Via das Pentoses Fosfato

A via das pentoses fosfato (também conhecida como hexose monofosfato (HMP) shunt)) é um importante processo fisiológico que pode ocorrer em 2 fases: oxidativa e não oxidativa. A fase oxidativa utiliza glicose-6-fosfato para produzir nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADPH) e ribulose-5-fosfato (que pode ser convertida em ribose-5-fosfato). A fase não oxidativa é uma coleção de várias reações reversíveis nas quais os intermediários estão conectados a várias outras vias, incluindo síntese de nucleotídeos, síntese de aminoácidos aromáticos e glicólise.

Última atualização: Apr 17, 2025

Responsibilidade editorial: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Definição e Função

Definição

A via das pentoses fosfato origina, através de várias reações, moléculas de fosfato de dinucleotídeo de nicotinamida e adenina (NADPH, pela sigla em inglês) e ribose-5-fosfato. Esta via ocorre paralelamente à glicólise.

Localização

A via das pentoses fosfato ocorre no citoplasma das células.

Função

A via das pentoses fosfato origina intermediários, que são utilizados para variados fins:

  • NADPH:
    • Reduz a glutationa (evita os danos oxidativos)
    • Participa na biossíntese de ácidos gordos e colesterol
  • Ribose-5-fosfato: precursor importante para a biossíntese de nucleotídeos
  • Eritrose-4-fosfato: utilizado para o metabolismo de aminoácidos aromáticos
  • Os outros metabólitos podem ser usados para:
    • Glicólise
    • Gliconeogénese

Fases Oxidativa e não Oxidativa

A via das pentoses fostato é dividida em 2 fases principais:

  • Fase oxidativa (irreversível)
  • Fase não oxidativa (reversível)

Fase oxidativa

A fase oxidativa consiste numa fase irreversível composta por 3 etapas.

Substratos iniciais:

  • Glicose-6-fosfato
  • 2 moléculas de NADP +
  • H₂O

Reações:

  1. Desidrogenação do átomo C1 da glicose-6-fosfato → 6-fosfogluconolactona
    • Reação catalisada pela enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD)
    • Etapa limitante
    • A molécula de NADP+ é reduzida → NADPH
  2. A 6-Fosfogluconolactonase hidrolisa a 6-fosfogluconolactona → 6-fosfogluconato
  3. Descarboxilação oxidativa da 6-fosfogluconato pela 6-fosfogluconato desidrogenase → ribulose-5-fosfato:
    • A molécula de NADP+ é reduzida → NADPH
    • Ocorre a produção de CO2.

Produtos finais:

  • 2 moléculas de NADPH
  • 1 molécula de CO2
  • Ribulose-5-fosfato
Fase oxidativa da via das pentoses fosfato

Na fase oxidativa ocorre a conversão da glicose-6-fosfato (1) em ribulose-5-fosfato (4), dando origem a 2 moléculas de NADPH.
NADPH: Fosfato dinucleotídeo de nicotinamida e adenina

Imagem: “Ox Pentose phosphate pathway” por Yikrazuul. Licença: Domínio Público

Fase não oxidativa

A fase não oxidativa é reversível e utiliza as isomerases para formar os intermediários dos açúcares, que são utilizados na glicólise e na biossíntese de nucleotídeos.

  1. Ribulose-5-fosfato ⇆ convertida em:
    • Xilulose-5-fosfato (pela ribulose-5-fosfato epimerase) ou
    • Ribose-5-fosfato (pela ribose-5-fosfato isomerase)
  2. Xilulose-5-fosfato + ribose-5-fosfato ⇆ gliceraldeído-3-fosfato + sedo-heptulose-7-fosfato
    • Catalisada pela enzima transcetolase
    • Para que a reação ocorra é necessária tiamina pirofosfato.
  3. A transaldolase é responsável por transferir um grupo aldeído da sedoheptulose-7-fosfato para o gliceraldeído-3-fosfato ⇆ eritrose-4-fosfato + frutose-6-fosfato
  4. Adicionalmente, ocorre a seguinte reação: eritrose-4-fosfato + xilulose-5-fosfato ⇆ frutose-6-fosfato + gliceraldeído-3-fosfato
    • Catalisada pela enzima transcetolase
    • Para que a reação ocorra é necessária tiamina pirofosfato.
    • Origina intermediários utilizados na glicólise e na gliconeogênese

