Carcinoma Colorretal

O carcinoma colorretal (CCR) é a segunda principal causa de mortes relacionadas com carcinomas nos Estados Unidos. O CCR é uma doença heterogénea que surge de anomalias genéticas e epigenéticas, com influência de fatores ambientais. Quase todos os casos de CCR são adenocarcinomas, sendo a maioria das lesões decorrentes da transformação maligna de um pólipo adenomatoso. Como a maioria dos casos de CCR são assintomáticos, a colonoscopia de rastreio ou exames às fezes são geralmente recomendados em doentes com ≥ 45 anos. Tal como o rastreio, o diagnóstico é feito pela realização de uma colonoscopia, que permite a visualização e a biópsia de tecidos. O tratamento é principalmente cirúrgico, com quimioterapia reservada para a doença avançada.

Última atualização: Jan 2, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Epidemiologia

  • É o 3.º cancro mais comum (entre homens e mulheres)
  • É a 2.ª causa mais comum de morte por cancro nos Estados Unidos
  • Nos Estados Unidos, as taxas de incidência e mortalidade têm diminuído.
  • A maioria são adenocarcinomas.
  • A maioria dos carcinomas colorretais (CCR) surgem de pólipos (adenomatosos ou serreados).

Fatores de risco

  • Idade ≥45 anos (94% dos novos casos de CCR)
  • Síndromes hereditários:
    • Polipose adenomatosa familiar (PAF)
    • Carcinoma colorretal hereditário sem polipose (HNPCC) ou síndrome de Lynch
    • Síndrome de Peutz-Jeghers (SPJ)
    • Polipose associada a MUTYH (MAP, pela sigla em inglês): mutação no homólogo de mutY do gene de reparação por excisão de base
    • História familiar de CCR
  • Patologias do cólon:
    • Doença inflamatória intestinal (DII)
    • Pólipos adenomatosos grandes ou CCR prévio
  • Outras doenças médicas:
    • Fibrose quística
    • Uso de radiação abdominopélvica
    • Doenças que cursam com o aumento da insulina ou fator de crescimento semelhante à insulina (por exemplo, diabetes, acromegalia, obesidade)
    • Bacterémia por Streptococcus bovis
    • Transplante renal
  • Estilo de vida e fatores sociais:
    • Tabagismo e consumo de álcool (> 4 doses/dia)
    • Dieta (aumento de gordura, carne vermelha e processada, pouca fibra)
    • Baixo estatuto socioeconómico

Etiologia

Pólipos colorretais

  • São crescimentos anormais de tecido que surgem da mucosa do cólon e se estendem até o lúmen
  • São as lesões mais comuns, das quais surge o CCR
  • Morfologia:
    • Séssil: pólipo sem pedúnculo, com crescimento adjacente à massa
    • Pedunculado: pólipo com pedúnculo
  • 30% da população têm pólipos aos 50 anos.

Tipos de pólipos:

  • Pólipos inflamatórios (não neoplásicos)
  • Pólipos hamartomatosos (↑ risco de CCR se associado à SPJ)
  • Lesões sésseis serreadas:
    • Adenomas/pólipos sésseis serreados (SSA/P, pela sigla em inglês)
    • Adenomas serreados tradicionais (TSAs, pela sigla em inglês)
    • Pólipos hiperplásicos (histologicamente semelhantes ao SSA; não neoplásicos)
  • Pólipos adenomatosos:
    • Tubular (> 80%)
    • Adenomas vilosos (a maioria é séssil)
    • Tubuloviloso

Pólipos de alto risco:

  • Pólipos >1 cm de tamanho
  • Adenomas com características vilosas (risco de CCR >3 vezes superior que os adenomas tubulares) ou displasia de alto grau
  • Pólipos/adenomas serreados
Pólipo de cólon

Pólipo do cólon sigmóide revelado por colonoscopia: O pólipo é pedunculado (com uma haste curta).

Imagem : “Colon polyp” por Dr. F.C. Turner. License: CC BY 2.5

Desenvolvimento do carcinoma

A maioria dos pólipos são benignos. A transformação maligna é afetada por uma série de mutações e fatores ambientais.

