar níveis extremamente elevados de neutrófilos (neutrofilia).
  • A deficiência de CD18 é confirmada através de citometria de fluxo

Tratamento

  • Atualmente, a única terapêutica curativa é o transplante de células estaminais hematopoiéticas.
  • A terapia genética/génica é um tratamento potencial.

Diagnóstico Diferencial

  • Síndrome do linfócito nu: forma de imunodeficiência combinada grave (SCID, pela sigla em inglês) em que as moléculas de MHC estão afetadas. Notoriamente, na síndrome do linfócito nu, existem níveis normais de linfócitos B e T. É a funcionalidade destas células, e não o seu desenvolvimento, que está prejudicada. Os pacientes podem ter infeções bacterianas recorrentes, particularmente das vias respiratórias. O tratamento inclui o transplante alogénico de células estaminais.
  • Doença granulomatosa crónica: tem origem em células fagocitárias defeituosas. Os pacientes terão infeções recorrentes, abcessos e lesões granulomatosas de múltiplos órgãos. O diagnóstico é feito com testes de função neutrofílica para a produção de superóxido. Como opções potenciais de tratamento, existem: a profilaxia antimicrobiana, o interferão gama, a transfusão de granulócitos e o transplante de células estaminais hematopoiéticas.
  • Síndrome de Chediak-Higashi (CHS, pela sigla em inglês): doença autossómica recessiva causada por mutações que afetam uma proteína reguladora do transporte lisossómico. Esta proteína tem um papel crucial na incapacidade dos neutrófilos em matar micro-organismos fagocitados. Indivíduos com a CHS têm como apresentação: infeções piogénicas recorrentes, hemorragias e hematomas fáceis e manifestações neurológicas. Esta síndrome também está associada ao albinismo oculo-cutâneo. O diagnóstico é feito com base na análise do esfregaço de sangue ou de medula óssea do paciente, bem como testes genéticos. O tratamento de escolha é o transplante alogénico de células hematopoiéticas.
  • Síndrome de hiper-IgE: imunodeficiência primária hereditária caracterizada por abcessos cutâneos recorrentes, pneumonia com pneumatocelos e dermatite eczematosa. O diagnóstico é feito pelos níveis elevados de IgE sérica, podendo ser confirmado com testes genéticos. O tratamento inclui antibióticos profiláticos e interferão gama para infeções graves.
  • Neutropénia congénita grave: doença rara decorrente de mutações genéticas que afetam a mielopoiese. A neutropénia congénita grave manifesta-se na infância com infeções bacterianas potencialmente fatais. Na avaliação laboratorial está presente a neutropénia, muitas vezes acompanhada de uma contagem elevada de monócitos. Uma biópsia de medula óssea também ajudará no diagnóstico. O tratamento inclui a administração de fator estimulador de colónias de granulócitos e o transplante de células estaminais hematopoiéticas.
  • Deficiência de mieloperoxidase: doença autossómica recessiva que diminui a eficácia da morte microbiana por fagócitos. A maioria dos pacientes com deficiência de mieloperoxidase é assintomática, enquanto outros podem ter infeções fúngicas graves e recorrentes. O diagnóstico é feito através da coloração histoquímica para a mieloperoxidase em neutrófilos. Não existe um tratamento específico para esta patologia, mas os pacientes devem ser tratados para quaisquer infeções.

Referências

  1. Nervi, S.J., Schwartz, R.A., Sidor, M.I. (2019). Leukocyte adhesion deficiency. In Hyonouchi, H. (Ed.), Medscape. Retrieved March 23, 2021, from https://emedicine.medscape.com/article/887236-overview
  2. Etzioni, A. (2020). Leukocyte-adhesion deficiency. In Feldweg, A.M. (Ed.), UpToDate. Retrieved May 3, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/leukocyte-adhesion-deficiency

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