Regulação da Via das Pentoses Fosfato

  • A etapa “chave” que regula a via das pentoses fosfato é a reação limitante da velocidade, que é catalisada pela G6PD:
    • Induzida por:
      • NADP +
      • Glicose-6-fosfato
    • Inibida por:
      • NADPH (mecanismo chave do feedback negativo)
      • Acetil coenzima A (CoA)
  • No entanto, é de denotar que existem possíveis vias alternativas:
    • Vários pontos de entrada e de saída
    • Vários intermediários possíveis
    • Reações reversíveis (sobretudo na fase não oxidativa)

Relevância Clínica

  • Deficiência da G6PD: forma de anemia hemolítica intravascular herdada de forma recessiva ligada ao X. A deficiência da G6PD resulta numa quantidade insuficiente de NADPH, sem a qual não ocorre a redução da glutationa ao nível dos eritrócitos. Desta forma, os eritrócitos não são protegidos contra o stress oxidativo, com consequentes lesões e hemólise.
  • Malária: doença parasitária infecciosa causada pelo género Plasmodium. A deficiência da G6PD pode, possivelmente, proteger os indivíduos contra a malária (os parasitas necessitam do NADPH).
  • Défice da transaldolase: patologia congénita, extremamente rara, que afeta o metabolismo e pode levar à hidropisia fetal, disfunção hepática, cardiopatia congénita e dismorfia facial. A confirmação do diagnóstico é feita através do teste genético. Não existe tratamento; no entanto, alguns doentes beneficiam do transplante hepático.
  • Glicólise: via metabólica central responsável pela degradação da glicose e que desempenha um papel importante na formação de energia livre para a célula e metabolitos para posterior degradação oxidativa. As moléculas de glicose-6-fosfato, frutose-6-fosfato e gliceraldeído-3-fosfato são utilizadas na glicólise e na via das pentoses fosfato.