Mutações :

  • Mutações germinativas:
    • Ocorrem antes da fertilização
    • Podem ser hereditárias (de pais para filhos)
    • Encontradas nos síndromes hereditários comuns (por exemplo, PAF, síndrome de Lynch), que representam <10% dos CCR
  • Mutações somáticas:
    • Mutações espontâneas em esperma/óvulo ou zigoto
    • Os progenitores não têm a mutação, mas a descendência futura pode herdar.
    • Encontradas em CCR esporádicos (>70%)

Gene APC (“adenomatous polyposis coli”):

  • A maioria dos CCR começa com a inativação do gene da polipose adenomatosa (APC) (por mutação germinativa ou somática).
  • Os CCR levam cerca de 10 a 15 anos para se desenvolver, mas podem avançar em menos tempo sob certas condições.
  • A proteína APC, codificada pelo gene APC, promove a degradação da β-catenina.
  • Sem a proteína APC:
    • A β-catenina ativa a transcrição dependente do fator de células T (Tcf) de genes-alvo específicos.
    • Esses genes incluem MYC e ciclina D1 (oncogenes), que promovem a proliferação.
  • Mutações APC: o evento inicial para a formação do adenoma, mas são necessários vários hits genéticos para a progressão do CCR

Fisiopatologia

APC

Adenomatous poliposis coli é uma mutação genética inicial.

  • A maioria dos adenomas e CCR iniciam-se com a inativação do gene APC (por mutação germinativa ou somática).
  • Após o evento inicial, os CCR levam cerca de 10 a 15 anos para se desenvolver (menor tempo em determinadas condições).
  • A proteína APC, codificada pelo gene APC, promove a degradação da β-catenina.
  • Sem proteína APC:
    • A β-catenina (da via WnT) ativa a transcrição dependente de Tcf de genes-alvo específicos.
    • Esses genes incluem o MYC e ciclina D1 (oncogenes), que promovem a proliferação.

Mecanismos moleculares da tumorigénese

São necessários múltiplos hits genéticos para a progressão do CCR.

Acumulação de mutações e eventos moleculares:

A acumulação de mutações e eventos moleculares (por exemplo, alteração genética, metilação do DNA, sobreexpressão) contribui para a carcinogénese.

  • Instabilidade cromossómica (CIN, pela sigla em inglês):
    • Aberrações cromossómicas estruturais (deleções ou perda de heterozigotia)
    • Resulta na promoção de oncogenes ou na redução de genes supressores tumorais (TSG, pela sigla em inglês)
    • Visto em alterações genéticas do APC
    • Outros genes: DCC, TP53/p53 e SMAD4 (genes supressores tumorais) ou KRAS (um proto-oncogene)
    • 85% dos CCR desenvolvem-se devido a este mecanismo.
  • Instabilidade de microssatélites (MSI, pela sigla em inglês):
    • Também denominado fenótipo mutador/via de “mismatch repair”
    • Microssatélites: sequências repetidas, curtas e anormais de bases de nucleótidos causadas por deficiência no “mismatch repair”
    • Causa: mutação germinativa dos genes MLH1, MSH2 ou PMS2 levando a enzimas de “mismatch repair” (MMR) do DNA disfuncionais
    • Acumulação de microssatélites: encontrada em tumores MSI-high (MSI-H)
    • Marca biológica da síndrome de Lynch
    • Observada em até 15% dos CCR esporádicos
  • Via do fenótipo metilador da ilha CpG (CIMP+):
    • A hipo ou hipermetilação do DNA pode alterar a expressão dos genes.
    • A alta metilação das ilhas CpG (citosina seguida por uma base guanina, ligada por ligação fosfodiéster) ocorre no TSG.
    • A metilação inativa o TSG, levando à progressão do tumor.
    • Encontrado em tumores CIMP+

Sobre-expressão da ciclooxigenase (COX)-2:

  • COX-2: sobre-expressa em 43% dos adenomas e 86% dos carcinomas
  • A inibição da COX-2 reduz o número de pólipos intestinais.

