Crânio

O crânio é a estrutura esquelética da cabeça que sustenta a face e forma uma cavidade protetora para o cérebro. O crânio consiste em 22 ossos, divididos em viscerocrânio (esqueleto facial) e neurocrânio. O neurocrânio é subdividido em calvarium (a calota craniana) e base do crânio (a fossa craniana).

Última atualização: Jan 18, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Viscerocrânio

O viscerocrânio é responsável por manter a estrutura dos músculos da face. Os músculos estão dispostos num padrão anatómico complexo, para permitir uma variedade de funções faciais, como a mastigação, sorriso, franzir a testa, movimentos oculares e permeabilidade da passagem nasal.

Tabela: Ossos do viscerocrânio
Osso do viscerocrânio Número de ossos Características faciais
Zigomático Dois Maçãs do rosto
Lacrimal Dois Parede medial anterior da órbita
Nasal Dois Ponte do nariz
Palatino Dois Quarto posterior do palato duro
Maxila Dois Maxilar superior e ¾ do palato duro (processo palatino da maxila)
Vómer Único Porção posterior do septo nasal
Mandíbula Único Mandíbula inferior e queixo
Vista anterior do crânio

Vista anterior do crânio com os ossos do viscerocrânio:
zigomático (azul), lacrimal (verde), nasal (azul/linha média), conchas nasais inferiores (azul dentro da cavidade nasal), palatino (laranja-escuro), maxilar (laranja-claro), vómer (azul/linha média), mandíbula (bege) e etmóide (cinzento dentro da cavidade nasal)

Imagem: “Anterior View of Skull” por Lumen Learning. Licença: CC BY 4.0
Vista lateral direita do crânio

Vista lateral do crânio com os ossos e suturas

Imagem por Lecturio.

Neurocrânio

O neurocrânio é o complexo ósseo que encerra o cérebro. O calvário é a porção superior do neurocrânio, e consiste no osso frontal único, osso occipital único, ossos parietais bilaterais e ossos temporais bilaterais. Os ossos estão inicialmente separados (as fontanelas ao nascimento) e fundem-se ao longo da infância. Os ossos ficam então conectados por suturas específicas: coronal, escamosa, lambdoide e sagital.

Ossos do neurocrânio:

  • Osso frontal
  • Osso occipital
  • Ossos parietais (2)
  • Ossos temporais (2)
  • Osso etmoidal
  • Osso esfenoidal
Vista posterior do crânio

Vista posterior (ligeiramente inferior) do crânio com os ossos do calvarium:
frontal (não ilustrado), occipital (azul) e parietal (roxo)

Imagem: “Posterior View of Skull” por LumenLearning. Licença: CC BY 4.0

As suturas principais são articulações imóveis entre ossos adjacentes do crânio:

  • Coronal: entre os ossos frontal e parietal
  • Sagital: entre os ossos parietais, ao longo da linha média
  • Lambdóide: entre os ossos parietal e occipital
  • Escamosa: entre os ossos parietal e temporal
Suturas do crânio

Vista lateral do crânio com as suturas coronal, lambdóide e escamosa

Imagem: “Skull sutures” pelo OpenStax College. Licença: CC BY 3.0

As fontanelas major são áreas de tecido conjuntivo entre as placas ósseas, que estão abertas durante a infância:

  • Posterior, occipital ou lambdóide
  • Anterior, bregmática ou frontal
  • Esfenoidal ou anterolateral
  • Mastoideia ou posterolateral
Tabela: Fontanelas major
Fontanela Forma Localização Encerramento
Posterior, occipital ou lambdóide Triângulo Junção das suturas sagital e lambdóide Aos 3 meses
Anterior, bregmática ou frontal Diamante Junção das suturas sagital e coronal Aos 18-24 meses
Esfenoidal ou anterolateral Irregular e bilateral Entre os ossos frontal, parietal e esfenóide Aos 6 meses
Mastoideia ou posterolateral Irregular e bilateral Entre os ossos parietal, temporal e occipital Aos 24 meses
Vista lateral do crânio de um recém-nascido

Vista lateral de um crânio de recém-nascido com as fontanelas posterior, anterior, esfenoidal e mastoideia

Imagem: “Lateral view of a newborn’s skull” pelo OpenStax College. Licença: CC BY 3.0

Base do crânio

A base do crânio é uma região altamente complexa do crânio com muitos pontos de referência anatómicos importantes e foramen para os nervos cranianos e vasos sanguíneos do crânio. O conhecimento aprofundado da localização do foramen e das estruturas que o atravessam são extremamente importantes.

