Obstrução do Trato Urinário

A obstrução do trato urinário refere-se ao bloqueio do trato urinário podendo ocorrer em qualquer parte do seu trajeto. A obstrução do trato urinário pode ser aguda ou crónica, parcial ou completa e unilateral ou bilateral. A obstrução do trato urinário pode provocar lesão renal aguda ou doença renal crónica. A etiologia de uma obstrução do trato urinário pode ser congénita, adquirida e/ou funcional. Além disso, a causa pode ser intrínseca (por exemplo, cálculos renais, cascinoma de células de transição, coágulos sanguíneos) ou extrínseca (por exemplo, miomas uterinos). A apresentação clínica depende da localização, grau e da velocidade de instalação da obstrução. Os sinais e sintomas podem incluir dor, alteração no débito urinário, hipertensão, hematúria e aumento da creatinina sérica. O diagnóstico é obtido por exames de imagem, sendo o exame inicial a ecografia. O principal objetivo do tratamento é aliviar a causa da obstrução seja através de um tubo de nefrostomia, um stent ureteral ou por cateterização. O prognóstico da função renal após o alívio da obstrução do trato urinário depende da gravidade e da duração da obstrução.

Last updated: Dec 15, 2025

Editorial responsibility: Stanley Oiseth, Lindsay Jones, Evelin Maza

Descrição Geral

Epidemiologia

Etiologia

A etiologia pode ser congénita, adquirida ou funcional. A obstrução do trato urinário pode ocorrer em qualquer local ao longo do trajeto do trato urinário:

  • A obstrução que ocorre no rim provoca dilatação de determinados cálices afetados ou caliectasia.
  • A obstrução que ocorre na pélvis renal ou distalmente à mesma, provoca caliectasias difusas, ou hidronefrose.
Tabela: Etiologias da obstrução do trato urinário
Renal Supravesical Infravesical Uretra
Congénito
  • Doença renal poliquística
  • Quisto peripélvico
  • Estreitamento ou obstrução da junção pielouretral
  • Refluxo vesicoureteral
  • Ureterocelo
  • Ureter retrocava
  • Obstrução do colo vesical
  • Ureterocelo
  • Válvulas da uretra posterior
  • Válvulas uretrais anteriores
  • Estreitamento
  • Fimose
  • Estenose do meato
Alterações intrínsecas adquiridas
  • Cálculos
  • Inflamação
  • Infeção
  • Traumatismo
  • Papilas descamadas
  • Tumor Tumor Inflammation
  • Coágulos sanguíneos
  • Hiperplasia benigna da próstata
  • Carcinoma da próstata ou bexiga
  • Cálculos
  • Nefropatia diabética
  • Doenças da medula espinhal
Alterações extrínsecas adquiridas
  • Cancro do colo do útero
  • Neoplasia do cólon
Traumatismo
Defeitos funcionais
  • Bexiga neurogénica
  • Fármacos anticolinérgicos
  • Agonistas α-adrenérgicos
  • Nefropatia diabética
  • Dissinergia detrusor-esfincteriana
  • Disfunção miccional
  • Pseudodissinergia esfincteriana externa
  • Esclerose múltipla
  • Doença de Parkinson