Mecanismos morfológicos da tumorigénese

Sequência adenoma-carcinoma:

  • Sequência seguida pela maioria dos CCR
  • Progressão: adenoma precoce (tubular ou tubuloviloso) → adenoma avançado (viloso) → adenocarcinoma
  • Pólipos adenomatosos:
    • Desenvolvem-se com uma disrupção da renovação epitelial
    • A substituição do revestimento celular da superfície torna-se displásica à medida que os adenomas aumentam de tamanho.
  • Mutação APC comum
  • Via(s) molecular(es) associada(s): CIN
Adenoma carcinoma sequence

Sequência adenoma-carcinoma do cólon normal ao carcinoma: a formação do CCR inicia-se com a mutação do gene APC (herdado ou adquirido) e anomalias da metilação. Outras alterações podem incluir a mutação do gene KRAS. No final do processo, a deleção de p53, perda de heterozigotia (LOH) em 18q21 (envolvendo SMAD2 e SMAD4), com sobre-expressão de COX-2 pode contribuir para um maior crescimento e progressão para carcinoma. A acumulação de mutações, ao invés do momento da sua ocorrência, é mais crucial na carcinogénese.

Imagem por Lecturio.

Via do pólipo serreado:

  • Os pólipos serreados também têm potencial maligno
  • Observada em 10–20% dos casos
  • Progressão: pólipo/adenoma serreado séssil → adenocarcinoma
  • Ativação do oncogene BRAF com mutações KRAS observadas
  • Vias moleculares associadas:
    • CIMP (principal mecanismo que conduz a via serreada em direção ao CCR)
    • MSI
Adenoma-carcinoma clássico e vias serrilhadas

Diagrama esquemático das vias clássica (adenoma-carcinoma) e serreada.
Metade superior: via serreada da carcinogénese colorretal, que ocorre em 10-20% dos CCR. A via está associada às seguintes características genéticas: mutações BRAF/KRAS, MSI (instabilidade de microssatélites) e CIMP (fenótipo metilador da ilha CpG). As lesões serreadas podem ser pólipos hiperplásicos, adenomas/pólipos serreados sésseis (SSA/Ps) e adenomas serrilhados tradicionais (TSAs). Os 2 últimos estão associados a displasia e progressão para carcinoma.
Metade inferior: adenoma-carcinoma ou via clássica, que ocorre na maioria dos CCR. Entre as características genéticas estão mutações nos genes APC/KRAS/p53 e instabilidade cromossómica (CIN). Através desta sequência, o adenoma torna-se adenocarcinoma.

Imagem:  “Schematic diagram of the classical (adenoma-carcinoma) and serrated pathways” por Centre for Tumor Biology, Barts Cancer Institute, Barts and the London School of Medicine and Dentistry, Queen Mary University of London, London, UK. License: CC BY 4.0

Apresentação Clínica

Achados clínicos gerais

  • Frequentemente assintomático, com o CCR detetado na colonoscopia de rastreio
  • Sintomático:
    • Sintomas sistémicos: astenia, anemia, perda de peso
    • A anemia por défice de ferro num doente idoso assume-se como carcinoma do cólon até prova em contrário.
    • Outros sintomas dependem da localização

Carcinomas do lado direito

  • Os sintomas obstrutivos não são comuns:
    • As fezes na área (válvula ileocecal até ao cólon ascendente) ainda são líquidas.
    • O lúmen é maior (do que o lado esquerdo).
  • As lesões podem crescer, ulcerar e levar à perda de sangue oculto:
    • Anemia por défice de ferro: astenia, angina, palpitações
    • Melenas

Carcinomas do lado esquerdo

  • Do cólon transverso ao descendente, local de formação das fezes.
  • Assim, lesões cancerígenas podem impedir a passagem das fezes, causando:
    • Cólicas abdominais
    • Alteração dos hábitos intestinais (obstipação alternando com fezes moles)
    • Fezes com raios de sangue ou hematoquézias
    • Diminuição do calibre das fezes devido à obstrução

Carcinomas retais

  • Massa ulcerada palpável ao toque retal
  • Tenesmo
  • Hemorragia retal
  • Obstrução

