Baço: Anatomia

O baço é o maior órgão linfoide do corpo, localizado no QSE do abdómen, superior ao rim esquerdo e posterior ao estômago, ao nível da 9ª a 11ª costelas, logo abaixo do diafragma. O baço é altamente vascularizado e atua como um filtro importante do sangue, limpando o sangue de agentes patogénicos e eritrócitos senescentes. O baço também pode ativar respostas imunes, produzir anticorpos e funcionar como um reservatório para armazenamento de plaquetas. Existem 2 tipos primários de tecido esplénico: a polpa vermelha, que contém redes fibrovasculares densas para filtrar o sangue, e a polpa branca, composta principalmente por tecido linfoide que envolve os vasos maiores. O baço tem uma cápsula relativamente frágil; assim, pode romper-se mais facilmente do que outros órgãos abdominais e levar a hemorragia com risco de vida.

Última atualização: Jan 11, 2024

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Desenvolvimento

O baço é o maior órgão linfático do corpo.

Embriologia

  • O desenvolvimento do baço começa durante a 5ª semana de desenvolvimento.
  • Origina-se da mesoderme embrionária (e não da endoderme como o tubo intestinal primitivo)
  • Formam-se vários brotos mesenquimais no mesogástrio dorsal → fundem-se para formar o baço
  • O baço fetal tem lóbulos que regridem gradualmente à medida que o órgão amadurece → formação do baço adulto, que é dividido em lóbulos funcionais
  • O baço fetal atua apenas como órgão hematopoiético até o 8º mês de gestação.

Variações congénitas

  • Asplenia congénita: ausência congénita de um baço
  • Hipoesplenismo congénito: presença congénita de um baço pequeno e patológico
  • Poliesplenia: ocorrência de múltiplos baços menores de tamanho semelhante (varia de 2 a 16)
  • Baços acessórios (baçossupranumerários):
    • Ocorrência congénita de um baço primário com 1 ou mais baços menores
    • Resultam da fusão incompleta de brotos mesenquimais durante o desenvolvimento
    • Detetado incidentalmente em 10%–30% da população
    • Quando presentes, os indivíduos geralmente apresentam 1 a 6 baços acessórios.
    • Tendem a ser do tamanho de cerejas
    • Encontrados no hilo esplénico em 75% dos casos
  • Lobulação esplénica: persistência de lóbulos embrionários no adulto
  • Baço errante:
    • Condição rara em que o baço muda de posição no abdómen
    • Causado por malformação e elasticidade excessiva dos ligamentos esplénicos que fixam o baço no abdómen superior
  • Fusão esplenopancreática:
    • Fusão do baço com a cauda do pâncreas
    • Geralmente associada à trissomia 13

Anatomia Geral

Localização

  • QSE do abdómen sob a cúpula esquerda do diafragma
  • Em contacto com a 9ª, 10ª e 11ª costelas. O eixo longo do baço corresponde ao eixo da 10ª costela esquerda.
  • Posicionado obliquamente de posterior/superior (polo posterior) para anterior/inferior (polo anterior)
  • O baço é um órgão intraperitoneal:
    • Coberto por peritoneu visceral
    • Suspenso por pregas mesentéricas de peritoneu
    • Apenas o hilo do baço, local por onde passam a artéria e a veia esplénicas, não está coberto pelo peritoneu.

Relações anatómicas

  • Anterior ao baço: estômago
  • Lateral ao baço:
    • Diafragma
    • Costelas e músculos intercostais
  • Medial ao baço:
    • Rim esquerdo e glândula suprarrenal
    • Cauda do pâncreas
  • Posterior ao baço:
    • Diafragma
    • Pulmão esquerdo
    • 9ª a 11ª costelas e músculos intercostais
  • Inferior ao baço: flexura cólica esquerda

Tamanho

Medições médias em adultos saudáveis normais:

  • Comprimento: aproximadamente 10-12 cm
  • Largura (na sua porção mais larga): 7–14 cm
  • Circunferência: 11 cm
  • Peso: 150-200 gramas

Ligamentos

O baço está conectado aos órgãos adjacentes através de vários ligamentos importantes.

  • Ligamento gastroesplénico: conecta o baço à curvatura maior do estômago
  • Ligamento esplenorrenal:
    • Posterior ao hilo esplénico
    • Conecta o baço ao rim esquerdo
    • Contém:
      • Vasos esplénicos
      • Cauda do pâncreas
  • Ligamento esplenocólico: liga o baço ao cólon transverso
  • Ligamento frenicocólico:
    • Dobra dupla de peritoneu que atua como um mesentério que conecta o diafragma e o baço
    • Parte do grande omento

Anatomia da superfície

  • Hilo:
    • Ponto onde os vasos esplénicos (artérias, veias e linfáticos) entram no baço
    • Localizado no meio da superfície medial
  • Impressões: reentrâncias no baço medial adjacentes a outros órgãos
    • Impressão gástrica:
      • Face posterior e superior do baço
      • Em contacto com o estômago
    • Impressão cólica:
      • Aspeto anterior e superior do baço
      • Em contacto com o cólon transverso
    • Impressão renal:
      • Aspeto inferior do baço
      • Em contacto com o rim esquerdo
Anatomia macroscópica do baço

Anatomia macroscópica do baço

Imagem por Lecturio.