Referências

  1. Ahn, E., Kumar, P., Mukha, D., Tzur, A., & Shlomi, T. (2023). Compartmentalized oxidative pentose phosphate pathway reshapes tumor metabolism. Nature Metabolism, 5(2), 250–265. https://doi.org/10.1038/s42255-023-00730-0
  2. Atamna, H., Brahmbhatt, M., Atamna, W., & Shanower, G. A. (2023). NADPH production by pentose phosphate pathway: Implications for energy metabolism in aging and neurodegeneration. GeroScience, 45(3), 1641–1659. https://doi.org/10.1007/s11357-022-00661-w
  3. Berg, J. M., Tymoczko, J. L., Gatto, G. J., & Stryer, L. (2023). Biochemistry (10th ed.). W.H. Freeman and Company.
  4. Bharadwaj, M. S., & Di Fulvio, M. (2024). Pentose phosphate pathway flux and NADPH biogenesis in immunity and metabolism. Frontiers in Immunology, 15, 1278432. https://doi.org/10.3389/fimmu.2024.1278432
  5. Cho, E. S., Cha, Y. H., Kim, H. S., Kim, N. H., & Yook, J. I. (2023). The pentose phosphate pathway in cancer progression. Frontiers in Oncology, 13, 1105428. https://doi.org/10.3389/fonc.2023.1105428
  6. Fan, J., Ye, J., Kamphorst, J. J., Shlomi, T., Thompson, C. B., & Rabinowitz, J. D. (2024). Quantitative flux analysis reveals folate-dependent NADPH production in cancer cells. Nature, 627(8001), 211–217. https://doi.org/10.1038/s41586-024-07187-5
  7. Feist, A. M., & Palsson, B. O. (2023). The growing scope of applications of genome-scale metabolic reconstructions: The case of pentose phosphate pathway. Current Opinion in Biotechnology, 79, 102857. https://doi.org/10.1016/j.copbio.2022.102857
  8. Ferrier, D. R. (2024). Lippincott illustrated reviews: Biochemistry (8th ed.). Wolters Kluwer.
  9. Gomez-Pastor, R., & Murguía, J. R. (2023). The pentose phosphate pathway as a key player in cellular redox homeostasis and disease. Redox Biology, 63, 102757. https://doi.org/10.1016/j.redox.2023.102757
  10. Huang, S., Wang, Z., & Zhou, J. (2023). G6PD deficiency: From genetic variants to clinical management. Journal of Clinical Medicine, 12(9), 3247. https://doi.org/10.3390/jcm12093247
  11. Liang, Y., Zhang, H., Song, X., & Yang, Q. (2024). Metabolic reprogramming in the pentose phosphate pathway: Implications for cancer therapy. Molecular Cancer, 23(1), 16. https://doi.org/10.1186/s12943-024-01899-y
  12. Nelson, D. L., & Cox, M. M. (2022). Lehninger principles of biochemistry (8th ed.). W.H. Freeman and Company.
  13. Piao, C., Zhang, C., & Li, Y. (2023). The role of pentose phosphate pathway in glutathione metabolism and oxidative stress. Antioxidants, 12(3), 640. https://doi.org/10.3390/antiox12030640
  14. Rodríguez-Gallego, E., Riera-Borrull, M., & Hernández-Aguilera, A. (2023). Transaldolase deficiency: A comprehensive review of a rare metabolic disorder. Orphanet Journal of Rare Diseases, 18(1), 123. https://doi.org/10.1186/s13023-023-02732-3
  15. Stincone, A., Prigione, A., Cramer, T., Wamelink, M. M., Campbell, K., Cheung, E., & Rabinowitz, J. D. (2023). The pentose phosphate pathway: An historical perspective and critical analysis. The Biochemical Journal, 480(9), 715–735. https://doi.org/10.1042/BCJ20220562
  16. Thorburn, D. R., & Rahman, S. (2023). Mitochondrial disorders overview. In M. P. Adam, H. H. Ardinger, & R. A. Pagon (Eds.), GeneReviews® [Internet]. University of Washington, Seattle.
  17. Voet, D., & Voet, J. G. (2023). Biochemistry (5th ed.). John Wiley & Sons Inc.
  18. Wang, Y., Chen, K., & Lu, W. (2024). Pentose phosphate pathway and cancer: Orchestration of cellular redox homeostasis and beyond. Signal Transduction and Targeted Therapy, 9(1), 12. https://doi.org/10.1038/s41392-023-01580-8
  19. Wu, S., Ye, H., Wei, L., & Tang, L. (2023). Therapeutic strategies targeting the pentose phosphate pathway in neurodegenerative diseases. Frontiers in Aging Neuroscience, 15, 1135316. https://doi.org/10.3389/fnagi.2023.1135316
  20. Yang, H. C., Yu, H., Liu, Y. C., Chen, T. L., Stern, A., & Chiu, D. T. (2024). G6PD deficiency and malaria: Molecular mechanisms and therapeutic implications. Frontiers in Cellular and Infection Microbiology, 13, 1249433. https://doi.org/10.3389/fcimb.2023.1249433

Aprende mais com a Lecturio:

Complementa o teu estudo da faculdade com o companheiro de estudo tudo-em-um da Lecturio, através de métodos de ensino baseados em evidência.

Estuda onde quiseres

A Lecturio Medical complementa o teu estudo através de métodos de ensino baseados em evidência, vídeos de palestras, perguntas e muito mais – tudo combinado num só lugar e fácil de usar.

User Reviews

Details