Metastização

  • Os CCR metastatizam por extensão direta ou por via hematogénea e linfática.
  • Locais de metástase:
    • Fígado (1.º local para tumores intestinais): distensão abdominal, icterícia, ascite, hepatomegalia
    • Pulmões (1.º local para tumores rectais distais): tosse, dispneia (pode ser por derrame pleural), hemoptises

Diagnóstico

Colonoscopia

  • Exame diagnóstico de escolha
  • A visualização da(s) lesão(ões) e realização de biópsia do tecido (ou remoção da lesão) podem ser realizadas.
  • Colonoscopia de rastreio:
    • Doentes assintomáticos
    • Para a população com risco médio: realizar aos 45 anos e mais velhos
    • O rastreio numa idade mais jovem depende das condições e dos riscos.
  • Colonoscopia diagnóstica:
    • Realizada em doentes sintomáticos
    • Indicada para aqueles com estudos de imagem anormais
  • Achados:
    • Pólipos
    • Carcinoma:
      • Massas exofíticas volumosas
      • Lesões anulares constritivas
Cancro do colon

Carcinoma do cólon encontrado na colonoscopia e confirmado por biópsia

Imagem: “Primary tumor” por Second Department of Surgery, Wakayama Medical University, School of Medicine, 811-1 Kimiidera, Wakayama 641-8510, Japan. License: CC BY 2.0

Colonografia por TC

  • Colonoscopia virtual
  • Requer preparação mecânica
  • Pode ser utilizada nos casos de colonoscopia incompleta (por exemplo, obstrução, cólon tortuoso) ou como teste diagnóstico inicial
  • A colonoscopia continua a ser o exame de eleição.
  • Limitações:
    • Os doentes devem ser capazes de passar gases.
    • Não é possível realizar biópsia ou remoção da lesão

PILLCam 2

  • Endoscopia por cápsula do cólon: o doente engole um endoscópio do tamanho de uma cápsula.
  • Pode ser considerado em doentes com colonoscopia incompleta
  • Os doentes não podem ter obstrução.

Outros estudos imagiológicos

  • O enema baritado com contraste aéreo pode mostrar “apple core lesion”.
  • TC:
    • Para estadiamento pré-operatório
    • Deteta complicações associadas (por exemplo, obstrução, perfuração, fístula)
    • Deteta presença de metástases
  • RMN pélvica ou ecografia endoscópica transrretal:
    • Para o carcinoma retal
    • Para avaliação da profundidade do carcinoma através da parede retal e gânglios linfáticos perirretais

Avaliação analítica

  • Antigénio carcinoembrionário (CEA):
    • Marcador tumoral para o CCR; obter quando há CCR comprovado
    • Não utilizado para rastreio ou diagnóstico
    • Valor prognóstico: CEA pré-operatório > 5 ng/mL está associado a um pior prognóstico.
    • A não normalização dos valores após a cirurgia é indicativa de doença persistente
  • Hemograma completo com plaquetas: pode revelar anemia
  • Painel metabólico:
    • Pode evidenciar anomalias metabólicas adicionais
    • Fosfatase alcalina elevada: alteração hepática mais comum associada a metástases hepáticas

Estadiamento

Após se estabelecer o diagnóstico de CCR, é necessário o estadiamento da doença para o tratamento adequado.

Sistema de estadiamento TNM (tumor, nódulos, metástases):