Tabela: Regiões da base do crânio
Região Limites Ossos Estruturas que passam no foramen Conteúdo
Fossa craniana anterior
  • Anterior: ossos frontais
  • Posterior: corpo e asas menores do osso esfenóide
Frontal (placas orbitais) Foramen cego: veias emissárias nasais que drenam no seio sagital superior
  • Lobo frontal do córtex cerebral
  • Bolbo olfativo
  • Trato olfativo
  • Giro orbital
Etmóide (placa cribiforme e crista galli)
  • Foramina da lâmina cribiforme: nervo olfatório (I)
  • Foramina etmoidais anterior/posterior: nervos, artérias e veias etmoidais anteriores/posteriores
Fossa craniana média
  • Anterior: asas menor e maior do osso esfenóide
  • Posterior: bordo superior da porção petrosa dos ossos temporais
  • Lateral: parte escamosa do osso temporal e asas maiores do esfenóide
  • Medial: porção lateral do esfenóide (sulco carotídeo, sela turca e dorso da sela turca)
Esfenóide (asas menores e maiores)
  • Canal ótico: nervo ótico (II) e artéria oftálmica
  • Fissura orbitária superior: nervo oculomotor (III), nervo troclear (IV), 3 ramos do nervo oftálmico (V1, nervos lacrimal, frontal e nasociliar), nervo abducens (VI) e veia oftálmica superior
  • Lobos temporais
  • Hipófise
Esfenóide (asas maiores)
  • Foramen redondo: nervo maxilar (V2)
  • Foramen oval: nervo mandibular (V3), artéria meníngea acessória e veia que une o seio cavernoso e o plexo pterigoideu
  • Foramen espinhoso: ramo meníngeo do nervo mandibular e da artéria/veia meníngea média
Temporal
  • Foramen lacerum: nervo e artéria do canal pterigoideu e ramo meníngeo da artéria e veia faríngea ascendente
  • Canal carotídeo: plexo e artéria carótida interna
  • Canal para nervo petroso maior: nervo petroso maior
  • Canal para nervo petroso menor: nervo petroso menor e artéria timpânica superior
Fossa posterior do crânio Anterior: dorso da sela do esfenóide/borda superior da parte petrosa dos ossos temporais Temporal
  • Meato acústico interno: nervo facial (VII), nervo vestibulococlear (VIII) e artéria/veia labiríntica
  • Foramen jugular: nervo glossofaríngeo (IX), nervo vago (X), nervo acessório (XI), veia jugular interna, seio petroso inferior, artéria occipital e artéria meníngea posterior
  • Cerebelo
  • Tronco cerebral
Occipital
  • Foramen magno: medula oblongata, fibras ascendentes do nervo acessório (XI), artérias vertebrais, artéria espinhal anterior, artérias espinhais posteriores e veias espinhais
  • Canal do hipoglosso: nervo hipoglosso (XII)

