Bronquiolite Aguda

A bronquiolite aguda é, principalmente, uma doença respiratória pediátrica causada pela inflamação dos bronquíolos em resposta a uma infeção viral. Esta doença é uma causa de hospitalização comum em crianças nos Estados Unidos, e a maioria dos casos é causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR). As crianças geralmente apresentam sintomas respiratórios superiores, tais como tosse e congestão nasal, e mais tarde desenvolvem sinais respiratórios inferiores, incluindo dispneia, pieira, crepitações e hipoxia, durante um período que pode durar até 10 dias. O diagnóstico é clínico e o tratamento é dirigido para a melhoria da oxigenação e da hidratação. Como o curso da doença é auto-limitado, a bronquiolite aguda tem bom prognóstico com o tratamento apropriado.

Última atualização: Feb 1, 2023

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Definição

A bronquiolite aguda é uma constelação clínica de sintomas respiratórios (aumento do esforço respiratório, pieira e crepitações) causados pela inflamação aguda das pequenas vias aéreas (pequenos brônquios e bronquíolos), tipicamente secundária a infeções virais.

Epidemiologia

  • Estatísticas demográficas:
    • Pico de incidência entre os 2 e os 6 meses de idade
    • Principal causa de hospitalização de bebés nos Estados Unidos
  • Sazonalidade (vírus sincicial respiratório (VSR)): outono e inverno
  • Fatores de risco para doença grave:
    • Fatores individuais:
      • Prematuridade (parto < 32-34 semanas de gestação)
      • < 12 semanas de idade
      • Baixo peso ao nascer (< 2,5 kg)
      • Imunodeficiência
      • Cardiopatia congénita
      • Fibrose quística
      • Displasia broncopulmonar (DBP)
    • Fatores ambientais:
      • Sobrelotação (creche ou casa)
      • Inalação passiva de fumo de tabaco
      • Contacto com irmãos em idade escolar
      • Baixo nível socioeconómico
      • Não amamentado
Comportamento sazonal da bronquiolite

Distribuição anual (%) de agentes patogénicos que causam bronquiolite. A “época da bronquiolite” começa por volta de outubro e termina por volta de maio no Hemisfério Norte.

Imagem por Lecturio.

Etiologia

  • Infeção viral:
    • VSR: ⅓ dos casos
    • Rinovírus
    • Menos comum:
      • Vírus Parainfluenza
      • Metapneumovírus humano
      • Vírus Influenza
      • Adenovírus
      • Mycoplasma pneumoniae
      • Pertussis
Causas da bronquiolite

Variações sazonais do número de casos que podem ser atribuídos ao vírus sincicial respiratório (VSR): No seu auge, o VSR é responsável por cerca de ⅓ das bronquiolites.

Imagem por Lecturio.

Fisiopatologia e Apresentação Clínica

Fisiopatologia

As alterações patológicas são observadas dentro de um período de 24 horas após o contacto com um agente patogénico:

  • O vírus entra nas células epiteliais dos bronquíolos terminais.
  • A inoculação causa inflamação → edema, secreção de muco e ulceração do epitélio
  • Ulceração e edema → constrição e obstrução das pequenas vias aéreas
  • A constrição resulta no aparecimento de atelectasias e sintomas.

Apresentação clínica

Os sintomas localizam-se num espectro baseado na gravidade da doença:

  • 1-3 dias iniciais (sintomas do trato respiratório superior):
    • Tosse
    • Congestão nasal
    • Rinorreia
  • Pico nos dias 3-5, com duração até 10 dias (sintomas das vias respiratórias inferiores):
    • Sibilos e crepitações difusas na auscultação pulmonar
    • Febre
    • Dispneia
  • Casos graves:
    • Apneia em bebés, especialmente durante o sono
    • Falência respiratória:
      • Taquipneia
      • Cianose
      • Adejo nasal
      • Grunhidos
      • Tiragem intercostal
      • Hipoxia com saturação < 92%

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Diagnóstico e Tratamento

Diagnóstico

  • Diagnóstico baseado na suspeita clínica:
    • Sintomas respiratórios baixos característicos
    • Pacientes < 2 anos
    • Apresentação durante o outono e o inverno
  • Investigação mais avançada:
    • Febre alta
    • Apresentação grave
    • História de comorbilidades
  • Exames de diagnóstico de qualquer tipo são desaconselhados, pois não oferecem nenhum valor terapêutico adicional.
  • Investigação em casos graves para avaliar comorbilidades ou sobreinfeção:
    • Hemograma completo: leucocitose
    • Raio-X de tórax: hiperinsuflação com atelectasia
    • Teste de VSR no aspiado