  • Determina a extensão da doença
  • Com base em:
    • Exame pré-operatório (por exemplo, ascite, gânglios linfáticos)
    • Resultados imagiológicos:
      • TC (tórax/abdómen/pelve)
      • RMN (identifica mais lesões hepáticas metastáticas)
      • Ecografia endoscópica transrretal (para carcinoma do reto)
    • Endoscopia (com biópsia) e biópsia de gânglios linfáticos
Estadio Tumor (T) Nódulos regionais (N) Metástases à distância (M)
Estadio 0
  • Tis: carcinoma in situ (carcinoma intramucoso)
  • N0: sem nódulos regionais envolvidos
  • M0: sem metástases à distância
Estadio I
  • T1: invasão da submucosa através da camada muscular da mucosa
  • T2: invasão da muscular própria
  • N0: sem nódulos regionais envolvidos
  • M0: sem metástases à distância
Estadio II
  • T3: invasão através da muscular própria e nos tecidos pericolorretais
  • T4a: invasão pelo peritoneu visceral
  • T4b: invade ou adere a órgãos ou estruturas adjacentes
  • N0: sem nódulos regionais envolvidos
  • M0: sem metástases à distância
Estadio III
  • Qualquer T
  • N1: metástases em 1–3 nódulos regionais ou qualquer número de depósitos tumorais presentes e todos os nódulos identificáveis são negativos
    N2: metástases em 4 ou mais gânglios regionais
  • M0: sem metástases à distância
Estadio IV
  • Qualquer T
  • Qualquer N
  • M1a: metástases para 1 local ou órgão; sem metástases peritoneais
  • M1b: metástases para 2 ou mais locais; sem metástases peritoneais
  • M1c: metástases para a superfície peritoneal (isolada ou com metástases em outros locais)

Vídeos recomendados

Prevenção

  • Adultos (50-59 anos):
    • United States Preventive Services Taskforce: aspirina em baixa dose diária para prevenção primária do CCR
    • Os indivíduos devem ter:
      • Ausência de risco hemorrágico
      • Esperança de vida de, pelo menos, 10 anos
      • ≥ 10% de risco de DCV (doença cardiovascular) aos 10 anos
  • Indivíduos com risco intermédio:
    • O rastreio é iniciado aos 45 anos
    • Opções de rastreio:
      • Pesquisa de sangue oculto nas fezes
      • Teste imunoquímico fecal (FIT, pela sigla em inglês) anual
      • Teste sDNA-FIT a cada 3 anos
      • Sigmoidoscopia flexível a cada 5 anos (limitada à parte distal do cólon)
      • Colonoscopia a cada 10 anos
      • Colonografia por TC a cada 5 anos
    • Uma pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonografia por TC ou sigmoidoscopia positiva justifica a realização de uma colonoscopia.
    • O rastreio não é geralmente recomendado após os 75 anos
  • Indivíduos com história familiar de CCR/adenoma avançado/lesão serreada avançada:
    • Colonoscopia aos 40 anos ou 10 anos antes da idade do diagnóstico do familiar de 1º grau (o que ocorrer primeiro)
    • Repetir a cada 5 anos

Vídeos recomendados

Tratamento

Princípios gerais

  • Resseção do carcinoma primário:
    • Tratamento de escolha para quase todos os doentes com lesões ressecáveis
    • Pode ser por cirurgia laparoscópica ou aberta
  • A disseção regional de gânglios linfáticos (pelo menos 12) é realizada por resseção (ajuda na determinação de terapêutica adjuvante adicional).
  • Quimioterapia:
    • Quimioterapia adjuvante: administrada dependendo do estadio do carcinoma do cólon
    • Quimioterapia e/ou radioterapia neoadjuvante: administrada para doentes com carcinoma retal (T3 ou superior, com nódulos linfáticos positivos)
    • Regimes de quimioterapia:
      • Regime FOLFOX ( 5-fluorouracil/5-FU + ácido folínico/leucovorina + oxaliplatina)
      • FOLFIRI (5-fluorouracil + ácido folínico + irinotecano)
      • CAPOX/XELOX: capecitabina oral (Xeloda) usada com oxaliplatina

O estadio do CCR e a biologia molecular (no caso da terapêutica dirigida) ditam os papéis dos tratamentos cirúrgicos e farmacológicos.

Carcinoma num pólipo

  • Remoção endoscópica ou polipectomia
  • Quando há suspeita de carcinoma invasivo, deve ser feita uma tatuagem (para localização caso uma lesão invasiva seja encontrada ou se houver necessidade de terapia/cirurgia adicional).
  • Fatores que indicam alto risco de carcinoma residual ou de metástases ganglionares (considerar cirurgia radical):
    • Histologia pouco diferenciada
    • Carcinoma na margem do pedículo
    • Invasão linfovascular
    • Lesão T2
    • Carcinoma invasivo em pólipo séssil