Fisiopatologia

  • A obstrução induz apoptose das células tubulares renais: as células glomerulares são resistentes à apoptose relacionada com a obstrução.
  • A apoptose das células tubulares renais é mediada pelas caspases Caspases A family of intracellular cysteine endopeptidases that play a role in regulating inflammation and apoptosis. They specifically cleave peptides at a cysteine amino acid that follows an aspartic acid residue. Caspases are activated by proteolytic cleavage of a precursor form to yield large and small subunits that form the enzyme. Since the cleavage site within precursors matches the specificity of caspases, sequential activation of precursors by activated caspases can occur. Cell Injury and Death (sintetizadas através da libertação de citocinas e em casos de respostas inflamatórias)
  • Os processos obstrutivos prolongados induzem fibrose tubulointersticial e inflamação: há acumulação de matriz extracelular e promoção de fibrose
  • Diurese pós-obstrutiva:
    • É um fenómeno fisiológico que ocorre após a resolução da obstrução bilateral
    • O débito urinário aumenta cerca de 3 – 10 vezes.
    • Possíveis mecanismos:
      • Comprometimento da reabsorção de sódio devido a lesões tubulares
      • Comprometimento da capacidade de concentração da urina
      • Diurese de solutos com excreção da ureia retida
      • Aumento do péptido natriurético atrial (ANP) sérico
Tabela: Efeitos da obstrução do trato urinário na filtração glomerular e no fluxo sanguíneo renal
Efeitos hemodinâmicos Efeitos tubulares
Obstrução aguda
  • ↑ Fluxo sanguíneo renal
  • ↓ TFG
  • ↓ Fluxo sanguíneo medular
  • ↑ Prostaglandinas vasodilatadoras e óxido nítrico
  • ↑ Pressão ureteral e tubular
  • ↑ Reabsorção de ureia, água e sódio
Obstrução crónica
  • ↓ Fluxo de sangue renal
  • ↓↓ TFG
  • ↑ Produção de renina-angiotensina
  • ↑ Prostaglandinas vasoconstritivas
  • ↓ Osmolaridade medular
  • ↓ Capacidade de concentração
  • ↓ Funções de transporte de sódio, potássio, hidrogénio
  • Lesões estruturais
  • Atrofia parenquimatosa
Resolução da obstrução ↑ lento da TFG, que é variável
  • Peptídeos natriuréticos estão presentes.
  • ↓ Pressão tubular
  • ↓ Carga de solutos por nefrónio (por exemplo, ureia, cloreto de sódio)

Apresentação Clínica

A apresentação clínica depende da localização, do grau e da velocidade de instalação da obstrução.

Os sintomas podem incluir:

  • Dor:
    • Frequentemente ausente
    • Se presente, é habitualmente devido à distensão vesical, secundária a infeção ou litíase obstrutiva/massa
    • Associado à rapidez com que a distensão se desenvolve
    • Afeta frequentemente a região suprapúbica ou flancos
  • Alterações no débito urinário:
    • Azotémia
    • Poliúria
    • Noctúria
  • Hipertensão arterial
  • Hematúria

Achados laboratoriais clássicos:

  • Aumento da creatinina sérica
  • Sumária de urina com eritrócitos ou glóbulos brancos
  • Acidose tubular renal hipercalémica:
    • Ocorre sobretudo em pacientes com obstrução crónica.
    • Provavelmente devido à resistência aos mineralocorticóides que prejudica a reabsorção distal do sódio

Diagnóstico

  • História clínica completa e exame objetivo:
    • Questionar sobre cirurgias GU prévias
    • Palpação do ângulo costovertebral para avaliar desconforto/dor
    • Exame físico abdominal avaliando dor/desconforto suprapúbico
  • Sumária de urina e urocultura:
    • Hematúria:
      • Franca
      • Microscópica com > 3 GV por campo de alta potência
    • Piúria: leucócitos na urina
    • Bacteriúria: pode revelar bactérias macroscópicas na amostra de urina
  • Estudo analítico: pode revelar ↑ creatinina
  • O gold standard são os exames de imagem:
    • O achado característico é a dilatação do sistema coletor num ou em ambos os rins.
    • A ecografia é o exame de imagem preferido:
      • Tem como vantagem não utilizar radiação ionizante
      • Económico
      • Identifica a hidronefrose, mas não é um teste de avaliação funcional
    • Tomografia Computorizada:
      • Fornece informação anatómica de melhor qualidade
      • Permite obter imagens contrastadas tanto em fase excretora como em fase nefrográfica
      • As fases excretoras permitem imagens de contraste retardado para identificação do nível da obstrução
      • Os riscos incluem: nefropatia de contraste e exposição à radiação ionizante.
    • Pode utilizar-se a cistouretrografia miccional para diagnóstico de refluxo vesicoureteral ou obstrução ao nível do colo vesical, ou ureter
Ultra-som de obstrução da bexiga fetal