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Fossas externas

Tabela: Fossas externas
Fossa temporal* Fossa infratemporal Fossa pterigopalatina
Localização Acima do arco zigomático do osso temporal
  • Medial ao arco zigomático
  • Profundamente ao ramo da mandíbula
  • Posterior à maxila
  • Medial à fossa infratemporal
  • Abaixo do ápex da órbita
  • Entre o osso esfenóide posteriormente, a maxila anteriormente e o osso palatino medialmente
Limites
  • Superior/posterior: linhas temporais superior e inferior
  • Inferior: arco zigomático
  • Anterior: processo frontal do osso zigomático e processo zigomático do osso frontal
  • Superior: asa maior do osso esfenóide
  • Inferior: inserção do músculo pterigoideu medial, junto ao ângulo da mandíbula
  • Anterior: face posterior da maxila
  • Posterior: processo mastoideu
  • Medial: lâmina pterigóide lateral do osso esfenóide
  • Lateral: ramo da mandíbula
  • Anterior: superfície posterior da maxila
  • Posterior: raiz do processo pterigoideu
  • Medial: lâmina perpendicular do osso palatino
  • Lateral: fissura pterigomaxilar
  • Inferior: processo piramidal do osso palatino
  • Superior: fissura orbital inferior
Conteúdo
  • Músculo temporal
  • Artérias temporais profundas
  • Nervo auriculotemporal
  • Artéria/veia temporal superficial
  • Nervo zigomáticotemporal
  • Nervos alveolar inferior, lingual e bucal
  • Gânglio ótico
  • Chorda tympani
  • Artéria maxilar
  • Plexo venoso pterigoideu
  • Músculos pterigoideus medial/lateral
  • Tendão do músculo temporal
  • Gânglio pterigopalatino
  • Nervos palatinos maior/menor
  • Nervo maxilar
  • Artéria maxilar
Foramen (e a estrutura de conexão) Fissura orbitária inferior: órbita
  • Fissura orbitária inferior: órbita
  • Foramen oval e foramen espinhoso: fossa craniana média
  • Fissura pterigomaxilar: fossa pterigopalatina
  • Fissura orbitária inferior: órbita
  • Foramen redondo: fossa craniana média
  • Canal pterigoideu: foramen lacerum
  • Foramen esfenopalatino: cavidade nasal
  • Fissura pterigomaxilar: fossa infratemporal
  • Foramen palatinos maior/menor: cavidade oral
*A fossa temporal também é chamada pterion:
  • Ponto de convergência dos ossos temporal, parietal, esfenóide e frontal
  • Uma das áreas mais frágeis do crânio (suscetível a fratura)

Relevância Clínica

  • Fraturas de Le Fort: fraturas transversais do terço médio da face. Existem três tipos de fraturas de Le Fort e envolvem a separação de toda ou parte da face média da base do crânio. Estas fraturas são reparadas cirurgicamente com a colocação de placas estabilizadoras.
  • Fraturas do crânio: uma interrupção na continuação dos ossos que compõem o calvarium. Ocorrem geralmente devido a trauma por contusão e estão frequentemente associadas a uma lesão cerebral traumática. As fraturas do pterion podem lesar a artéria meníngea média. As fraturas da porção petrosa do osso temporal podem fazer com que o sangue ou o líquido cefalorraquidiano saiam pelo ouvido, o que pode resultar em perda auditiva.
  • Fraturas orbitárias: são classificadas como fraturas do rebordo orbitário, fraturas diretas do pavimento da órbita e fraturas blowout. Os indivíduos apresentam hematomas à volta dos olhos, acompanhados de visão turva, diminuída ou dupla.
  • Craniossinostose: a fusão prematura de 1 ou mais suturas cranianas. A craniossinostose pode ser classificada como simples ou complexa, e normalmente leva a um formato anormal da cabeça. A craniossinostose ocorre em aproximadamente 4 por 10.000 crianças e pode ser corrigida com intervenção cirúrgica.
  • Acrania: uma doença congénita rara caracterizada pela ausência parcial ou completa dos ossos do crânio. Esta doença encontra-se frequentemente associada a anencefalia.
  • Cranium bifidum: defeito do tubo neural caracterizado pelo encerramento inadequado do crânio fetal durante o desenvolvimento. O cranium bifidum está geralmente associado ao encafaloceloou à protrusão de matéria cerebral coberta por meninges através do defeito ósseo. A apresentação clínica inclui geralmente um sulco na linha média do crânio entre a testa, o nariz ou a região occipital.

Referências

  1. Johnson, D., & Wilkie, A. O. (2011). Craniosynostosis. European journal of human genetics: EJHG, 19(4), 369–376. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/21248745/
  2. Okamoto, T., Nuri, T., Harada, A., Kyutoku, S., & Ueda, K. (2019). Cranial Suture Measurement by 2-point Method in Ultrasound Screening of Craniosynostosis. Plastic and reconstructive surgery. Global open, 7(5), e2225. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/31333954/
  3. Kliegman, R., Stanton, B., St. Geme, J. W., Schor, N. F., & Behrman, R. E. (2016). Nelson textbook of pediatrics (Edition 20.). Phialdelphia, PA: Elsevier.

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