Carcinoma do cólon estadio I-III

  • É realizada uma resseção ampla da lesão com linfadenectomia regional.
  • Opções cirúrgicas:
    • Hemicolectomia direita: lesão(ões) no cego e cólon direito (pode ser alargada para incluir o cólon transverso)
    • Hemicolectomia esquerda: lesão(ões) na flexura esplénica e no cólon esquerdo (pode ser alargada para incluir o cólon transverso)
    • Colectomia sigmóide: cólon sigmóide
    • Colectomia abdominal total:
      • Carcinoma do cólon síncrono
      • PAF
      • HNPCC
  • A resseção multivisceral com margens negativas da estrutura envolvida é recomendada em doentes que apresentem invasão de órgãos contíguos ou aderências com estruturas adjacentes.
  • Opções de quimioterapia:
    • Estadio I: sem terapêutica adjuvante
    • Estadio II: controverso; aqueles com alto risco de recorrência podem beneficiar da terapêutica adjuvante
    • Estadio III (doença com nódulos positivos):
      • Benefício significativo da terapêutica adjuvante
      • Tumores MSI-H: não beneficiam da quimioterapia baseada em 5-FU

Doença metastática ou estadio IV

  • A maioria não tem doença ressecável (curável).
  • Quimioterapia: tratamento padrão e pode atrasar a progressão do tumor
  • Lesões isoladas do fígado/pulmão: lesões metastáticas confinadas ao fígado ou pulmão podem ser ressecadas.
  • A adição de agentes biológicos/terapêutica direcionada melhora a sobrevida em certos doentes.
  • Doença metastática irressecável:
    • Abordar as complicações associadas (obstrução, perfuração).
    • Técnicas ablativas locais (criocirurgia, coagulação por radiofrequência, embolização, quimioterapia intra-arterial hepática) ou radiação

Carcinoma do reto

  • Quimioterapia e/ou radioterapia pré-operatória (neoadjuvante):
    • Em tumores T3 ou maiores
    • Recomendada em todos os tumores com nódulos positivos
  • A abordagem operatória pós-quimioterapia depende de:
    • Nível do tumor acima da margem anal
    • Tamanho e profundidade de penetração
    • Estado clínico geral do doente
  • Para tumores retais T1 minimamente invasivos, pequenos (menos de 3 cm), bem diferenciados: excisão transanal
  • A maioria dos estadios II-III:
    • Resseção anterior do reto baixa (LAR, pela sigla em inglês):
      • Cirurgia de preservação do esfíncter
      • Tumores moderadamente ou bem diferenciados dentro de 2 cm do esfíncter anal
      • Tumores pouco diferenciados dentro de 5 cm do esfíncter anal
    • Resseção abdominoperineal (APR, pela sigla em inglês):
      • Excisão retal total com colostomia permanente
      • Tumores moderadamente ou bem diferenciados a < 2 cm do esfíncter anal
      • Tumores pouco diferenciados < 5 cm do esfíncter anal
  • Carcinoma retal irressecável: tratamento paliativo com colostomia derivativa

Papel da terapêutica alvo

  • Perfil genético do tecido tumoral: realizado para encontrar anomalias moleculares específicas e determinar as opções de tratamento
  • Utilizada com quimioterapia ou em monoterapia quando o carcinoma progride com uso de quimioterapia
    • Anti-VEGF (fator de crescimento epidérmico vascular):
      • Bevacizumab (adicionado à quimioterapia de 1.ª linha)
      • Ramucirumab (tratamento de 2.ª linha)
      • VEGF “trap” ou aflibercept (tratamento de 2.ª linha)
    • Anti-EGFR (recetor do fator de crescimento epidérmico) (adicionado à quimioterapia em tumores em estadio IV com mutações específicas): cetuximab, panitumumab
    • Inibidor do BRAF (para CCR metastático que progrediu com quimioterapia prévia): encorafenib
    • Inibidores do checkpoint imunológico (para MSI-H ou “mismatch repair” deficiente (dMMR) CCR): pembrolizumab, nivolumab
    • Inibidor da quinase multialvo (para CCR metastático e refratário após progressão sob regimes padrão): regorafenib
    • Trifluridina/tipiracil (CCR refratário após progressão sob regimes padrão)

Follow-up:

Antigénio carcinoembrionário (CEA):

  • Monitorizar durante 5 anos após a conclusão do tratamento (a cada 6 meses).
  • Valores seriados após cirurgia/tratamento:
    • A elevação do CEA deve ser avaliada novamente.
    • Quando confirmado, a avaliação pode incluir TC, PET e/ou colonoscopia para procurar uma eventual recorrência da doença.