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Anatomia Microscópica

O baço consiste numa cápsula e tecido interno conhecido como parênquima. O parênquima consiste em 2 tipos de tecidos, a polpa branca e a polpa vermelha.

Cápsula

  • Cápsula fibroelástica que envolve o baço.
  • Relativamente frágil:
    • Permite um aumento de tamanho quando necessário
    • Maior risco de ruturas em comparação com outros órgãos
  • Septos numerosos (trabéculas) estendem-se da cápsula ao parênquima do baço → dividem o baço em lóbulos funcionais

Parênquima: polpa branca

A polpa branca compõe 25% do baço, envolve as arteríolas maiores no baço e contém:

  • Uma arteríola central
  • Bainha linfoide periarteriolar (PALS, pela sigla em inglês):
    • Congregações de tecido linfoide em redor das arteríolas centrais
    • Composta principalmente por células T
    • A PALS distingue o baço de outros órgãos linfáticos.
  • Folículos linfoides:
    • Nódulos de tecido linfoide perto das arteríolas centrais
    • Principalmente composto por células B (produção de anticorpos)
  • Zona marginal:
    • Localizada nas bordas da polpa branca
    • Contém células apresentadoras de antigénios: macrófagos e células dendríticas
    • O sangue a ser filtrado sai da vasculatura na polpa branca → percorre a zona marginal até a polpa vermelha (sendo “limpo” pelos macrófagos ao longo do caminho)

Parênquima: polpa vermelha

A polpa vermelha compõe 75% do baço e está presente entre a polpa branca, em redor dos vasos maiores.

  • Consiste em:
    • Faixas de tecido conjuntivo conhecidas como cordões esplénicos (cordões de Billroth)
    • Rede reticular de capilares e seios venosos
  • A polpa branca transita para a polpa vermelha à medida que as arteríolas trabeculares se ramificam na rede de capilares e sinusoides venosos.
  • Sinusoides venosos:
    • Revestidos por macrófagos reticuloendoteliais
    • Os cordões esplénicos ajudam a definir a estrutura.
    • O sangue flui através dos sinusoides venosos → “limpo” de componentes estranhos e defeituosos pelos macrófagos
    • Diâmetro muito pequeno:
      • Baixa taxa de fluxo
      • ↑ Contacto com macrófagos
      • A estrutura está otimizada para a fagocitose.

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Neurovasculatura

Fornecimento de sangue

  • O baço é um órgão altamente vascularizado.
  • Suprimento arterial: via artéria esplénica
    • Surge do tronco celíaco
    • Corre lateralmente ao longo do aspeto superior do pâncreas dentro do ligamento esplenorrenal
    • Ao entrar no baço ramifica-se em vários vasos menores chamados artérias trabeculares
    • Cada vaso supre um segmento diferente do baço:
      • Os vasos não se anastomosam entre si.
      • Permite a remoção cirúrgica fácil de 1 ou mais segmentos esplénicos
  • Drenagem venosa: via veia esplénica
    • Os sinusoides na polpa vermelha drenam para veias coletoras → veia esplénica
    • Veia esplénica:
      • Corre ao longo da face posterior do pâncreas
      • Combina-se com a veia mesentérica superior (VMS) para formar a veia porta hepática

Padrões de fluxo sanguíneo

Cerca de 10% do sangue fica dentro dos vasos, enquanto aproximadamente 90% é filtrado para o tecido esplénico. O sangue flui para, através e para fora do baço da seguinte forma:

  • Aorta → tronco celíaco → artéria esplénica → artérias trabeculares → artérias esplénicas centrais→
  • O sangue é filtrado para fora dos vasos →
  • Viaja através do tecido linfoide na polpa branca (ativa as respostas imunes) →
  • Viaja através dos cordões esplénicos/sinusoides venosos na polpa vermelha (o sangue é filtrado por macrófagos) →
  • Sinusoides venosos → veias coletoras → veia esplénica → veia porta hepática

Vasos linfáticos

  • O baço atua como um grande gânglio.
  • Os linfócitos produzidos no baço saem pelos vasos linfáticos eferentes → gânglios esplénicos

Inervação

A inervação do baço ocorre através do SNA.

  • Simpático: plexo celíaco
  • Parassimpático: nervo vago

Funções

O baço é o maior órgão linfoide secundário do corpo. As funções do baço são principalmente imunológicas e hematológicas. A vida sem baço é possível porque não é um órgão vital.

Funções imunológicas

  • Deteção de antigénios estranhos no sangue
  • Ativação de respostas imunes
  • Produção de anticorpos
  • Fagocitose (O baço é o compartimento fagocitário mais eficaz do corpo.)