Tratamento

O tratamento depende da gravidade:

  • Casos de gravidade ligeira a moderada → de suporte:
    • Educação dos cuidadores sobre o posicionamento vertical durante o sono e a alimentação
    • Utilização de nebulizador humificado e antipirético
    • Aspiração de secreções orais e nasais com aspirador
    • Manter hidratação e alimentação
    • Acompanhamento se a criança piorar
  • Grave (< 28 dias de idade, apneia, dificuldade respiratória, letargia):
    • Admissão para internamento hospitalar
    • Oxigénio humidificado e soro hipertónico nebulizado
    • Aspiração de secreções
    • Hidratação IV
    • Não há evidência que suporte o uso de albuterol, de epinefrina ou de corticosteroides
  • Complicações, tais como pneumonia e insuficiência respiratória, podem ocorrer e devem ser tratadas em conformidade.

Prevenção e Prognóstico

Prevenção

  • Encorajar o aleitamento materno.
  • Parar a exposição passiva a fumo de tabaco.
  • Higiene das mãos
  • Palivizumab (anticorpo monoclonal) em doentes de alto risco:
    • Cumprindo os critérios da American Academy of Pediatrics (AAP) para doença pulmonar crónica neonatal:
      • Parto com < 32 semanas de gestação
      • Necessidade de oxigénio suplementar durante os primeiros 28 dias de vida
    • > 1 ano de idade no início da época de VSR OU > 2 anos de idade mas com necessidade de medicação para a doença pulmonar crónica neonatal

Prognóstico

  • A bronquiolite é auto-limitada e dura 7-10 dias.
  • Apenas 3% das crianças necessitam de internamento e recuperam completamente dentro de 28 dias.

Diagnóstico Diferencial

  • Asma: doença inflamatória das vias aéreas que leva ao estreitamento do lúmen brônquico e, portanto, à obstrução do fluxo aéreo. Caracterizado por tosse, sibilos e dispneia. A asma geralmente é diagnosticada após os 2 anos de idade e tem fatores desencadeadores conhecidos, com reversibilidade dos sintomas com o uso de broncodilatadores em todos os casos, diferenciando esta doença da bronquiolite.
  • Pneumonia: infeção do trato respiratório inferior que resulta em sintomas muito semelhantes aos da bronquiolite em lactentes. Os pacientes com bronquiolite podem desenvolver pneumonia atípica devido a sobreinfeção bacteriana ou ao agravamento de infeções virais. Nestes casos, é normal que os achados da radiografia do tórax sejam mais tardios em relação à apresentação clínica, pelo que o diagnóstico é feito quando o paciente mantém hipoxia mesmo aumento do aporte de oxigénio suplementar, consolidações na auscultação pulmonar e aumento do esforço respiratório.
  • Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): o refluxo ácido no esófago na primeira-infância e na infância pode apresentar-se com tosse intermitente e sibilância. Pode também ser acompanhado por uma falta de ganho de peso e irritabilidade aumentada. A doença do refluxo gastroesofágico pode ser diferenciada da bronquiolite se os sintomas estiverem relacionados com a rotina alimentar e não com a sazonalidade. A bronquiolite geralmente apresenta-se com uma história de sintomas respiratórios superiores antes da sibilância.

Referências

  1. Teshome, Getachew, M.D., M.P.H., Gattu, R., M.D., & Brown, R., M.D. (2013). Acute bronchiolitis. Pediatric Clinics of North America, 60(5), 1019-1034. doi://dx.doi.org/10.1016/j.pcl.2013.06.005
  2. Kliegman, R. M. et al. (2020). Wheezing, bronchiolitis, and bronchitis. In R. M. Kliegman MD et al., Nelson textbook of pediatrics (pp. 221–2221.e1). https://www.clinicalkey.es/#!/content/3-s2.0-B9780323529501004181
  3. Justice NA, Le JK. Bronchiolitis. (2020). Treasure Island (FL): StatPearls Publishing. https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK441959/

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