Colonoscopia:

  • Dentro de alguns meses após a resseção cirúrgica, e depois 1 ano após a cirurgia
  • A cada 3-5 anos a partir desse ano

Imagiologia:

  • TC anual (tórax e abdómen) durante pelo menos 3 anos
  • TC (pelve) para carcinoma retal se não tiver sido administrada radiação pélvica

Síndromes Familiares de Carcinoma do Cólon

Polipose adenomatosa familiar

  • Doença autossómica dominante
  • Ocorre devido a uma mutação no gene APC
  • Desenvolvem-se centenas de adenomas colorretais (observados na colonoscopia) aos 15 anos.
  • Risco de CCR: 100%, frequentemente detetado aos 40 anos
  • Rastreio: colonoscopia a partir dos 10 – 15 anos
  • Tratamento: colectomia profilática (proctocolectomia ou colectomia total), geralmente aos 20 anos
  • Indicações para colectomia na PAF:
    • Eletiva
    • CCR suspeito
    • Presença de displasia ou neoplasia do cólon
    • Aumento significativo no número de pólipos durante o rastreio

Carcinoma colorretal hereditário sem polipose/síndrome de Lynch

  • Doença autossómica dominante
  • Ocorre devido à mutação de 1 dos genes de “mismatch repair” de DNA (MSH2, MSH6, MLH1) resultando em MSI, ou o gene EPCAM.
  • Risco de CCR: 75%
  • Indivíduos em risco que atendem aos critérios de Amesterdão II (“regra 3-2-1”) :
    • 3 ou mais familiares com CCR, 1 dos quais deve ser familiar em primeiro grau dos outros 2
    • Envolvimento de 2 ou mais gerações
    • Pelo menos 1 carcinoma deve ter sido diagnosticado < 50 anos.
    • Exclusão de PAF
    • Tumores confirmados por exame patológico
  • Teste confirmatório: sequenciamento de DNA
  • Rastreio do CCR: colonoscopia anual aos 20-25 anos de idade
  • Tratamento:
    • Rastreio — preferência
    • Aspirina (pode reduzir o risco de CCR)
    • Cirurgia se o rastreio não for viável/mutações confirmadas/quando adenoma avançado/CCR encontrado

Síndrome de Peutz-Jeghers

  • Doença autossómica dominante
  • Mutação STK11
  • Desenvolvimento de hamartomas do intestino delgado e grosso
  • Associado a hiperpigmentação da boca, mãos e pés
  • Risco de desenvolver CCR: 40%
  • Malignidades:
    • Doenças malignas gastrointestinais (GI) (estômago, intestino delgado e cólon) desenvolvem-se em 40–60% dos casos.
    • Carcinoma da mama em 30–50% dos casos
    • Órgãos não intestinais (gónadas, pâncreas)

Diagnóstico Diferencial

  • DII: também apresenta alterações nos hábitos intestinais, dor abdominal e perda de peso, mas os achados da colonoscopia e as manifestações extraintestinais da DII ajudam a diferenciar esta doença do CCR. A calprotectina fecal é um exame altamente sensível para a inflamação intestinal que pode ser utilizado para distinguir a DII do CCR.
  • Hemorroidas: também apresentam hematoquézias e alterações nos hábitos intestinais. As hemorroidas podem causar dor retal e podem ser identificadas no exame físico ou anuscópico. Hematoquézias num doente com > 50 anos com hemorroidas necessita também de ser investigado para CCR.
  • Doença diverticular: a diverticulose é a presença de saliências em forma de saco no cólon. As complicações incluem hemorragia diverticular e diverticulite, que também se manifestam com hematoquézias e alterações nos hábitos intestinais. Os achados na colonoscopia diferenciam a doença diverticular do CCR.
  • Neoplasias do intestino delgado: também apresentam hematoquézias/melenas e sintomas obstrutivos. Para diferenciar estas neoplasias do CCR, pode ser necessária a realização de uma endoscopia digestiva alta e baixa.
  • Tumores neuroendócrinos: acometem o cólon direito na maioria dos casos. Estas lesões apresentam sintomas característicos do síndrome carcinóide (diarreia, rubor e sibilos).