Funções hematológicas

  • Limpa o sangue de hemácias senescentes
  • Compartimento de armazenamento de plaquetas
  • Hematopoiese:
    • No feto
    • Em casos de anemia extrema em adultos
  • Pode compensar a hipovolemia transferindo o plasma do sangue para o sistema linfático

Relevância Clínica

  • Esplenomegalia: aumento patológico do baço. As causas incluem infeções, distúrbios mieloproliferativos, hemoglobinopatias caracterizadas por hemólise extravascular crónica, processos infiltrativos (e.g., sarcoidose, neoplasias) e distúrbios congestivos (e.g., hipertensão portal, trombose da veia esplénica). Os sintomas mais comuns são desconforto ou dor abdominal, aumento da circunferência abdominal e saciedade precoce devido à compressão do estômago. A anemia e a trombocitopenia estão frequentemente presentes.
  • Rutura do baço: emergência médica que acarreta um risco significativo de choque hipovolémico e morte. A causa mais comum é o trauma abdominal fechado (e.g., acidentes automobilísticos). No entanto, para indivíduos com esplenomegalia, mesmo o trauma mínimo pode resultar numa rutura esplénica. Os indivíduos afetados geralmente apresentam dor abdominal no QSE, embora a dor possa ser referida ao ombro esquerdo. O tratamento depende da estabilidade hemodinâmica e vai desde a observação até a esplenectomia.
  • Asplenia: ausência de tecido ou função esplénica. Há uma distinção entre a asplenia anatómica, que se deve à remoção cirúrgica do baço, e a asplenia funcional, que se deve a condições que levam à atrofia esplénica, tais como enfartes, congestão ou doença infiltrativa. Os indivíduos apresentam alto risco de sépsis causada por bactérias encapsuladas, exigindo um esquema de vacinação rigoroso e tratamento antibiótico precoce se suspeita de infeção. Os eventos tromboembólicos são comuns.
  • Hiperesplenismo: aumento do funcionamento do baço que ocorre com ou sem aumento do órgão. O sequestro de elementos sanguíneos leva à congestão, enquanto a ativação do sistema reticuloendotelial leva à trombocitopenia e anemia. O hiperesplenismo associa-se a um risco aumentado de rutura esplénica. Os indivíduos podem apresentar esplenomegalia, pancitopenia e hiperplasia compensatória da medula óssea.
  • Esplenose: condição adquirida caracterizada pela auto-implantação de 1 ou mais depósitos de tecido esplénico em vários compartimentos do corpo, ocorrendo tipicamente após trauma abdominal ou cirurgia. São encontrados múltiplos focos esplénicos ectópicos, que são tipicamente pequenos, sésseis (crescem nas superfícies peritoneais) e às vezes funcionais. Os sintomas dependem da localização dos implantes. Os indivíduos afetados geralmente são assintomáticos e a condição é encontrada incidentalmente no seguimento de observação para outras alterações.
  • Abcesso esplénico: infeção rara associada a alta mortalidade se não tratada adequadamente. A etiologia geralmente deve-se à disseminação da infeção de diferentes locais e é frequentemente associada à endocardite. Os sintomas incluem dor abdominal, dor torácica pleurítica esquerda ou dor no ombro (devido à irritação do diafragma), febre e mal-estar. O tratamento inclui antibioterapia, drenagem percutânea e excisão cirúrgica.

Referências

  1. Chaudhry, S. (2021). Anatomy, abdomen and pelvis, spleen. StatPearls. Retrieved September 14, 2021, from https://www.statpearls.com/articlelibrary/viewarticle/29374/ 
  2. Bajwa, S. (2021). Anatomy, abdomen and pelvis, accessory spleen. StatPearls. Retrieved September 2021 from https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK519040/ 
  3. Bona, R. (2021). Evaluation of splenomegaly and other splenic disorders in adults. UpToDate. Retrieved September 14, 2021, from https://www.uptodate.com/contents/evaluation-of-splenomegaly-and-other-splenic-disorders-in-adults 
  4. Vancauwenberghe, T., et al. (2015). Imaging of the spleen: what the clinician needs to know. Singapore Medical Journal. 56 (3), 133–144. https://doi.org/10.11622/smedj.2015040
  5. Fremont, R.D., Rice, T.W. (2007). Splenosis: a review. South Medical Journal. 100 (6), 589–593. https://doi.org/10.1097/SMJ.0b013e318038d1f8
  6. Losanoff, J. (2020). Splenic abscess. Medscape. Retrieved September 1, 2021, from https://reference.medscape.com/article/194655-overview
  7. Vaishali, K., Wehrle, C.J., Tuma, F. (2021). Physiology, Spleen. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30725992/
  8. Varga, I., Babala, J., Kachlik, D. (2018). Anatomic variations of the spleen: current state of terminology, classification, and embryological background. Surgical and Radiologic Anatomy. 40 (1), 21–29. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28631052/

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