Ecografia fetal demonstrando obstrução do trato urinário com o sinal clássico de fechadura (B: bexiga, U: uretra)

Imagem: “Ultrasound of fetal bladder obstruction” por St. David’s Women’s Center of Texas, Austin Maternal-Fetal Medicine, 12200 Renfert Way, G-3, Austin, Austin, TX 78758 USA. Licença: CC BY 4.0

Tratamento

Tratamento

O principal objetivo do tratamento é aliviar a causa da obstrução.

  • A obstrução do trato urinário complicada por infeção requer alívio imediato da mesma para prevenir sépsis e lesão renal.
  • A drenagem pode ser conseguida através de um tubo de nefrostomia, ureterostomia, colocação de stent ureteral ou cateterização da bexiga.
  • A descompressão do trato urinário deve ser combinada com o uso de antibioterapia para prevenir urosépsis relacionada com a obstrução.
  • A hiperplasia benigna da próstata pode ser tratada com bloqueadores α-adrenérgicos α ou com inibidores da 5α redutase. Quando associada a infeção grave e obstrução infravesical, está indicada a cateterização uretral.

Prognóstico

Após o alívio da obstrução:

  • O prognóstico renal depende da:
    • Presença de lesão renal irreversível
    • Gravidade e duração da obstrução
  • A maioria da recuperação funcional ocorre em 7 – 10 dias
  • Alguns pacientes com insuficiência renal grave podem necessitar de diálise.

Sem alívio da obstrução:

  • A evolução clínica depende se a obstrução é completa, parcial ou bilateral.
  • A obstrução completa complicada por infeção pode levar à completa destruição dos rins num prazo de dias.
  • 1-2 semanas após a obstrução completa pode observar-se recuperação parcial da função renal.
  • Após 8 semanas de obstrução completa, a recuperação é improvável.

Referências

  1. Dmochowski R. R. Bladder outlet obstruction: etiology and evaluation. Reviews in Urology. 2005; 7 (Supplement 6): S3–S13.
  2. Kumar V, Abbas AK, Aster JC. (2015). Robbins & Cotran Pathologic Basis of Disease. Philadelphia, PA: Elsevier Saunders; 2015.
  3. MedlinePlus. (2024). Hydronephrosis of one kidney. Retrieved March 25, 2025, from https://medlineplus.gov/ency/article/000506.htm
  4. Preminger GM. (2024). Urinary Tract Obstruction. Merck Manual Consumer Version. Retrieved March 25, 2025, from https://www.merckmanuals.com/home/kidney-and-urinary-tract-disorders/obstruction-of-the-urinary-tract/urinary-tract-obstruction 
  5. Seifter JL. (2018). Urinary tract obstruction. Jameson J, & Fauci AS, & Kasper DL, & Hauser SL, & Longo DL, & Loscalzo J (Eds.), Harrison’s Principles of Internal Medicine, 20e. McGraw-Hill. https://accessmedicine-mhmedical-com.aucmed.idm.oclc.org/content.aspx?bookid=2129&sectionid=192281753
  6. Zeidel, M. L., & O’Neill, W. C. (2025). Clinical manifestations and diagnosis of urinary tract obstruction (UTO) and hydronephrosis. UpToDate. Retrieved March 25, 2025, from https://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-of-urinary-tract-obstruction-and-hydronephrosis
  7. Gu, B., Reiter, J. P., Schwinn, D. A., Smith, M. P., Korstanje, C., Thor, K. B., & Dolber, P. C. (2004). Effects of alpha 1-adrenergic receptor subtype selective antagonists on lower urinary tract function in rats with bladder outlet obstruction. Journal of Urology, 172(2), 758-762. https://doi.org/10.1097/01.ju.0000131609.96301.e6 

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