Referências

  1. American Joint Committee on Cancer (AJCC) and Union for International Cancer Control (UICC). (2018). Colorectal cancer TNM staging. 8th edition.
  2. De Palma, F., D’Argenio, V., Pol, J., Kroemer, G., Chiara Maiuri, M., & Salvatore, F. (2019). The Molecular Hallmarks of the Serrated Pathway in Colorectal Cancer. Cancers (Basel) 11(7): 1017. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6678087/
  3. Eshghifar, N. Farrokhi, N., Naji, T. & Zali, M. (2017). Tumor suppressor genes in familial adenomatous polyposis. Gastroenterol Hepatol Bed Bench. 10(1): 3–13. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5346818/
  4. Frucht, H., Lucas, A. Goldberg, R. & Raby, B. & Savarese, D. (2020). Molecular genetics of colon cancer. UpToDate. Retrieved Nov 30, 2020, from https://www.uptodate.com/contents/molecular-genetics-of-colorectal-cancer?search=molecular%20genetics%20colon&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1. 
  5. Grady, W., Markowitz, S. (2015). The molecular pathogenesis of colorectal cancer and its potential application to colorectal cancer screening. Dig Dis Sci. 60(3): 762–772. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4779895/
  6. Heidt, D., Huang, E., Minter, R. & Doherty, G. (2010). Operative Management of Rectal Tumors. Current Procedures: Surgery. McGraw-Hill.
  7. Khattab, A., Monga, D. (2020). Turcot Syndrome. StatPearls. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK534782/
  8. Kumar V, Abbas A, Aster J, Robbins, S. Robbins & Cotran (Eds.). (2020). The gastrointestinal tract. Pathologic Basis of Disease (10th ed., 807-818). Elsevier, Inc.
  9. Kuipers, E., Grady, W., Lieberman, D. et al. (2015). Colorectal Cancer. Nat Rev Dis Primers. 2015(1): 15065. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4874655/
  10. Kwaan M.R., Stewart Sr D.B., & Dunn K (2019). Colon, rectum, and anus. In Brunicardi F, et al. (Eds), Schwartz’s Principles of Surgery, 11th ed. McGraw-Hill. 
  11. Macrae, F., Goldberg, R., Seres, D., & Savarese, D. (Eds.). (2020). Colorectal cancer: Epidemiology, risk factors and protective factors. UpToDate. Retrieved December 3, 2020, from https://www.uptodate.com/contents/colorectal-cancer-epidemiology-risk-factors-and-protective-factors?search=colorectal%20cancer%20epidemiology&source=search_result&selectedTitle=1~150&usage_type=default&display_rank=1
  12. Macrae, F., Lamont, T. & Grover, MD, S. (2020). Overview of colon polyps. UpToDate. Retrieved December 3, 2020, from https://www.uptodate.com/contents/overview-of-colon-polyps?search=overview%20of%20managememnt%20of%20colorectal%20cancer&source=search_result&selectedTitle=15~150&usage_type=default&display_rank=15
  13. Ursem C, & McQuaid K.R. (2021). Colorectal cancer. Papadakis M.A., & McPhee S.J., & Rabow M.W. (Eds.), Current Medical Diagnosis & Treatment 2021. McGraw-Hill.

Aprende mais com a Lecturio:

Complementa o teu estudo da faculdade com o companheiro de estudo tudo-em-um da Lecturio, através de métodos de ensino baseados em evidência.

Estuda onde quiseres

A Lecturio Medical complementa o teu estudo através de métodos de ensino baseados em evidência, vídeos de palestras, perguntas e muito mais – tudo combinado num só lugar e fácil de usar.

User Reviews

Details